NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

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Logo depois que o estouro da bolha no mercado imobiliário espanhol deixou Andrés Velarde e Maria Palencia desempregados, os jovens arquitetos pegaram seus materiais para desenho e viajaram 8.000 quilômetros até o Brasil – atraídos pela esperança, mas não a certeza, de um emprego.
 
 Em menos de cinco semanas, o casal espanhol já estava trabalhando. O Brasil estava expandindo o seu programa de moradia para pessoas de baixa renda e correndo para construir estádios, terminais de aeroporto e hotéis para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
 
 A crise lá em casa é uma notícia distante, disse Velarde, que já está há oito meses no seu novo emprego no Rio de Janeiro. No Brasil há crescimento e otimismo, uma atmosfera de alegria totalmente diferente da Europa.
 
 A crise econômica está afugentando dezenas de milhares de trabalhadores qualificados da Europa, e muitos estão sendo seduzidos pelas pujantes ex-colônias da Europa na América Latina e África, revertendo antigos padrões migratórios. Ásia e Austrália, assim como Estados Unidos e Canadá, também vêm absorvendo emigrantes da zona do euro.
 
 Ao mesmo tempo, o fluxo de imigrantes do Terceiro Mundo, cujo trabalho ajudou a impulsionar o crescimento da Europa nas últimas décadas, está esmorecendo. Centenas de milhares deles, incluindo funcionários de maior qualificação, estão voltando para casa.
 
 Tal êxodo está causando temores sobre as possíveis consequências de longo prazo da crise econômica – uma fuga de talentos pode prejudicar as economias mais fracas da zona do euro na sua luta para sair da recessão.
 
 Trata-se de uma hemorragia de pessoas altamente educadas – exatamente as que eles precisarão para decolar quando as circunstâncias melhorarem, disse Demétrios Papademetriou, presidente do Instituto de Política Migratória, uma organização sem fins lucrativos de Washington.
 
 O número de emigrantes está crescendo em Portugal e Espanha, que estão perdendo trabalhadores qualificados para as suas antigas colônias. Mais pessoas estão saindo do que chagando à Espanha, Portugal, Irlanda, Eslovênia e Chipre, e o governo da Grécia está preocupado com uma tendência semelhante que começa a tomar forma no país. A União Europeia não tem dados consolidados de emigração, mas é crescente a preocupação com o efeito dos cortes severos de orçamento no Reino Unido, França, Alemanha e Itália, todos vendo pesquisadores de talento irem embora.
 
 O Rei Juan Carlos enfatizou as perdas da Espanha com uma pungente observação, ao distribuir bolsas de estudo a jovens espanhóis que estavam indo fazer pós-graduação no exterior.
 
 Espero e desejo sinceramente que, quando chegar a hora de vocês voltarem para casa, haverá mais trabalho e vocês possam ficar aqui, disse ele em março ao grupo de 121 ganhadores. Nós realmente precisamos de vocês na Espanha.
 
 Durante a próspera década que terminou em 2008, a Espanha recebeu uma das maiores ondas de imigrantes da história. Trabalhadores estrangeiros chegavam a um ritmo de 500.000 por ano para impulsionar a construção e o setor de serviços, fazendo do país europeu o principal destino dos imigrantes.
 
 No ano passado, com o desemprego passando de 20%, a Espanha exportou mais gente do que recebeu pela primeira vez desde 1990, de acordo com o Intituto Nacional de Estatística. Houve 55.626 mais pessoas saindo do que chegando ao país nos primeiros nove meses de 2011, segundo o instituto.
 
 Os espanhóis estão se espalhando por países europeus em melhor situação e outros mais distantes, em especial na América Latina. Dos estimados 37.000 cidadãos espanhóis que deixaram o país em 2010, cerca de 60% emigraram para países fora da União Europeia.
 
 Pelo menos 100.000 portugueses deixaram o país em 2011, depois de uma década de fraco crescimento econômico e crescente endividamento nos países mais pobres da Europa Ocidental. Na África, a aquecida economia de Angola absorveu 70.000 portugueses desde 2003, de acordo com dados do governo português. No Brasil, o número de portugueses trabalhando com vistos de trabalho deu um salto de 52.000 nos dezoito meses encerrados em junho de 2011.
 
 O Brasil vem lucrando com o declínio europeu. O país está atraindo engenheiros estrangeiros e outros profissionais da construção para ajudar nos seus projetos de moradia, energia e infraestrutura, com os quais o governo planeja gastar US$ 500 bilhões até 2014, mais do que o dobro do produto interno bruto de Portugal.
 
 O Brasil precisará de cerca de 1,1 milhão de engenheiros em 2020, quase o dobro do que tem hoje, segundo o Instituto de Pesquisas Aplicadas, o Ipea. Estamos treinando pessoas o mais rápido que podemos, disse Paulo Safade Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, a CBIC.
 
