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Grupo que estuda remuneração justa para entregadores por app termina neste sábado; entenda como ganham os motoboys

Grupo que estuda remuneração justa para entregadores por app termina neste sábado; entenda como ganham os motoboys

Rendimento médio dos trabalhadores varia de R$ 1.980 a R$ 3.039. Associações brigam para que ‘parceiros’ de aplicativos tenham remuneração mínima e garantias de segurança.

Por Artur Nicoceli, g1

O prazo do Grupo de Trabalho (GT) criado pelo governo federal para elaborar uma proposta de regulamentação no mercado de trabalho dos entregadores de delivery termina neste sábado (30).

Os entregadores de delivery vivem um debate há mais de três anos sobre como preferem ser remunerados. Parte do grupo de trabalhadores e as próprias plataformas prezam pela autonomia de trabalho — em que se escolhe quando, quanto e como trabalhar —, enquanto outros buscam o registro na carteira de trabalho.

O grupo estuda formas de regulamentar a atividade e enviará uma proposta para análise do ministro do Trabalho, Luiz Marinho. O GT pode ser prorrogado por mais 150 dias, mas ainda não há definição.

Segundo Edgar da Cunha, conhecido como “Gringo” e representante dos motoboys no GT, o foco dos profissionais é ter principalmente remuneração mínima e segurança. (entenda os pedidos mais abaixo)

g1 ouviu representantes da categoria e as plataformas para entender como os profissionais recebem o pagamento nos três maiores aplicativos de entrega: iFood, Rappi e Zé Delivery.

Uber Eats não atua mais no setor desde março de 2022. O James encerrou as operações após ser incorporado pelo Grupo Pão de Açúcar em novembro do ano passado.

Como são os pagamentos nos apps de entrega

  • iFood

O iFood tem dois modelos de remuneração. No primeiro, os entregadores são funcionários dos próprios restaurantes. Não há, portanto, pagamentos do aplicativo ao profissional. Segundo a empresa, esse modelo representa 61% de todas as vendas do app.

No segundo caso, chamado de “full service”, os entregadores recebem conforme a rota percorrida entre o restaurante e o cliente. De acordo com o iFood, cerca de 200 mil motoboys trabalham neste modelo.

Nesse esquema, há os seguintes critérios:

  • O valor mínimo pago por quilometragem percorrida aos motoristas é de R$ 1,50. Ou seja, em uma viagem de 10 quilômetros, o motoboy recebe no mínimo R$ 15.
  • Além disso, há um mínimo R$ 6,50 por entrega. Caso a soma da coleta, entrega e distância fique abaixo desse valor, o iFood paga o diferencial.
  • E quando a taxa de entrega é gratuita aos clientes, o aplicativo estípula qual seria o valor de acordo com os critérios acima e remunera o motoboy, sem cobrar do cliente.

“O iFood não retém ou cobra qualquer valor dos entregadores. O valor que aparece para o entregador ao aceitar a rota e as gorjetas recebidas são 100% repassadas”, informou a empresa em nota.

  • Rappi

A Rappi informa que o valor pago ao motoboy é calculado por um algoritmo próprio, que leva em consideração o dia da semana, hora, distância da rota e tipo do pedido feito ao motoboy. O valor é informado ao profissional que pode concordar ou não com a viagem.

Além disso, 100% do valor da gorjeta é repassado para o entregador, segundo a empresa. Quando a entrega é de graça, a empresa também estipula qual seria o valor da entrega e repassa ao motoboy.

Não há valor mínimo estipulado. O g1 perguntou à Rappi como é calculado o valor por quilometragem pago ao entregador, mas a companhia optou por não informar.

  • Zé Delivery

A plataforma de bebidas Zé Delivery, por sua vez, trabalha como intermediadora entre as lojas e os clientes. Ou seja, eles não fazem repasses aos entregadores pelo trabalho para a plataforma.

Dessa forma, o modelo de remuneração é definido por cada ponto de venda. A única regra que a empresa exige é que o ponto de venda de bebidas não esteja a mais de 5 quilômetros de distância do cliente final.

