NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

O comprometimento das famílias brasileiras com o pagamento de juros atingiu 9,86% da renda em maio, o maior nível da série histórica iniciada em 2005, segundo dados do Banco Central divulgados em reportagem da Folha de S.Paulo. O dado evidencia um problema estrutural: o alto custo do endividamento no país, majoritariamente composto por crédito de curto prazo e taxas elevadas, como cartão de crédito e empréstimo pessoal.

Ao somar juros e amortizações, 27,79% da renda familiar está hoje destinada ao pagamento de dívidas — o que significa que mais de um terço desse total é apenas para cobrir juros. A título de comparação, nos Estados Unidos essa fatia é de 8% e, no Japão, de 7,8%, de acordo com levantamento do Banco de Compensações Internacionais (BIS) com países desenvolvidos.

O economista Rafael Schiozer, da FGV (Fundação Getulio Vargas), disse à Folha que o problema não está no endividamento em si, mas na sua composição. “Em outros países, boa parte das dívidas está no crédito imobiliário, que tem juros mais baixos. No Brasil, a maioria recai sobre linhas caras e de curto prazo”, diz.

Dados do BC mostram que o crédito habitacional responde por apenas 2,13% da renda comprometida, o que indica que os outros 25,66% são dívidas com juros mais altos.

Selic a 15% ao ano e alta nos juros do crédito

Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, foi interrompido o ciclo de alta da taxa básica de juros, a Selic, que foi mantida em 15% ano ano. Segundo a autoridade monetária, a taxa que permeia toda a economia deve se manter nesse patamar por tempo prolongado. Isso significa, entre outros pontos, crédito e investimentos mais caros.

Segundo mesmo BC, as taxas de juros do crédito voltaram a subir em junho. No crédito livre para pessoas físicas, os juros anuais atingiram 58,3% ao ano — um salto de 5,7 pontos percentuais em relação a maio, sinalizando maior cautela dos bancos na concessão de recursos. Já para empresas, a média chegou a 24,3% ao ano, alta de 3,5 pontos percentuais em comparação ao mesmo mês de 2024.

Apesar do avanço geral, a taxa média de juros nas concessões de crédito permaneceu relativamente estável: 31,5% ao ano, com leve queda de 0,1 ponto percentual no mês. Ainda assim, o indicador acumula alta de 3,6 pontos percentuais em relação a junho de 2024.

Entre as modalidades de crédito mais caras, o cartão de crédito rotativo, o grande vilão do endividamento do brasileiro, apresentou recuo significativo: caiu para 441,4% ao ano (-7,9 pontos percentuais), o menor patamar de 2025 até agora. A mudança reflete os efeitos da nova regra do CMN (Conselho Monetário Nacional), que desde janeiro limita o total da dívida ao dobro do valor original.

No cheque especial, os juros subiram para 137,5% ao ano (+2,5 pontos percentuais), mantendo a posição de segunda modalidade mais cara do mercado.

Sinal amarelo

Dados da FecomercioSP apontam que, após leve melhora em 2024, os calotes de mais de 90 dias voltaram a subir, alcançando 6,3% entre pessoas físicas.

Apesar do cenário de juros altos, o crédito continuou em expansão, impulsionado pela recuperação do emprego e da renda, que elevam a capacidade de consumo e a concessão de crédito pelas instituições financeiras.

Ainda assim, a conta pesa. Segundo estudo da FecomercioSP, os gastos com juros subiram 20,5% em 2024, enquanto a renda das famílias avançou apenas 3,2% no mesmo período.

Para especialistas, educação financeira é parte da solução, mas não suficiente. Um estudo do Banco Central mostra como o crédito consignado, apesar de mais barato, pode comprometer o consumo no longo prazo. Enfim, a conta, pelo visto, nunca fecha, e a Selic pode ser a armadilha que acaba deixando as famílias amarradas no mercado de crédito.

ICL NOTÍCIAS

https://iclnoticias.com.br/economia/familias-renda-com-juros/