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O modelo de gestão presidencial importa, e o estilo e a postura dos chefes do Poder Executivo são determinantes para a perspectiva de poder ou até mesmo para a conclusão do mandato.
Antônio Augusto de Queiroz*

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Presidentes da República pós-ditadura | Foto: Reprodução
A tabela a seguir sintetiza o modelo de gestão, o estilo de governar, o capital político e a postura dos 8 presidentes que governaram o Brasil nos últimos 38 anos.
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1Delegada: tendência a empoderar 1 ou mais ministros (superministros), com alto grau de desarticulação geral
e baixa coordenação executiva. Fonte: Queiroz (adaptado por Santos)
Vejamos o detalhamento da tabela para cada presidente, com uma contextualização mínima.
José Sarney – O modelo de gestão era delegado, porém com equipe que não era sua, já que foi herdada do presidente eleito, Tancredo Neves. Foi período de transição entre a ditadura e a democracia, que foi facilitada pelo perfil conciliador do presidente e postura pragmática na relação com Congresso que lhe era hostil. A despeito de terem reduzido 1 ano do mandato dele, seu capital político de negociador permitiu que a Constituinte transcorresse na normalidade, com a entrega da Constituição Cidadã, com a conclusão da gestão e, numa demonstração de civilidade, com a transmissão da faixa para seu sucessor, a pessoa que lhe fora mais hostil durante todo o mandato.
Fernando Collor – O modelo de gestão era hierarquizado, o que era compatível com o estilo centralizador do presidente, porém sua postura impulsiva e voluntarista, combinada com capital político carismático, tornava a gestão muito instável. Sem base parlamentar, pouco avançou em sua agenda modernizadora. Não deixou nenhum legado, salvo o discurso da modernização da economia.
Itamar Franco – Tal como Sarney, o modelo de gestão foi delegado, porém desarticulado. Seu estilo coordenador, entretanto, corrigiu parte da desarticulação. Como tinha a autoridade moral como capital político e adotava postura pragmática, foi eficaz em implementar as diretrizes de governo, que tiveram como base a estabilidade econômica e o Plano Real.
Fernando Henrique Cardoso – adotou modelo de gestão competitiva, na qual estimulava os ministros a serem criativos, mas agia como moderador, controlando eventuais disputa no interior do governo. Com autoridade moral de intelectual e postura pragmática, conseguiu aprovar importantes reformas no Congresso. A reeleição foi o elemento mais perturbador de da gestão, porém conseguiu deixar legado importante em termos de controle do gasto público.
Luiz Inácio Lula da Silva – fez gestão colegiada, dando liberdade aos ministros para formular e implementar a agenda governamental, e promoveu a coordenação do governo, calibrando as propostas da equipe e da sociedade, organizada em torno de conselhos, como CDES. Detentor de grande carisma, foi pragmático na relação com o Congresso e deixou grande legado em termos de redução da pobreza e combate à desigualdade, com a aprovação de várias políticas públicas de inclusão social. Em seu terceiro mandato já poderá deixar como legado a estabilidade institucional, após tentativa de golpe de Estado nos primeiros 8 dias do novo mandato.
Dilma Rousseff – fez gestão hierarquizada e centralizada, com perfil gerencial. Questionadora e com pouco diálogo, dedicou-se mais a tarefas burocráticas do que políticas. Seus governos deixaram como legados grandes investimentos em infraestrutura, em políticas sociais e em transparência e controle, com a aprovação e diversas leis nesse campo. Entretanto, por não saber ouvir e ter sido percebida como intervencionista na economia foi rejeitada pelo mercado, pelo Parlamento e por parcela da sociedade, que fez manifestações contra o governo (iniciadas nas jornadas de protestos de 2013), a ponto de o Congresso ter cassado o segundo mandato dela, sob o frágil argumento de ter praticado pedalada fiscal.
Michel Temer – fez gestão compartilhada e, graças ao estilo conciliador e capital político de negociador, superou 2 denúncias da Procuradoria da República. Sua postura pragmática, combinada com boa relação com o Congresso, fez com que conseguisse aprovar reformas consideradas impopulares, como o Teto de Gasto público, a Reforma Trabalhista e a Terceirização, além da Lei das Estatais, apesar de pouco tempo na Presidência.
Jair Bolsonaro – Mais até do que Sarney e Itamar, fez gestão delegada, porém completamente desarticulada. Seu capital político mobilizador e seu estilo confrontador, voltado para a luta política e persecução dos adversários, combinado com postura impulsiva e voluntarista, atiçou o ódio e impediu a formação de consenso no País. Populista de direita, foi essencialmente governo de contradições e conflitos, que tinha base social antissistema e base parlamentar formada pela chamada “velha política”, que era contestada por apoiadores fundamentalistas. Sua “gestão” ficará mais conhecida pelo “desmonte” do Estado e pela divisão da sociedade do que por realizações. Com discurso moralista, aos poucos, vai sendo desmontado pelos fatos que vêm sendo descobertos desde o final do governo envolvendo desperdício de recursos e até mesmo a apropriação de bens públicos.
Constata-se, com base nesta tabela e em sua descrição, que as características dos presidentes (modo de gerir, estilo de governar, o capital político e a postura) são determinantes não apenas para a perspectiva de poder, mas também para o cumprimento do mandato. Aqueles com postura pragmática (Sarney, Itamar, FHC, Lula e Michel Temer) concluíram seus mandatos e, quem disputou novo mandato, foi reeleito, enquanto os com estilo centralizador, concentrador e confrontador (Collor, Dilma e Bolsonaro) ou tiveram problemas em seus mandatos, inclusive com os 2 primeiros sendo cassados, ou não renovaram seus mandatos, como o último.
(*) Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo pela FGV. Ex-diretor de Documentação do Diap, é autor dos livros Por Dentro do Governo: como funciona a máquina pública e RIG em três dimensões: trabalho parlamentar, defesa de interesse perante os poderes públicos e análise política e de conjuntura, e sócio-diretor das empresas “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais” e “Diálogo Institucional Assessoria e Análise de Políticas Públicas”. Publicado originalmente na revista eletrônica Teoria&Debate
DIAP