“Os entregadores que atuam junto aos pontos de venda parceiros do Zé Delivery percorrem, em média, menos de 3 km por entrega”, informou a empresa em nota.

Demandas dos entregadores do GT

  • Salário

Os motoboys que integram o Grupo de Trabalho gostariam que empresas pagassem uma tarifa mínima de R$ 35,76 por hora de trabalho. (entenda melhor abaixo)

  • Considere que o motoboy fez R$ 3.200 em um mês, mas gastou 100 horas de trabalho;
  • Pelo modelo de R$ 35,76 por hora, ele deveria ter recebido R$ 3.576;
  • O pedido é que os apps paguem a diferença entre R$ 3.576 e R$ 3.200, que é de: R$ 376.

No atual modelo de pagamento, o rendimento médio dos entregadores de aplicativo varia de R$ 1.980 a R$ 3.039. Os dados fazem parte da pesquisa do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e da Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), de abril.

“É triste ver que tanto trabalhador ganha mal, tem que trabalhar com excesso de carga horária, começa a correr para ganhar mais e acaba sofrendo um acidente”, diz Edgar da Cunha, o Gringo.

Uma pesquisa realizada pela Fairwork Brasil, que avalia a situação de prestadores de serviços de app, como motoboys e motoristas, mostra que mercado de plataformas digitais avançou pouco em condições de trabalho nos últimos anos.

Foram analisadas 10 empresas e atribuídas notas de 0 a 10. Segundo o estudo, o iFood e o Rappi não pontuaram nos critérios de avaliação de remuneração. O Zé Delivery não foi incluído na pesquisa.

Segundo o estudo, as plataformas só ganhariam um primeiro ponto na categoria se pudessem garantir que todos os trabalhadores ganhassem pelo menos o salário mínimo por hora trabalhada, considerando os custos do trabalho.

Para o segundo ponto, seria necessário chegar ao “salário mínimo ideal” do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de R$ 30,22 por hora, seguindo a referência de dezembro de 2022.

  • Custo operacional e questões de saúde

Outro ponto que os motociclistas buscam no GT são medidas voltada à saúde. Segundo Gringo, como os motoboys são obrigados a acelerar as entregas, estão mais sujeitos a acidentes. Um dos pedidos, no caso, é pela concessão de um plano de saúde.

“Quando caímos, não é acidente de trânsito. É acidente de trabalho”, diz.

O Ministério do Trabalho reconhece desde 2014 que os profissionais de entrega com carteira assinada fazem parte da categoria “profissão de risco” — precisam, então, de maior proteção para exercer as funções. Porém, a maioria dos motoboys é Microempreendedor Individual (MEI) e não entra na regra.

O estudo da Fairwork Brasil também deu pontos para empresas e promovessem condições de trabalho seguras. Nenhuma companhia pontuou.

G1

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/09/29/remuneracao-justa-para-entregadores-por-app-entenda-como-ganham-os-motoboys.ghtml

Grupo que estuda remuneração justa para entregadores por app termina neste sábado; entenda como ganham os motoboys

Desemprego cai a 7,8% no trimestre terminado em agosto, diz IBGE

Desocupação ainda afeta 8,4 milhões de trabalhadores. É o menor contingente de desocupados em números absolutos desde o trimestre móvel encerrado em junho de 2015.

Por Raphael Martins, g1

A taxa de desemprego no Brasil foi de 7,8% no trimestre móvel terminado em agosto, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em relação ao trimestre imediatamente anterior, entre março e maio, o período traz redução de 0,5 ponto percentual (8,3%) na taxa de desocupação. No mesmo trimestre de 2022, a taxa era de 8,9%. A taxa trimestral é a menor desde fevereiro de 2015, quando chegou a 7,5%.

Com os resultados deste trimestre, o número absoluto de desocupados teve baixa de 5,9% contra o trimestre anterior, chegando a 8,4 milhões de pessoas. O país chegou ao menor contingente de desocupados em números absolutos desde o trimestre móvel encerrado em junho de 2015, com 8,5 milhões de desocupados.