 Só nos primeiros seis meses do ano passado, o número de estrangeiros morando no Brasil com vistos temporários de trabalho e outros vistos similares cresceu quase 50%, para 1,46 milhão de pessoas, quase 330.000 delas vindas de Portugal e 60.000 da Espanha, de acordo com o Ministério da Justiça.
 
 No final dos anos 90, Espanha e Portugal haviam deixado de ser pobres, adotado o euro e estavam importando trabalhadores. As periódicas emigrações em massa de trabalhadores de baixa qualificação de Portugal e Espanha para o norte da Europa e América Latina, as mais recentes nos anos 50 e 60, pertenciam agora à história.
 
 Com a crise europeia e o boom brasiliero, os padrões migratórios estão mudando de novo.
 
 Os brasileiros agora estão voltando para casa em número recorde. O governo estima que perto de metade dos emigrantes do país retornou – dos mais de três milhões de brasileiros vivendo no exterior em 2007, hoje restam menos de dois milhões.
 
 Embora muitos dos que estão regressando sejam trabalhadores manuais, o fenômeno também causou uma inversão no fluxo de capital intelectual. Necessitando avidamente de conhecimento e pessoal para ajudar o crescimento a atingir seu potencial pleno, o mercado de trabalho do Brasil está absorvendo seus próprios emigrantes de nível superior assim que eles retornam.
 
 Papademetriou, do Instituto de Política Migratória, disse que esse movimento transatlântico é parte de uma transferência global mais ampla de talentos para as dinâmicas economias emergentes. Isso terá um efeito dramático no ritmo e profundidade do crescimento,disse ele. É uma dávida para elas.
 
 Oriol Flaquer, que tem um mestrado em administração, enquadra-se no perfil do novo emigrante espanhol – jovem, multilingue, profundamente pessimista em relação à Europa e pronto para se mudar para onde as coisas estão acontecendo.
 
 A Europa vai precisar de pelo menos uma década para se recuperar, se é que vai se recuperar, disse o engenheiro industrial de 32 anos, falando de Cuernavaca, no México, para onde foi no ano passado trabalhar numa firma internacional de segurança digital. Nunca, na minha opinião, a Europa terá o mesmo peso econômico que teve no passado.
 
 Mais gente deve deixar a Espanha num futuro próximo. A sua economia está crescendo a uma taxa anual de menos de 1%, e alguns economistas esperam que ela volte a cair numa recessão. Uma pesquisa recente da Randstad, uma empresa internacional de recursos humanos, mostrou que 62% dos espanhóis sem emprego estão dispostos a deixar o país para arranjar um.
 
 As autoridades espanholas argumentam que a emigração deve ser vista como uma válvula de segurança de curto prazo, não como uma perda permanente para o país.
 
 José Ramón Pin, vice-reitor da faculdade de administração Iese, de Madri, disse que os emigrantes ajudarão a Espanha se eles voltarem com mais conhecimento e experiência. Mas, numa recessão prolongada, acrescentou ele, a questão é: Eles vão voltar?
 
 Líderes políticos na zona do euro estão divididos sobre como lidar com essa incerteza.
 
 Espanha e Portugal encorajam desempregados a ir embora. A Espanha, no ano passado, assinou um acordo com a Alemanha, segundo o qual empresas alemãs oferecerão trabalho a espanhóis desempregados, principalmente nos setores de engenharia, saúde e turismo.
 
 O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, no mês passado, exortou professores que não conseguirem achar emprego em Portugal a procurar oportunidades nas suas antigas colônias.
 
 Na Grécia, por outro lado, o ministro da Fazenda, Evangelos Venizelos, defendeu no mês passado a criação de uma campanha para desencorajar a emigração. A Irlanda reduziu impostos na indústria do turismo, numa tentativa de aumentar as contratações e impedir que trabalhadores deixem o país. A Itália deu um incentivo fiscal antiemigratório para pessoas abaixo dos 40 que retornarem ao país, depois de dois anos trabalhando ou estudando no exterior.
 
 Mas a crise da dívida na Europa põe esses governos sob uma pressão muito maior para aumentar impostos, cortar orçamentos e reduzir folhas de pagamento para manter os custos de empréstimo baixos – uma receita que pesa contra o crescimento.
 
 A dívida da Espanha disparou depois que a bolha especulativa no seu mercado imobiliário estourou em 2008, lançando a economia numa recessão. Oito em cada 10 dos 1,5 milhão de empregos na construção criados nos últimos 12 anos desapareceram; pelo menos 700.000 das moradias construídas nos últimos 3 desses anos permanecem.