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JUSTIÇA SOCIAL

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

As mudanças no mundo do trabalho avançam e a organização sindical vai se distanciando dessa nova dinâmica. É urgente avançar na reestruturação do movimento sindical.

Clemente Ganz Lúcio

A esquerda somente poderá tirar partido disso
se souber remediar a pane de imaginação que vem sofrendo.
Se quisermos ultrapassar o neoliberalismo,
abrindo uma perspectiva positiva,
temos que desenvolver uma capacidade coletiva
que ponha a imaginação política para trabalhar
a partir das experimentações e das lutas do presente.

Pierre Dardot & Christian Laval, “A Nova Razão do Mundo”

Para superar a “pane de imaginação” que Dardot e Laval analisam no ótimo livro citado acima, o movimento sindical está desafiado a analisar e debater os graves problemas que vivemos para subsidiar um trabalho coletivo de criação para a superação do atual contexto. Trata-se de imaginar e desenhar a utopia que nos une, as estratégias para promovê-la, as políticas e os projetos que a materializam. Esse artigo pretende contribuir no debate para essa grande construção, procurando destacar os desafios futuros e indicar diretrizes de ação no contexto dos próximos dois anos (2022 – 2023).

1. O movimento estrutural

A hegemonia neoliberal é o movimento estrutural de incontáveis iniciativas mundiais que se materializou no contexto histórico de cada país e nação e que promoveu uma crescente dinâmica transformadora multidimensional nas cinco últimas décadas. Mais recentemente a crise econômica de 2008 expos contradições dessa dinâmica e colocou obstáculos para sua continuidade. As respostas predominantemente preservaram e renovaram a dinâmica neoliberal de mudanças com grandes custos econômicos e sociais para a sociedade. Nos dois últimos anos a pandemia do covid-19 travou a economia e colocou a sociedade em alerta, expondo a um só tempo as inúmeras fragilidades do modelo capitalista neoliberal. Atualmente passam a surgir iniciativas que podem abrir novos caminhos. A construção da utopia (aquilo que ainda não é ou que não existe, mas que podemos construir) abre-se para as asas da imaginação para formularmos e implementarmos novos modelos, projetos e políticas.

A ordem neoliberal na dimensão econômica promoveu a máxima prevalência do mercado e a mercantilização de todas as atividades humanas; enalteceu a prioridade para o acionista em detrimento da sociedade e aumentou a concentração de renda e riqueza; afirmou a virtude do Estado mínimo e expandiu a privatização das estatais e das políticas e serviços públicos (saúde, educação, segurança, saneamento, energia, parques, estradas, etc.); colocou a concorrência como valor dominante nas relações econômicas e ampliou as fusões e concentração em grandes empresas; viabilizou a redução do custo do trabalho e implementou novas e inúmeras formas de flexibilidade laboral e reduziu o poder dos sindicatos; ampliou muito a terceirização no setor privado e público; avançou na desindustrialização de países; trouxe a reprimarização das economias em desenvolvimento; patenteou o conhecimento e o domínio sobre riquezas naturais; colocou o tripé macroeconômico – metas de inflação, metas fiscais e câmbio flutuante – como valor universal e o impôs aos países; mobilizou uma agenda permanente de reformas para fincar suas estacas de hegemonia do mercado.

Na dimensão social a ordem neoliberal promoveu o indivíduo a ente superior e enalteceu sua sobreposição ao coletivo; exacerbou o individualismo como virtude natural; a meritocracia foi alçada a valor natural para posicionar os indivíduos na hierarquia da sociedade; acirrou-se a competição para organizar a vida em sociedade; promoveu-se a transição da seguridade social para o seguro pessoal, da proteção social universal para a assistência aos carentes, da representação coletiva para a solução individual.

Na dimensão política a ordem neoliberal identificou a necessidade colocar limites às democracias para promover seus projetos e reformas. Para isso enfraqueceu continuadamente as instituições e a participação social; aumentou o poder e o controle da Justiça para comandar a ordem econômica e política; desqualificou projetos de nações e articulou golpes de Estado. O enquadramento nos seus marcos de governos sociais-democratas ou socialistas teve sucesso em muitos casos ou contextos, o que trouxe descrédito para essas forças sociais. As alianças com projetos neoconservadores e fascistas colocou-se como uma variante dura, mas necessária aos neoliberais democratas e nela se passou a atacar ainda mais o Estado Democrático de Direito, as instituições, a participação social, e foram enaltecidios os valores e as ideais ultraconservadoras, xenófobas, racistas, homofóbicas. Na política a eliminação dos adversários, inclusive física, tornou-se prática de alguns governos controlados pela da direita radical ou fascista.

Trata-se de um movimento mundial que ganhou prevalência crescente a partir dos anos 70 (na Europa a partir da Inglaterra de Thatcher, na América Latina a partir do Chile de Pinochet), que sofreu abalo com a crise mundial de 2008 e que se recuperou às custas de toda a sociedade.