Em relação ao trimestre anterior, são 528 mil pessoas a menos no contingente de desocupados. Comparado ao mesmo período de 2022, o recuo é de 13,2%, ou 1,3 milhão de trabalhadores.

De acordo com o IBGE, a redução da taxa de desemprego está novamente ligada ao aumento do número de pessoas ocupadas. No trimestre, houve crescimento de 1,3% na população ocupada, que chegou a 99,7 milhões de pessoas. No ano, o aumento foi de 0,6%, com mais 641 mil pessoas ocupadas.

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Vários grupamentos de atividade econômica demostram crescimento da absorção de trabalhadores. Temos a volta de um comportamento mais caraterístico de mercado de trabalho pré-pandemia.
— Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE.

Além disso, também cresceu o número de empregados com carteira assinada, ao maior patamar em oito anos. Foram 37,248 milhões de trabalhadores, contra 37,288 milhões em fevereiro de 2015. Houve aumento de 1,1% em relação ao trimestre anterior. Na comparação anual, a alta foi de 3,5%.

Veja os destaques da pesquisa

  • Taxa de desocupação: 7,8%
  • População desocupada: 8,4 milhões de pessoas
  • População ocupada: 99,7 milhões
  • População fora da força de trabalho: 66,8 milhões
  • População desalentada: 3,6 milhões
  • Empregados com carteira assinada: 37,2 milhões
  • Empregados sem carteira assinada: 13,2 milhões
  • Trabalhadores por conta própria: 25,4 milhões
  • Trabalhadores domésticos: 5,9 milhões
  • Trabalhadores informais: 38,9 milhões
  • Taxa de informalidade: 39,1%

Emprego sem carteira também tem alta

A queda da desocupação também foi consequência do aumento de empregos sem carteira assinada. O contingente chegou a 13,2 milhões, alta de 2,1% no trimestre. Na comparação anual, houve estabilidade.

Houve estabilidade também na maior parte das demais modalidades de emprego. É o caso de empregadores, empregados no setor público e trabalhadores por conta própria. Apenas trabalhadores domésticos teve uma leve alta de 2,8% frente ao trimestre anterior.

Rendimento segue estável

O rendimento real habitual ficou estável frente ao trimestre anterior em R$ 2.947. No ano, o crescimento foi de 4,6%.

Já a massa de rendimento real habitual foi estimada em R$ 288,9 bilhões, mais um recorde da série histórica do IBGE. O resultado subiu 2,4% frente ao trimestre anterior, e cresceu 5,5% na comparação anual.

G1

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/09/29/desemprego-cai-a-78percent-no-trimestre-terminado-em-agosto-diz-ibge.ghtml

Grupo que estuda remuneração justa para entregadores por app termina neste sábado; entenda como ganham os motoboys

Biden abraça “modo Bernie Sanders” para atrair sindicatos e isolar Trump

Nenhum dos 45 antecessores de Biden – de George Washington ao próprio Trump – ousou se envolver tão diretamente numa greve trabalhista

por André Cintra

Ainda é cedo para saber se a greve conjunta dos metalúrgicos da Ford, da General Motors e da Stellantis, nos Estados Unidos, será vitoriosa. Mas os trabalhadores dessas montadoras, às voltas com reivindicações legítimas, já despertaram uma atenção sem precedentes tanto do presidente Joe Biden quanto do ex-presidente Donald Trump. É cada vez mais provável que a batalha pelo coração do movimento sindical será um dos temas centrais da próxima eleição presidencial norte-americana, em 2024.

Na terça-feira (26), Biden causou estupor ao participar de um piquete de grevistas em Michigan, a “capital nacional da indústria automobilística”. O movimento é liderado pelo UAW (United Auto Workers), que representa nacionalmente 143 mil trabalhadores do setor automotivo. Nenhum dos 45 antecessores de Biden – de George Washington ao próprio Trump – ousou se envolver tão diretamente numa greve trabalhista.

