NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Entre o tilintar dos talheres e louças, uma tendência inquietante avança silenciosamente nos restaurantes de Nova Iorque. Pequenos estabelecimentos, pressionados por custos excessivos de aluguel e inflação, passaram a adotar caixas virtuais das Filipinas, remunerados a US$ 3 por hora — valor muito inferior ao salário mínimo local de US$ 16. A empresa Happy Cashier, responsável pela inovação, promete alívio financeiro aos empresários, mas reacende o debate sobre precarização do trabalho e ética nas relações laborais.

O professor Euzébio Jorge Silveira de Sousa, do Instituto de Economia da UFRJ, vê nesse modelo o ápice de uma lógica globalizante iniciada nos anos 1970. “Esse processo de desterritorialização da produção é derivado de um tipo particular de globalização, ligado à terceira revolução tecnológica industrial, que permite inter-relacionar e gerir a produção em outros territórios.”

Extensão da terceirização

Muito antes dos caixas por Zoom, empresas americanas já importavam centrais de telemarketing e suporte técnico da Índia, Filipinas, México e até do Brasil, em busca de menores custos e maior flexibilidade na contratação. Plataformas digitais passaram a intermediar pagamentos em dólar a profissionais de software, vendas, turismo e atendimento, enquanto direitos básicos permaneciam frágeis. “Empresas de tecnologia e plataformas operam com vantagens competitivas e dificultam a permanência dos modelos tradicionais”, observa Euzébio.

“O crescimento da terceirização ocorre pela desregulamentação do mercado financeiro, que permite que o capital flua pelo mundo buscando ao máximo a redução de custos — seja pela diminuição do preço da força de trabalho, menor tributação ou redução dos direitos trabalhistas.”

Concorrência desigual e impactos sociais

Para os trabalhadores locais dos restaurantes nova iorquinos, a terceirização radical representa desemprego, insegurança e enfraquecimento dos sindicatos. Profissionais estrangeiros, por sua vez, atuam sem proteção social, férias ou possibilidade real de negociação coletiva. Situações de dispensa em massa e salários aviltados, comuns em multinacionais de atendimento remoto, tornaram-se cada vez mais frequentes. “Há risco de que trabalhadores mais pobres, idosos ou menos qualificados fiquem em atividades precárias”, alerta o economista que completa: “Schumpeter fala em destruição criadora, de um processo em que setores são destruídos e outros criados, mas nem sempre os trabalhadores são reabsorvidos.”

Organização e resposta: movimento sindical global e políticas de Estado

A saída para o ciclo de precarização exige respostas coletivas além das fronteiras nacionais. “Para regulamentar melhor esse tipo de atividade, é fundamental fortalecer organizações de trabalhadores que consigam pressionar por regras que transcendam fronteiras, garantindo direitos mínimos e impedindo que o capital busque arbitragem de trabalhos precários”, afirma Euzébio.

O economista ressalta que o Estado também é protagonista e deve ter o “papel do Estado de promover dinamismo, investir em infraestrutura e políticas públicas para integrar e proteger trabalhadores.”

Por fim, o professor Silveira de Sousa defende que a economia global deve repensar o modelo de integração, para que a tecnologia represente avanço social — e não mera substituição do humano pela máquina. “O sistema econômico tende a ser pensado cada vez mais como integrado, gerando valor e demanda agregada. Inovações tecnológicas devem ser aproveitadas para melhorar as condições de vida das pessoas.” Sem organização internacional dos trabalhadores e regulamentação em defesa dos direitos, a desigualdade tende a se aprofundar sob a alegação da ‘eficiência’ digital, perpetuando novas formas de exploração no labirinto global do trabalho.

VERMELHO

https://vermelho.org.br/2025/11/04/atendentes-virtuais-em-ny-marcam-nova-onda-de-trabalho-precario/