Ao efetivar Paulo Sérgio Passos na pasta dos Transportes, a presidente manteve o partido no comando da área e evitou uma crise na sua base de apoio no Congresso. A decisão, no entanto, desagrada o principal cacique da legenda.
Com a decisão de confirmar Paulo Sérgio Passos à frente do ministério, presidente tenta isolar o grupo mais ligado a Valdemar Costa Neto sem romper com o partido de seis senadores e 40 deputados
A presidente Dilma Rousseff efetivou ontem o ministro interino Paulo Sérgio Passos como titular da pasta dos Transportes. A decisão isola temporariamente o presidente de honra do PR, Valdemar Costa Neto (SP) — contrário à nomeação de Passos —, mas mantém o partido na base de apoio no Congresso. Ciente de que não teria como dispensar uma legenda com seis senadores, 40 deputados e dois minutos de tempo de televisão no horário eleitoral gratuito, Dilma relevou o histórico de escândalos que envolve a sigla e o fato de que Passos foi ministro por dois anos durante no período em que os contratos superfaturados foram assinados.
A efetivação de Passos foi tomada na véspera do depoimento de Luiz Antonio Pagot nas comissões de infraestrutura e meio ambiente do Senado (veja ao lado). A opção da presidente também contraria a cúpula do PR, que preferia um nome político. Mas Dilma teve o cuidado de só sacramentar a decisão após o senador Blairo Maggi (PR-MT), sondado na semana passada para ocupar o cargo, ter oficialmente anunciado que não aceitaria ser ministro.
Como antecipou o Correio na semana passada, Dilma sempre quis efetivar Passos no Ministério. O novo ministro é considerado um técnico experiente, sem ambições políticas e de total confiança da presidente. O PR, contudo, relutava em aceitar a saída e insistia em buscar um nome na bancada. Ela estabeleceu três pré-requisitos para que o partido apresentasse uma opção de ministeriável: afinidade com o governo, ficha política limpa e conhecimento da área de transportes. O PR teve dificuldade em encontrar na bancada representantes que se adaptassem às três condições simultaneamente. Os dois nomes ventilados no fim da semana — o deputado Luciano Castro (PR-RR) e o ex-senador César Borges (PR-BA) foram descartados por falta de expertise em transportes e divergências com o Planalto, respectivamente.
A presidente também adotou outra estratégia: passou a negociar diretamente com os senadores, não com os deputados, por achar que Valdemar Costa Neto tem uma ascendência maior sobre a bancada do partido na Câmara. Um senador afirmou, inclusive, que as declarações dadas pelo líder do partido na Câmara, Lincoln Portela (MG), de que a legenda preferia abrir mão do ministério se Passos fosse efetivado, foram enxergadas como um recado subliminar dado por Valdemar ao Planalto. “O pessoal do Senado tem mais independência em relação ao Valdemar do que os da Câmara”, reconhece um deputado da sigla.
O governo também ficou atento aos movimentos de Valdemar na semana passada. No dia seguinte à exoneração do ministro Alfredo Nascimento, ambos se reconciliaram. Ficou acertado que o senador retomaria a Presidência da legenda. O Planalto enxergou na dobradinha uma maneira de a cúpula suspeita do PR seguir fustigando o governo.
Um dos interlocutores escolhidos pelo Planalto foi o senador Clésio Andrade (PR-MG) — que abdicou do direito de ser ministro para continuar presidindo a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). A decisão gerou ciúmes no líder do partido na Casa, Magno Malta (ES). Assessores governistas alegaram, contudo, que Dilma não quis desqualificar o líder Malta, apenas procurou Clésio por ser um empresário do setor de transportes. O senador mineiro reuniu-se ontem com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para discutir obras em Minas Gerais e a sucessão na pasta.
Consenso
Antes mesmo da efetivação de Passos, Magno Malta já havia se conformado, acrescentando que seria a única forma de não travar as obras da pasta. “Ele é o secretário executivo, conhece tudo. Nada na vida tem consenso. Assim não vai parar o país. Se Dilma prestigiou o partido, amém. O ministério foi para dentro do olho de um furacão, está todo mundo olhando”, disse o senador capixaba.
Fonte: Correio Braziliense