Afinal, por que o presidente protagonizou essa cena tão pioneira e inusitada?

Para chegar à Casa Branca, Biden enfrentou Bernie Sanders nas primárias do Partido Democrata. Seu rival se autodeclarava “socialista” – ele representava o Democratic Socialists of America (DAS) –, percorria sindicatos e apoiava greves abertamente. Nas prévias, Sanders endossou o Medicare for All (uma espécie de SUS para os Estados Unidos) e prometeu perdoar dívidas estudantis.

Embora seja mais velho que Biden, Sanders mobilizou especialmente o eleitorado mais jovem, além de estratos da classe trabalhadora. Não foi o suficiente para lhe dar a candidatura – os democratas apostaram que um nome “moderado” pudesse atrair mais adesões e impedir a reeleição de Trump. Biden, de fato, venceu a disputa em 2020 e se tornou presidente dos Estados Unidos. A maioria das bandeiras de Sanders ficou esquecida, a não ser a questão sindical.

Em 20 de setembro, quando os presidentes do Brasil e dos Estados Unidos assinaram, em Nova York, a Parceria pelos Direitos dos Trabalhadores e Trabalhadoras, Biden reforçou esse vínculo. “Não queremos que só uma classe se saia bem. Queremos que os pobres tenham oportunidades de subir na vida – e essa visão é impulsionada por uma força trabalhista forte”, afirmou, ao lado do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. “É por isso que meu governo tem sido chamado de o governo mais pró-sindicatos da história dos Estados Unidos.”

Não que seja uma concorrência tão complexa. Abraham Lincoln (1809-1895), o maior dos ocupantes da Casa Branca, aboliu a escravidão e promoveu a reforma agrária – mas num período pré-sindical. Theodore Roosevelt (1858-1919) chegou a declarar apoio a greves, sem, no entanto, aparecer publicamente em manifestações. Entre os democratas, Franklin D. Roosevelt (1882-1945) e Harry Truman (1884-1972) reforçaram a proteção ao trabalhador e incentivaram a sindicalização. Mas ir a uma greve e ficar lado a lado com trabalhadores, escancarando a adesão, só Biden.

E por que só agora?

Alguns motivos sobressaem. Um deles é que Biden era acusado de ser audacioso no discurso, mas retraído nas ações. Desde a posse, ele repete que “Wall Street não construiu este país (os Estados Unidos). A classe trabalhadora é que construiu este país – e os sindicatos construíram a classe trabalhadora”. No entanto, em impasses maiores, sua postura desagradou.

No ano passado, sua proposta para solucionar a campanha salarial dos ferroviários foi considerada, antes de tudo, autoritária. Muito embora declarasse que os 60 mil trabalhadores de empresas como Union Pacific, BNSF e Norfolk Southern mereciam valorização, Biden deixou a impressão de que apenas temia uma greve nas ferrovias e seus impactos econômicos. Os prejuízos, em caso de eventual paralisação, eram estimados em US$ 2 bilhões por dia. Agora, no caso da greve nas montadoras, Biden foi mais incisivo e evitou o ruído.

Uma segunda razão é a força-tarefa dos democratas para resgatar o legado trabalhista do partido. Esse espólio tem como referência máxima a Era Franklin D. Roosevelt (1933-1945), que foi um divisor de águas na política estadunidense. Os democratas, favoráveis à escravidão no século 19, tentaram enfrentar o abolicionismo, saíram derrotados e “perderam o chão”. Após o assassinato de Lincoln, os republicanos venceram 13 de 16 disputas à Casa Branca.

Foi somente com a eleição de Roosevelt, em 1932, e com o êxito do New Deal, a partir de 1933, que o Partido Democrata se reconectou com a classe trabalhadora. A ascensão do movimento sindical foi tão acelerada que os republicanos, ao voltarem ao comando do Congresso, aprovaram, em 1947, a nefasta Lei Taft-Hartley, uma legislação essencialmente antigrevista e anticomunista, vigente até hoje.

