Há 11 meses no comando da Casa Civil, considerado um dos ministérios mais importantes do governo Dilma, a ministra Gleisi Hoffmann teve de abrir mão de passar tempo livre com os filhos. Casada com o também “ocupado” ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, Gleisi tem dois filhos: João Augusto, de 10 anos, e Gabriela Sofia, de 6 – confira no vídeo ao lado trechos da entrevista exclusiva aoG1.
Para compensar a rotina de mais de dez horas de trabalho por dia, Gleisi diz que sempre atende os telefonemas das crianças, até mesmo em reuniões de trabalho com a presidente Dilma Rousseff.
“Outro dia eu estava numa reunião com a própria presidente Dilma, e o João Augusto me ligou. Quando ela viu que era meu filho telefonando, disse: ‘Pode atender, é filho. Eu também sempre atendia a Paula e atendo até hoje'”, contou. Paula é a única filha da presidente.
Por ocasião do Dia das Mães, Gleisi Hoffmann recebeu o G1 no gabinete para falar de gravidez e de como concilia o trabalho de ministra com a maternidade (uma parte da entrevista fez parte do infográfico “Gravidez na real“, publicado na sexta-feira, 11, com depoimentos de nove mães famosas sobre a experiência de gerar uma vida).
Na entrevista, Gelisi conta que não consegue mais levar os filhos à escola e nem sempre pode brincar ou fazer lição de casa com eles. A ministra chega questionar se vale a pena dedicar tanto tempo ao trabalho e dar menos atenção aos filhos.
“A gente se sente culpada. Será que vale a pena fazer tudo que se está fazendo e às vezes você não poder dar para a sua criança, para os seus filhos, a atenção que muitas vezes você dá numa reunião de trabalho?”, se pergunta.
Para compensar a ausência, ela afirma que tem um trato com Dilma para comparecer a todas as apresentações das crianças na escola. “Já combinei com a presidente Dilma de ir a todas as peças de teatro e apresentações. É muito triste a criança no palco sem encontrar os pais na plateia.”
Veja abaixo os principais pontos da entrevista com a ministra.
Assim como eu me sinto, a maioria das mulheres que tem filhos e trabalham fora se sentem. De ter menos horário, menos tempo pras crianças. A gente se sente culpada. Será que vale a pena fazer tudo que se está fazendo e às vezes você não poder dar para a sua criança, para os seus filhos, a atenção que muitas vezes você dá numa reunião de trabalho?”
Ministra Gleisi Hoffmann
G1 – Como a sra. explica a falta de tempo dedicado às crianças? Elas têm noção do papel de ministra da Casa Civil?
Gleisi Hoffmann – Eu acho que eles têm essa noção, sim. Eu procuro nunca ficar falando da importância no sentido do cargo, procuro sempre minimizar isso. Sabem da importância do resultado. O que nós estamos fazendo com a presidenta, o que significa servir ao país. Mas eles sabem que eu sou ministra, dizem pros coleguinhas que eu sou ajudante da Dilma. Então é interessante isso.
G1 – Como foi o processo da gravidez do Carlos Augusto? Foi planejado?
Gleisi Hoffmann – Foi muito bom. Primeiro porque eu queria muito um filho. Foi planejado, foi querido. Segundo porque a gravidez correu de uma maneira muito normal. Tirando que eu engordei muito – mais de 20 quilos – foi legal curtir aquela barriga, falar todo dia com o bebê, fazer os exames, fazer o ultrassom, conhecer, ler muito sobre bebês, sobre filhos, como cuidar da gravidez. Foi um período que eu curti muito. Assim como curti também o período da Gabriela, que eu digo que foi a minha “gestação do coração”. Eu queria um segundo filho e queria que esse segundo filho fosse adotado. Então, ir atrás de informação sobre adoção, conversar na Vara de Família, receber as pessoas que visitaram a minha casa. Enfim, a preparação para ter os dois filhos foi uma preparação muito boa, foi muito feliz. E os dois foram muito queridos.
G1 – A sra. tinha alguma mania durante a gravidez? Desejo por comida?
Gleisi Hoffmann – Eu tinha mania de comer, infelizmente. Desejo específico não, mas eu tinha que estar comendo o tempo inteiro. Adorava doce, sentia vontade de comer doce, almoçava muito. Eu não sei se eu coloquei na minha cabeça – e a minha mãe estimulava e dizia isso – de que eu estava comendo por dois. Eu acabei realmente comendo por dois do meu tamanho, né? Então eu engordei muito. Mas não tinha assim nada de muito diferente. Nunca senti vontades bizarras. Nunca fiz o Paulo [Bernardo, ministro e marido] levantar de madrugada pra comprar alguma coisa pra mim. Não, nunca tive problema e nunca tive vontade.
G1 – Foi difícil perder todo o peso depois da gravidez?
