Valor se refere a turnos adicionais criados para evitar estouro maior de prazo
Dezesseis estádios e aeroportos deverão ser erguidos em ‘regime de urgência’, o que inclui expediente noturno
DIMMI AMORA
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DE BRASÍLIA
Os atrasos nos projetos de estádios e aeroportos vão fazer o país gastar, no mínimo, R$ 720 milhões a mais para realizar a Copa do Mundo de 2014. O montante seria suficiente para a construção de um novo estádio.
O valor se deve à despesa adicional com turnos extras de trabalhadores (incluindo expediente noturno) para que as obras não estourem ainda mais o prazo.
O “regime de urgência” implica um custo extra de 8%, segundo indicam as planilhas dos estádios do Mundial.
Nove arenas e sete aeroportos já são, ou deverão ser, erguidos em esquema de três turnos, varando a noite.
Esses projetos somam R$ 9 bilhões -incluídos os R$ 720 milhões de despesa adicional devido ao atraso. Entre eles está o Itaquerão, com obras noturnas já contratadas.
Segundo os órgãos de fiscalização e controle, quando a obra tem que ser feita de forma urgente, há redução em custos com locação de maquinário, por exemplo, devido ao menor tempo de uso. Por outro lado, há acréscimos nos gastos com energia e aluguel de equipamentos para iluminação. Na prática, reduções e acréscimos se anulam.
O que pesa no aumento dos custos são os encargos trabalhistas. Num empreendimento normal, o valor gasto com encargos equivale a 113% do salário do trabalhador da construção civil, segundo estudos de órgãos de controle. Quando há turnos extras e à noite, esse índice vai a 145%.
José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia), diz que cada obra terá acréscimos de custo específicos e que dificilmente alguma deixará de tê-lo. “Faltou controle para a gestão, o tempo foi perdido.” Em alguns casos, o atraso dos projetos passou de dois anos.
Obras noturnas já estão sendo adotadas em metade dos 12 estádios da Copa. Em todos eles, o preço para a execução de forma urgente já estava previsto na licitação. Outros dois estádios, Beira-Rio (RS) e Arena das Dunas (RN), em que a construção está em estágio inicial, consideram provável o turno extra. Manaus diz que pode usá-lo.
Apenas os responsáveis pelo Mineirão (MG), Arena Pantanal (MT) e Arena da Baixada (PR) descartam hoje o “regime de urgência”.
No caso dos aeroportos, em pelo menos sete o valor será elevado pelos atrasos.
Um alerta já foi dado pelo TCU (Tribunal de Contas da União). O preço da construção do Terminal Remoto de Guarulhos (SP), uma das várias obras projetadas para o aeroporto, será no mínimo R$ 15 milhões acima do normal.
O aumento de custo deve acontecer com outros projetos da Infraero. Alguns estão previstos desde a década de 90, mas não foram iniciados.
O presidente da Infraero, Gustavo do Vale, diz que foi decisão do governo adotar a urgência em Guarulhos. “Se fosse pelo ritmo normal, a obra ficaria pronta em junho de 2012 e teríamos problemas no fim do ano. Mas será o único contrato emergencial.”