Mas a principal motivação de Biden é que o discurso xenofóbico de Trump – segundo o qual imigrantes têm roubado empregos dos norte-americanos – ecoou em setores da classe trabalhadora. Assim como ideias ultraliberais da extrema-direita ganharam adesão no Brasil entre trabalhadores mais precarizados, como motoristas de Uber e entregadores do iFood, o trumpismo teve milhões de simpatizantes.

Graças à pandemia de Covid-19 e à recessão, o número de postos de trabalho recuou entre o início e o fim do governo Trump – caso único na história dos Estados Unidos e uma das razões para sua não reeleição. Na prática, o lema “american first” (“primeiro, os norte-americanos”) não se concretizou. Mas as fragilidades econômicas da administração Biden levaram o ex-presidente a retomar um discurso salvacionista para os trabalhadores. Trump quer intensificar as agendas junto a trabalhadores, ainda que à margem dos sindicatos, que em geral lhe rejeitam.

Esta é a razão central que faz Biden abraçar o “modo Bernie Sanders”, posar com boné da UAW e discursar em megafone para operários do setor automotivo. A greve não é apenas por salários – mas também pelo futuro da indústria, já que veículos elétricos, uma vez dominantes, demandarão menos mão de obra. O corte de empregos nas fábricas é inevitável a longo prazo, e o movimento sindical se antecipou ao discurso.

Na mesma manhã em que o presidente foi à greve, Trump, seu provável concorrente eleitoral em 2024 postou uma provocação: “O mandato draconiano e indefensável de veículos elétricos de Joe Biden aniquilará a indústria automobilística dos EUA e custará incontáveis milhares de empregos a trabalhadores do setor automobilístico. Com Biden, não importa o quanto ganhem por hora, em três anos não haverá empregos no setor automobilístico, pois todos virão da China e de outros países. Comigo, haverá empregos e salários como você nunca viu antes”.

movimento sindical vive uma onda de renascimento no país e pode definir, mais uma vez, a eleição presidencial. “A adesão aos sindicatos caiu muito nos EUA nas últimas décadas, mas ainda representa uma parte importante da coligação eleitoral democrata. Uma das razões pelas quais Donald Trump foi eleito em 2016 foi porque os sindicatos em estados indecisos, como a Pensilvânia, votaram nele”, lembrou Rana Foroohar, na semana passada, no Financial Times. Ao que tudo indica, o “modo Bernie Sanders” veio para ficar – ao menos até a eleição.

VERMELHO

https://vermelho.org.br/2023/09/28/biden-abraca-modo-bernie-sanders-para-atrair-sindicatos-e-isolar-trump/

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Lula faz cirurgia no quadril nesta sexta-feira

O presidente Lula (PT) faz uma cirurgia no quadril nesta sexta-feira (29). O presidente sofre com um quadro de artrose, que compromete sua locomoção e provoca dores que afetam seu humor.

Lula chegou ao hospital Sírio-Libanês, em Brasília, por volta das 8h desta sexta-feira. O Palácio do Planalto não quis informar o horário exato da operação e a duração da cirurgia. As informações serão passadas em uma coletiva de imprensa no fim da tarde. Não deverá ser liberado boletim médico nesta sexta-feira.

A cirurgia em questão é uma artroplastia total de quadril, procedimento em que é introduzida uma prótese de metal dentro do fêmur, e a parte que conecta o osso à bacia é removida e substituída por outra prótese de metal. Apesar de complexa, é uma cirurgia considerada rápida e de baixo risco. Após a operação, Lula permanecerá internado até terça-feira (3) no Hospital Sírio-Libanês.

O pós-operatório está previsto para durar duas semanas, período em que o presidente ficará afastado da função. Nesse meio tempo, assume o vice, Geraldo Alckmin. Na última quarta-feira, os dois estiveram reunidos, junto com quadros da cúpula do Planalto, para definir as diretrizes para a atuação do governo até o retorno do presidente.