Gleisi Hoffmann – Não, não foi difícil. Eu demorei cerca de um ano pra voltar ao meu corpo normal. Também porque eu não me esforcei logo de início, não coloquei como prioridade retomar o corpo que eu tinha. Então foi muito natural. Voltar a comer as mesmas quantidades e fazer um pouco de exercício. O que foi difícil foi perder a barriga. Não no sentido “a barriga física”, é deixar de ter aquela criança comigo o tempo inteiro. Eu estava tão acostumada. Aonde eu ia, ele estava comigo, eu conversava, falava. Quando ele nasceu eu sentia uma imensa falta. ‘Cadê a minha barriga? Com quem que eu converso?’
G1 – Como foi a preparação para a chegada da criança? Fez os exames, ultrassons? Teve receio de aparecerem complicações? Quis saber o sexo do bebê?
Gleisi Hoffmann – Quis saber. Até porque eu queria me preparar, arrumar o quarto, arrumar o enxoval. Eu acho que era importante escolher o nome, conversar com as pessoas a respeito, saber as características de cuidado de um menino. É diferente de uma menina, então eu queria saber. É claro que com receio todo mundo fica, né? Se vai se fazer um ultrassom, tudo o que você quer é que o seu bebê esteja nas mais perfeitas condições. Eu rezava muito para que isso acontecesse. Eu acho que todo pai e toda mãe faz isso. Mas também estava preparada para aceitar o bebê como ele viesse. Eu queria muito ter aquele filho, estava muito disposta, com muito amor, para acolhê-lo da forma como ele chegasse.

A ministra Gleisi Hoffmann com a presidente Dilma
Rousseff em evento no Palácio do Planalto (Foto:
Antônio Cruz / Agência Brasil)
Rousseff em evento no Palácio do Planalto (Foto:
Antônio Cruz / Agência Brasil)
G1 – E a relação com a estética? Se sentiu bem? Pôde fazer luzes no cabelo, por exemplo?
Gleisi Hoffmann – Não fiz, proibiram de tudo. Então, o cabelo ficou sem pintar, a pele ficou manchada, mas eu também estava preparada pra isso. Eu queria ficar grávida e sabia que eu ia ter nove meses de uma vida diferente. E tiveram coisas que compensaram. Por exemplo, você estar gerando um filho, estar numa gestação. Isso é uma coisa muito legal. Foi muito boa. Foi um período muito rico na minha vida. Então compensou tudo o que eu deixei de fazer.
G1 – E como foi o processo de adoção da Gabriela? Como foi recebê-la?
Gleisi Hoffmann – Olha, depois que nasceu o João Augusto, eu sentia que eu tinha muito amor para um filho só. Eu olhava uma criança na rua e eu queria ter aquela criança junto. Eu disse “meu Deus, eu tenho que ter mais um filho porque não é possível: sentir tanto prazer, ter tanta vontade de cuidar de uma criança”. Mas eu conversei muito com o Paulo e aí eu já não tinha o desejo de ficar grávida. Já tinha passado por um período de nove meses, tinha feito o que eu queria fazer, queria ter passado por isso, curti muito, mas achava que na altura da minha vida naquele momento, já não teria mais condições de dispor de um tempo como esse para me dedicar a uma outra gravidez. […] Então nós conversamos muito e chegamos à conclusão de que era melhor adotar. Nós queríamos mais um filho – eu, particularmente, queria muito – e que o melhor caminho seria a adoção. E foi uma “gravidez de coração” de dois anos porque até você arrumar os papéis, conversar na Vara da Infância, da Criança e do Adolescente, receber as visitas, as pessoas realmente verificarem as suas condições. Então foram dois anos de espera para chegar a Gabriela.
G1 – Como é conciliar a vida de ministra com a de mãe?
Gleisi Hoffmann – É muito difícil. Acho que como é para qualquer mãe que trabalha fora. Mudou muito a realidade da maternidade. Antes, as mulheres se dedicavam muito à casa e ao cuidado dos filhos. Estavam muito presentes fisicamente na vida das crianças. Não sei se qualitativamente todas conseguiam estar na mesma intensidade que estavam fisicamente. Mas estavam presentes e isso era uma referência importante. Quando a mulher passa a entrar no mercado de trabalho, muda essa realidade. Então, assim como eu me sinto, a maioria das mulheres que tem filhos e trabalham fora se sentem. De ter menos horário, menos tempo pras crianças. A gente se sente culpada. Será que vale a pena fazer tudo que se está fazendo e às vezes você não poder dar para a sua criança, para os seus filhos, a atenção que muitas vezes você dá numa reunião de trabalho? O que me faz ficar mais tempo no serviço do que ficar com eles? O que que isso vai ocasionar na formação? Então, isso pra mim tem sido muito difícil.
