Apresidente Dilma Rousseff comprometeu-se ontem com o senador Paulo Paim (PT-RS) a abrir uma discussão em torno de uma alternativa para o fim do fator previdenciário e da definição de uma política permanente de reajuste das aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Paim, que na véspera sinalizara tendência de votar a favor do projeto de lei que fixa o salário mínimo de 2011 em R$ 545, saiu do Palácio do Planalto, onde foi encontrar-se com a presidente a seu convite, confirmando essa posição.
Em pronunciamento no Senado, o senador anunciou que na próxima semana será iniciado “um debate sobre a construção de uma política pela valorização dos benefícios dos aposentados e também para uma política alternativa ao famigerado fator previdenciário”. Segundo ele, na conversa, a presidente não entrou no mérito das propostas que poderiam ser consideradas.
Com 30 anos de vida pública, marcada pela defesa da valorização do salário mínimo e dos aposentados, o que lhe rendeu desgastes com o governo Luiz Inácio Lula da Silva, Paim subiu à tribuna para explicar as razões pelas quais votaria a favor do mínimo para R$ 545 e abandonaria a proposta dos R$ 560, que vinha defendendo.
Segundo ele, além de comprometer-se com a negociação de uma alternativa para o fim do fator previdenciário e de uma política permanente de reajuste das aposentadorias, Dilma prometeu manter a política de reajuste do mínimo, definido pelo projeto de lei votado ontem, até o fim do seu governo – e num próximo mandato, caso seja reeleita.
“Eu cobrei. Digo isso com todo o respeito a ela, porque não queria que valesse somente quatro anos. Levantei o questionamento junto a ela, que respondeu: “Não tem problema algum, Paim, se é essa a questão. Eu disse que vou mantê-la durante o meu governo. Agora, se daqui a quatro anos eu for reeleita, fica assinado já que eu encaminho por mais quatro anos””.
Para o PT e o governo o voto de Paim é emblemático. Um dos senadores que influenciaram sua mudança de posição foi Walter Pinheiro (PT-BA), argumentando que Paim precisava capitalizar a adoção de uma política de reajuste do salário mínimo, em vez de se colocar como derrotado. Para a bancada, o apoio de Paim sinalizava que a proposta era correta para os trabalhadores.
Com o convite a Paim a presidente Dilma estreou na articulação política direta. Paim saiu do encontro elogiando a habilidade de negociação da presidente. “Seu voto é muito importante e queremos que você atue junto conosco no Congresso”, afirmou-lhe a presidente, segundo relato do senador.
Além da votação de ontem, a presidente espera contar com o gaúcho na elaboração da política de longo prazo para os aposentados. Paulo Paim foi o primeiro parlamentar, sem cargo partidário ou institucional, recebido por Dilma.
O senador gaúcho afirma que a relação com a presidente Dilma é antiga, dos tempos de militância partidária no Rio Grande do Sul. “Foi a senhora quem me lançou na política”, disse o senador para Dilma. “Lancei e não me arrependo”, completou a presidente. A parceria deu-se na eleição para o sindicato dos metalúrgicos de Canoas. “Eu e ela entregávamos o boletim com o meu nome na porta da fábrica”, relembra. “Quando disputei a minha primeira eleição, ela foi em uma assembleia de mulheres que votariam em Ana Amélia [hoje senadora pelo PP] e disse: “O momento é do Paim, ele é nosso senador””, recorda o petista gaúcho.
Paim sempre foi um nome visto com ressalvas no Planalto, por suas posturas de independência em relação ao governo federal, especialmente nos assuntos relativos ao salário mínimo e aposentadoria. Foram dele os projetos que propuseram uma equiparação semelhante ao proposto pelo governo aos aposentados que ganham acima do salário mínimo e outro propondo o fim do fator previdenciário.
Nos dias de votação, Paim era um dos aliados que mereciam acompanhamento especial. “Eu conversei várias vezes com o presidente Lula, mas nunca em dias de votação importante. Dilma me recebeu, em uma audiência que durou aproximadamente uma hora”, gabou-se.
Fonte: Valor Econômico