São Paulo, 12 abr (EFE).- Com reivindicações singelas como mais dias livres, o pagamento de horas extras e banheiros para as mulheres, os empregados da construção civil no Brasil se puseram em pé de guerra com greves que ameaçam a execução das grandes obras com as quais o Governo procura estimular o crescimento do país.
Tudo começou em 15 de março, quando uma suposta desordem entre operários que trabalhavam na construção da hidroelétrica de Jirau evoluiu para atos de vandalismo nos quais foram destruídos 70 alojamentos e 43 ônibus usados para o transporte dos empregados.
A hidroelétrica de Jirau, que será erguida no rio Madeira, em Rondônia, é a maior obra civil em execução no Brasil e envolve 22 mil operários.
No calor dos incidentes foi organizada de forma espontânea uma greve que inflamou os ânimos dos empregados de outras obras localizadas em diferentes pontos do país e também incluídas no Plano de Aceleração de Crescimento (PAC), o bilionário programa estatal destinado a projetos de infraestrutura.
“As reivindicações são variadas: melhores condições de alojamento, de alimentação, pagamento de horas extras”, disse à Agência Efe João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical, o segundo maior sindicato do país.
Gonçalves estimou em 170 mil o número de pessoas empregadas nas obras afetadas pelas mobilizações, que também chegaram à hidroelétrica de Santo Antônio (15 mil trabalhadores), a uma refinaria e uma petroquímica em Pernambuco e a uma termoelétrica no Ceará.
O sindicalista qualificou a sequência de mobilizações como a “maior greve desde a que paralisou o setor metalúrgico no Brasil em 1980”, liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, e reconheceu que a pouca presença sindical nos locais de trabalho dificulta as inspeções.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, visitou nesta segunda-feira os acampamentos em Jirau e Santo Antônio, onde os trabalhadores aceitaram voltar ao trabalho enquanto discutem suas reivindicações com as construtoras.
“Estamos em busca de soluções para as questões colocadas pelos trabalhadores, afinal eles estão trabalhando para o desenvolvimento do nosso país. É necessário dar a eles boas condições de moradia e transporte, ambiente de trabalho adequado e salários justos e iguais”, disse Lupi durante a visita.
Apesar da decisão dos operários de retornar ao trabalho nas duas hidroelétricas, a situação está longe de voltar à normalidade.
“A situação está parcialmente normalizada, mas mesmo nos lugares onde os trabalhadores retornaram a atividade não é possível”, disse à Efe um dos representantes da central sindical Conlutas, Atnágoras Lopes.
Segundo Lopes, a tensão e o mal-estar persistem e a ameaça de as mobilizações voltarem se não forem alcançadas soluções a longo prazo é uma realidade.
“Todos os retornos se produziram a partir de conquistas parciais. O clima é delicado”, disse Lopes, acrescentando que uma das situações que gera maior mal-estar é a diferença salarial para um mesmo posto de trabalho devido à subcontratação.
A usina de Jirau compõe junto com a de Santo Antonio o chamado Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, que terá capacidade instalada para gerar 6.450 megawatts de energia.
A hidroelétrica, com investimento previsto de R$ 8,7 bilhões, deverá começar a operar em março de 2012.
“É o dinheiro público que está financiando estas obras. O Governo esconde a responsabilidade que tem pelo menos no que diz respeito às inspeções de trabalho”, denunciou Lopes.
Lopes também denunciou o papel das construtoras no financiamento das campanhas eleitorais e assinalou que a maioria dos projetos em andamento é executada por empresas que contribuíram financeiramente para a candidatura da presidente brasileira, Dilma Rousseff.
Durante a visita feita por Lupi na segunda-feira aos acampamentos das hidroelétricas ficou acordado que começarão nesta terça as negociações entre os sindicatos e as construtoras para um convênio coletivo, e as empresas aceitaram restabelecer um transporte coletivo regular para que os trabalhadores possam visitar suas famílias, a fim de não frear o crescimento do país.