Embora tenha registrado queda de 1,5% no mês de outubro em relação a setembro, a inadimplência do consumidor brasileiro apresentou elevação de 23% no acumulado do ano, de janeiro a outubro, ante o mesmo período de 2010. Segundo a empresa de consultoria Serasa Experian, no comparativo com outubro do ano passado, o índice resgistrou acréscimo de 19,2%.
O professor do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Luciano Nakabashi, considera que ainda é muito cedo para dizer se a inadimplência vai continuar caindo ou vai voltar a subir, ”por questões conjunturais”. ”Embora tenha registrado a segunda queda mensal após seis altas, não podemos afirmar algo específico porque a inadimplência varia muito. Nos últimos dois anos, por exemplo, teve variações mas no geral aumentou”, cita.
Ele reitera que o índice não pode continuar crescendo para não causar instabilidade econômica e financeira. ”Chega um momento que os próprios bancos e o Banco Central começam a interferir, criando medidas para restringir o crédito a fim de controlar a inadimplência.” Segundo o professor, um dos fatores que tem estimulado o endividamento é o aumento do crédito superior ao aumento da renda, ”que vem ocorrendo mais acentuadamente nos últimos cinco anos”. ”Com isso, o brasileiro consome mais e tem dificuldade para pagar suas dívidas acumuladas, o que aumenta a inadimplência”, relata.
De acordo com a Serasa, entre os itens que compõem o índice, de setembro para outubro, houve redução na inadimplência tanto no caso das dívidas não bancárias, como cartões de crédito e com empresas financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços, e débitos com os bancos. As quedas foram 2,8% e 2,7%, respectivamente.
Na avaliação de Nakabashi, o crescimento mais moderado do endividamento do consumidor é um dos principais fatores que contribuíram para diminuir a inadimplência. A diminuição do ritmo inflacionário e a manutenção das taxas de desemprego também são atribuídas a esse cenário. Ele não descarta a possibilidade de que algumas medidas governamentais adotadas no início do ano para restringir o crédito tenham surtido efeito agora.
Com relação à oferta de consumo para o final de ano, o professor pondera que por um lado as pessoas gastam mais, mas por outro, contam com uma parcela maior de salário. ”Uma coisa compensa a outra e além disso, muitas pessoas usam o 13º para quitar dívidas”, reitera. ”Mesmo com esses altos índices, o brasileiro ainda tem dívidas muito menores do que as verificadas em países desenvolvidos porque o crédito aqui é relativamente caro.”
O que subiu
Os cheques sem fundos tiveram alta de 8,1% e contribuíram para que a queda do indicador não fosse ainda maior. Os títulos protestados cresceram 3,3%. O valor médio dos débitos teve variação positiva em três dos quatro itens considerados. Os títulos protestados tiveram a maior alta, com elevação de 15,5% de janeiro a outubro deste ano, ficando em R$ 1.365,88, contra R$ 1.182,39 no mesmo período de 2010.
Os cheques sem fundos tiveram nesse período crescimento de 7,9% em seu valor médio, passando de R$ 1.251,01 para R$ 1.349,39. As dívidas com bancos subiram de R$ 1.308,91 para R$ 1.315,09, em 10 meses, o que representa uma elevação de 0,5%. Já as dívidas não bancárias caíram 14,2% e tiveram o valor médio reduzido de R$ 378,85, no acumulado de 2010, para R$ 324,97, em igual período deste ano.
(Com Agência Brasil)