CONGRESSO EM FOCO

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Reforma Tributária é para amadores?

Com a reforma aprovada na câmara dos deputados, perdem principalmente o setor de prestação de serviços e a sociedade em geral, pela inclusão de novos fatos geradores e aumentos das alíquotas, aumentando a já expressiva e negativa regressividade na tributação sobre o consumo.

João Carlos Loebens, Wilson Torrente e Claudio Graziano Fonseca

Afrase “O Brasil não é para amadores”, ou para iniciantes, atribuída a Tom Jobim, transmite em certa medida a ideia de que “as coisas” aqui são diferentes, ou vão além do que normalmente se interpreta ou espera, na linha do “a gente se vê” para dizer “não vamos marcar nada”.

Empresas como AMBEV, Coca-Cola, Itaú, Souza Cruz e Vale, dentre outras, constam como parceiros do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), autointitulado grupo de especialistas em tributação e finanças públicas (think tank), criado em 2015, com uma equipe de 2 diretores um pesquisador e uma secretária[i].

A Agência Câmara Notícias, em matéria publicada em 12/04/2019 sobre a proposta de reforma, fala o seguinte sobre a PEC 45/2019: “As mudanças têm como referência a proposta de reforma tributária desenvolvida pelo Centro de Cidadania Fiscal (CCiF), liderado pelo economista Bernard Appy e outros três especialistas”[ii]. Considerando que o CCIF foi criado em 2015 e a proposta já estava protocolada em 2019, tem-se um prazo aproximado de 3 anos, aparentemente pequeno para tão desafiadora meta.

Apesar das alterações expressivas do sistema tributário depois da Constituição de 1988, como a não tributação das exportações de produtos primários (Lei Kandir) e a exclusão dos “salários” dos empresários, que são auferidos na forma de lucros e dividendos, do imposto de renda (há isenção desses lucros/dividendos), é comum ouvir-se a afirmação de que, como fruto de décadas de discussão, chegou-se à atual proposta de reforma tributária. No entanto, a atual proposta de reforma tributária foi redigida basicamente por Bernard Appy, com auxílio de 3 especialistas em 3 anos, sob patrocínio das grandes empresas parceiras do CCIF acima mencionadas, que seriam de fato os patronos e autores da reforma.

A proposta de reforma tributária do CCIF apresentada pelo Appy posui componentes basilares como: imposto de crédito amplo, eliminação das isenções, aprovação do Conselho Federativo (CONFED) e restituição automática de saldo credor. Nesse último ponto, restituição automática de saldo credor em até 60 dias, juntamente com a criação do CONFED como garantidor dessa devolução, provavelmente esteja o “coração” da reforma escrita pelo CCIF do Appy. Estariam os patronos do CCIF entre os possíveis grandes recebedores desses créditos? Aqui talvez devesse ser traçado um paralelo com os precatórios com a seguinte interrogação: os empresários pessoas jurídicas merecem esse tratamento diferenciado em relação às demais pessoas físicas da sociedade para receberem de forma automática eventual crédito/dívida do Estado em relação ao imposto, enquanto pessoas físicas são obrigadas a esperar pelos precatórios por anos ou até décadas?

Sob o enfoque dos créditos amplos no denominado “IVA moderno” dos especialistas, o CCIF e defensores da reforma citavam como contrapartida a eliminação da “proliferação” de benefícios empresariais através das isenções e regimes especiais, incluindo até a Zona Franca de Manaus. Além da eliminação dessas benesses empresariais e como argumento adicional, está a sempre lembrada simplificação do sistema tributário, que é vendida em qualquer parte do mundo como justificativa para alterações que nunca atingem o objetivo alegado. No final de contas, todos os sistemas tributários são complexos, especialmente os sistemas tributários dos países considerados desenvolvidos ou ricos, como Estados Unidos ou Alemanha. Nesse discurso a favor da reforma e eliminação das isenções, somou-se o cashback, uma espécie de “bolsa família tributário”, apresentado como instrumento corretor da eliminação das isenções ou benefícios a produtos consumidos pelas pessoas de menor renda, mas ao final na prática servindo para justificar e viabilizar o aumento generalizado da tributação sobre o consumo.

