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O estresse no trabalho pode levar ao colapso físico e mental, com a necessidade de ajuda médica e, às vezes, de uma licença para tratar o problema. Há formas de evitá-lo

Alta competitividade no mercado e prazos curtos para conclusão de trabalhos. Instabilidade no cargo e falta de perspectivas. Metas inatingíveis. Rotinas que superam oito horas diárias no trabalho, muitas vezes sem pausas. Falta de privacidade no ambiente profissional. Desentendimentos com colegas e assédio moral. Insatisfação com salários. Pressão exercida por chefes. São vários os fatores que levam a circunstâncias consideradas estressantes no ambiente corporativo.

O que poucas pessoas sabem é o que o estresse realmente significa. A psicóloga especialista no assunto e presidente da Isma-BR, filial brasileira da associação de prevenção e tratamento do estresse (International Stress Management Association), Ana Maria Rossi, explica: “É um conjunto de reações do corpo a situações inesperadas, que podem ser boas ou ruins, sendo que as maléficas tendem a se prolongar”. Nos casos de prolongamento, surgem os problemas (leia Palavra de especialista). Especialmente no local de trabalho. Segundo um estudo da Isma-BR, 70% da população economicamente ativa do país vive sob a influência do estresse.

Por causa de prejuízos à saúde relacionados a esse mal, 28 mil pessoas tiraram licença médica no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) de janeiro a agosto deste ano — um crescimento de 20% em relação aos oito primeiros meses de 2010. A dentista Letícia*, 55, está entre os profissionais que recorreram ao auxílio-doença. Ela ficou quatro meses afastada do serviço. “A demanda por odontólogos que atuam na rede pública é muito grande. Desenvolvi LER (lesão por esforço repetitivo) e a dor atrapalhou meu sono. Sem dormir direito e trabalhando sob pressão, explodi”, recorda.

Para se recuperar, a dentista procurou ajuda psiquiátrica, tomou remédios controlados, fez terapia e fisioterapia e desenvolveu um hobby — atitude recomendada por especialistas (leia quadro). “Comecei a fazer caminhadas diárias, que me ajudaram bastante a acalmar. Consegui voltar ao trabalho e passei por uma readaptação funcional, desenvolvendo atividades administrativas”, relata.

Outra maneira de controlar o estresse no ambiente profissional é tirar períodos de repouso durante o turno. É o que faz Neivaldo José Silva, 48 anos, 25 deles dedicados à profissão de controlador de voo. Sua jornada diária é de oito horas, mas ele aponta a importância do descanso. “O controlador deve trabalhar, no máximo, duas horas ininterruptas. O nível de atenção é muito alto. Controlamos o tráfego aéreo em um aparelho que parece um videogame. Neste jogo, estão envolvidas muitas vidas, não podemos nos desconcentrar”, explica o funcionário, que atua como chefe de controle de aproximação no Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo (Cindacta). No ambiente em que Neivaldo trabalha, há uma sala com poltronas reclináveis, copa e televisão para as pausas periódicas.

A secretária Marilene Carvalho, 48 anos, também usa o próprio ambiente organizacional para relaxar. Duas vezes por semana, ela pratica ginástica laboral supervisionada por um educador físico. “Isso prepara a equipe para o trabalho e integra pessoas de diferentes áreas da empresa”, diz. Além disso, a secretária divide suas manhãs em idas à academia e corridas no parque. “Faço o máximo possível de exercícios físicos para esfriar a cabeça”, sintetiza.

Há casos em que uma mudança de ares é necessária. Assim como Marilene, o advogado trabalhista Gustavo Varela, 37 anos, faz atividades esportivas para “liberar a energia”. Duas vezes por semana, joga futebol com amigos. Só isso não foi suficiente. Ele conta que também foi preciso mudar de serviço — desistiu de um cargo comissionado no Executivo para abrir o próprio escritório de advocacia — para perceber uma redução no estresse.

Gustavo diz que várias razões influenciam para sua nova função ser mais agradável. “Atuo de oito a dez horas por dia, como no velho emprego, mas o meu novo cargo é mais satisfatório. Em primeiro lugar, não tenho chefe. Segundo, minha função no serviço público não garantia estabilidade. Por último, meu trabalho dá mais resultados e toda a minha remuneração é fruto dele”, enumera.

Sintomas
A pesquisa realizada pela Isma-BR também constatou que 86% das pessoas estressadas têm tensão muscular e 38% delas apresentam problemas gastrointestinais. Na parte psicológica, 81% sofrem de ansiedade e 73% vivem preocupadas. “Quando os sintomas físicos e emocionais aumentam demais, as pessoas têm que reagir de alguma forma. Infelizmente, 57% recorrem ao álcool e a drogas ilícitas”, afirma Ana Maria Rossi.

A presidente da associação internacional ainda atenta para a queda de rendimento do trabalhador. “Nos casos mais agudos, os profissionais entram em um estado chamado de síndrome de burnout. No fim das contas, é uma perda para a própria pessoa e para a empresa”, observa, apontando que 92% dos que sofrem da síndrome se sentem incapacitados para trabalhar, mas continuam frequentando o trabalho por medo de demissão.

* Nome fictício utilizado para preservar a identidade da entrevistada

Dicas para ficar zen

» Tente, se possível, identificar e resolver, ou evitar, o fator desencadeante
» Identifique se a sua reação ao fato não está sendo desproporcional
» Faça regularmente uma atividade física, que promove a liberação de substâncias responsáveis pela sensação de bem-estar (endorfinas)
» Busque técnicas de relaxamento (ioga, meditação, alongamento)
» Saia com amigos
» Tire férias regularmente
» Evite consumo exagerado de álcool, fumo e comidas gordurosas

Palavra de especialista
Emocional e físico

Geralmente, quando nos referimos ao estresse, levamos em consideração o mal psíquico, causado por dor moral. Mas existe também o estresse que resulta de lesões agudas no organismo devido a traumas físicos. Nessas situações, aumenta a secreção das substâncias cortisol, adrenalina e noradrenalina, na tentativa de proporcionar ao corpo uma forma de lidar e resolver a situação causadora. O cortisol provoca um aumento no nível de açúcar do sangue (glicemia) e uma inibição da síntese de anticorpos (mecanismos de defesa do organismo), o que eleva a chance de surgimento de reações infecciosas. Por sua vez, a adrenalina e a noradrenalina geram alterações nos sistemas cardiovascular e pulmonar. Angústia e depressão são manifestações comuns no estresse crônico. Se a fonte de estresse se prolonga, essas reações geram processos adaptativos do organismo, que se caracterizam pelo desenvolvimento de vários tipos de doenças.

Lúcia Teixeira, médica ortomolecular