Após aprovação da proposta de reforma do Appy/CCIF na Câmara dos Deputados, vemos que, dos aspectos basilares acima citados, os créditos amplos e ressarcimento automático através do CONFED foram aprovados, e a eliminação das isenções foi rejeitada, mantendo-se a Zona Franca de Manaus, a tributação pelo Simples Nacional e alíquotas reduzidas e/ou zeradas para diferentes produtos, esvaziando o cashback.

Diz o texto aprovado que o patamar de arrecadação sobre o consumo será mantido (o que evidentemente não ataca o problema da elevada regressividade do sistema), de tal sorte que o dinheiro não some, ele troca de lugar. Uma reforma repercute de forma diferente nos setores econômicos. Nessa diferente repercussão, quem ganha (paga menos) e quem perde (paga mais) com a reforma aprovada?

Ganham principalmente as grandes empresas, e ganham duas vezes: ganham primeiro ao receberem um volume enorme de novos recursos através dos créditos amplos e devolução automática, principalmente os grandes exportadores (uma espécie de “Lei Kandir 2.0”); e ganham pela segunda vez com a manutenção das isenções e benefícios empresariais. Imagine p.ex. o aumento de créditos para os grandes exportadores, que, com a manutenção das isenções, não vão pagar nada e receberão a devolução dos créditos de forma automática, inclusive em dinheiro (imposto pago pelos demais), se for o caso. Sem contar que esse modelo pode desencadear uma proliferação de notas falsas, gerando créditos podres, com pagamentos indevidos pelo CONFED.

A importância e necessidade fundamental do CONFED para os patronos da reforma decorre justamente dessa devolução automática, ou pagamento, dos saldos credores aos empresários. Faz-se necessária a centralização da administração e arrecadação do IBS no CONFED para que, do pagamento do imposto efetuado pelo consumidor final, seja primeiramente descontada a devolução do saldo credor e posteriormente seja distribuído a Estados e Municípios o valor remanescente. Qualquer menção, lembrança ou correlação com os precatórios não é bem-vinda.

Para garantir o pagamento aos empresários dos créditos resultantes da base ampla, os autores da reforma não se importaram em suprimir competências tributárias de Estados e Municípios, concentrando-as no Conselho Federativo/CONFED, que inicialmente parece que tinha o nome de Agência Centralizadora, e no Conselho Administrativo Tributário (CAT), para os julgamentos. Considerando que o ICMS e o ISS são os principais impostos de Estados e Municípios e estes passarão a ser administrados pelo CONFED e CAT, os impostos remanescentes dos Estados e Municípios são tão residuais que, na área tributária, se poderia considerar o fim do federalismo previsto na Constituição.

Já vimos quem ganha com a reforma. Se a carga final será mantida igual, quem perde com a reforma aprovada na Câmara dos Deputados? Como o patamar de arrecadação permanecerá o mesmo através da calibragem da alíquota, o aumento de créditos principalmente para o setor empresarial e grandes empresas exportadoras deverá ser pago por outros setores. Destaca-se o setor de serviços, através da inclusão de fatos geradores novos, como aluguel, e elevação expressiva da alíquota aplicável, em função da migração do ISS para IBS (algo em torno de 12% para 27%). Além disso, também pagará mais a sociedade em geral, em função do aumento geral da alíquota, para manutenção do patamar de arrecadação e pagamento dos créditos gerados a partir da base ampla.

Resumindo: ganham principalmente as grandes empresas e grandes exportadores, pelo aumento dos créditos e manutenção das isenções; perdem principalmente o setor de prestação de serviços e a sociedade em geral, pela inclusão de novos fatos geradores e aumentos das alíquotas, aumentando a já expressiva e negativa regressividade na tributação sobre o consumo. Dessa forma, se confirma uma frase já meio conhecida sobre o sistema tributário brasileiro: quanto mais rico, menos imposto paga. O efeito da reforma proposta pelo CCIF e aprovada na Câmara segue na mesma direção, diminuindo o pagamento do imposto para os que ganham mais (grandes empresas/empresários), e aumentando o pagamento do imposto para as pessoas com menor nível de ingressos ou salário mais baixos. Talvez esse tenha sido o objetivo não declarado dos autores da proposta de reforma desde o início: diminuir a tributação dos ricos.

Agora voltando ao início: analisando a sugestão de eliminação das isenções tributárias incluída na proposta de reforma elaborada pelo CCIF através do Appy e assessores, se poderia deduzir que a proposta realmente visava a melhora do sistema tributário, pois a eliminação de isenções como a da Zona Franca de Manaus p.ex. seria um aumento de pagamento de imposto para as grandes empresas, como as que estão patrocinando o CCIF. Estariam “cortando na própria carne”, em prol da simplificação e aumento da eficiência do sistema. No entanto, passada a votação na Câmara, constata-se que justamente essa parte “do sacrifício dos mais ricos” não foi aprovada.  Já na aprovação dos créditos amplos, CONFED e restituição automática teve 100% de aprovação.

Nesse momento caberia a pergunta: esse resultado da votação representa alguma surpresa ou já podia ser esperado? Seria possível alguém prever a provável ou praticamente certa não eliminação das isenções, como a Zona Franca de Manaus? Se o autor da proposta e equipe de três especialistas, patrocinados pelas grandes empresas parceiras do CCIF, não são amadores, eles teriam condições de ter previsto que a eliminação das isenções não passaria na Câmara e que a Zona Franca de Manaus seria mantida?

Se a resposta for sim, então a Reforma Tributária não é para amadores ou iniciantes. A inserção de eliminação das isenções na proposta de reforma teria sido feita já sabendo que não seria aprovada, facilitando a aprovação dos ganhos através dos créditos amplos e devolução automática, e garantindo a manutenção dos ganhos através das isenções.

E por que isso seria importante nesse momento? Porque temos outra reforma prevista, a reforma da tributação sobre a renda, que pretendem aprovar até o final do ano. O presidente da ABRASCA, associação criada para defender as posições ou interesses das companhias abertas, já manifestou pressa na apresentação da proposta de reforma da tributação sobre a renda. Os patronos do CCIF (AMBEV, Coca-Cola, Itaú, Souza Cruz, Vale, etc) e autores da reforma sobre o consumo aprovada na Câmara são também integrantes da ABRASCA. Se a proposta de reforma sobre a renda for generosamente apresentada por Bernard Appy e sua equipe de especialistas, patrocinados agora pela ABRASCA, é possível imaginar o que virá. Muito provavelmente será uma proposta com o mesmo efeito, embora não declarado, da reforma sobre o consumo: diminuição da tributação dos ricos.

Se essa nova proposta de reforma sobre a renda, que a ABRASCA elabora com auxílio do Appy e sua equipe de especialistas, for analisada por amadores ou principiantes, dificilmente identificará eventual efeito não declarado de diminuição da tributação dos ricos, como ocorreu na reforma da tributação sobre o consumo.

Notas:

[i] https://ccif.com.br/equipe/

[ii] https://www.camara.leg.br/noticias/555563-proposta-simplifica-sistema-tributario-e-unifica-tributos-sobre-consumo/

João Carlos Loebens é diretor de Cidadania e Educação Fiscal do IJF e membro do AFD – Auditores Fiscais pela Democracia.

Wilson Torrente é membro do Conselho Deliberativo do IJF e membro do AFD – Auditores Fiscais pela Democracia.

Claudio Graziano Fonseca é primeiro vice-Presidente do IJF e membro do AFD – Auditores Fiscais pela Democracia.

Fonte: Instituto Justiça Fiscal
Data original da publicação: 18/09/2023

DMT

https://www.dmtemdebate.com.br/reforma-tributaria-e-para-amadores/