A pandemia criou uma situação inédita, diferente da crise de 2008. Agora o travamento da economia foi global, paralisando as cadeias produtivas e os fluxos de abastecimento, recolocando em evidência a importância dos Estados nacionais, das políticas públicas de saúde, educação, assistência, da base industrial e da política de industrialização para o desenvolvimento com soberania, abriu questionamentos à globalização, expos os limites do tripé macroeconômico, enunciou saídas coletivas e o papel da comunidade; expos a avidez dos acionistas. Evidências que precisam ser permanentemente denunciadas, trabalhadas no coletivo com comunicação e debate público para construir as condições para sair do modelo neoliberal.

Novamente, talvez pela primeira vez de maneira simultânea, esse grande ciclo de hegemonia neoliberal e seus fundamentos estão sendo mais amplamente questionados. Os Estados passam a retomar protagonismo inéditos nas medidas adotadas, nas escalas dos recursos aportados ou na abrangência de políticas promovidas. Políticas públicas de combate à pandemia, com distribuição de renda e garantia dos empregos e, agora, com planos vultuosos e robustos de investimento em infraestrutura econômica e socioambiental, na reindustrialização ambientalmente sustentável, no combate às desigualdades, entre tantas outras, são medidas inéditas que passaram a fazer parte desse cenário repleto de incertezas. Será preciso dar lastro para esse salto ou guinada, sustentá-lo politicamente e usar a imaginação para criar e promover transformações do sistema capitalista.

A urgência climática carrega as várias crises ambientais (poluição dos mares, do ar, da terra, destruição de biomas, mortes de milhares de espécies, etc.) para a escala de alerta máximo. Trata-se de uma crise inédita que a humanidade criou para todas as formas de vida no planeta e para a qual a inação representará a morte de milhões, o sofrimento permanente para a grande maioria das sociedades e populações. Os trabalhadores e os pobres são os que mais sofrerão. Por isso, a vida e a saúde em escala planetária podem ser dimensões para configurar uma nova abordagem para o modelo de desenvolvimento futuro que se constrói desde hoje. Isso é urgente e inadiável e, infelizmente, a economia e a política têm dado respostas muito aquém do necessário, sem considerar as alucinações e a estupidez de governos como o de Bolsonaro ou Trump no tratamento a questão.

Nesse movimento estrutural neoliberal, para o mundo do trabalho se destacam os seguintes impactos, desafios e linhas de ação:

  • Reformas laborais realizadas em mais de 140 países, desde 2008, foram promovidas para flexibilizar formas de contratação, jornada de trabalho, formas de ocupação, direitos trabalhistas e a regulação do trabalho. O desafio futuro será:
    • Recolocar a centralidade da regulação através da negociação coletiva e da legislação das várias formas de proteção – laboral, social e previdenciária -pensadas com caráter universal para todas as formas de ocupação e de contrato.
    • Introduzir nas políticas públicas do mundo do trabalho a relação de complementariedade e a regulação inovadora entre/do trabalho produtivo e trabalho reprodutivo. Nesse campo ainda será fundamental avançar no compartilhamento das tarefas e atribuições familiares e de cuidados das crianças, idosos e doentes, tarefa hoje predominantemente realizada pelas mulheres e sem reconhecimento social, econômico e protetivo.
    • Reposicionar o papel e as estratégias das negociações coletivas envolvendo as cadeias produtivas, as empresas terceiras e os fornecedores diretos e indiretos, com entidades que tragam a representação ampliada de todos os trabalhadores do setor ou da cadeia produtiva.
    • Conceber novas abordagens legislativas para gerar proteção social, laboral e previdenciária ampla, bem como inovar na gestão das políticas relacionadas ao mundo do trabalho, com especial atenção para as questões que dizem respeito à saúde e segurança no trabalho.
    • Conceber novas formas de financiamento da seguridade social enunciada como direito universal em um mundo do trabalho com diferenciadas formas de ocupação (há países na América Latina que ¾ da população trabalha na informalidade, ou seja, sem proteção laboral e previdenciária).
    • Criar e promover uma nova arquitetura sindical para se colocar como sujeito coletivo estratégico nessa disputa e construção, desenvolvendo trabalho permanente de valorização dos sindicatos perante a sociedade.
  • Reformas para a exclusão sindical (financiamento, poder de negociação, atribuições retiradas, etc.), incentivo para a desfiliação (individualismo, meritocracia, criminalização do sindicato e dirigente, atuação das empresas, etc.), formas de ocupação distanciadas do campo sindical (terceirizados, autônomos, PJs, uberizados, home office, etc.). O desafio futuro será:
    • Realizar um trabalho de valorização dos sindicatos através de campanhas e atuação junto à base combinando o uso das redes sociais, a presença nos locais de trabalho e nos locais de moradia.
    • Implementar estratégia para ampliar a base de representação para todos os trabalhadores do ramo ou setor, o que implicará em um projeto estratégico de reestruturação sindical.
    • Desenvolver iniciativas inovadoras para a sindicalização dos trabalhadores assalariados e, principalmente, criar formas de filiar os não assalariados.
    • Criar estratégias de mobilização que coloquem os trabalhadores em movimento na realização das suas lutas, ações coletivas, campanhas, etc.
    • Desenvolver formas inovadoras de comunicação através das redes sociais e da criação de fatos que repercutam na grande mídia.
    • Reestruturar o movimento sindical à luz das mudanças no mundo do trabalho para responder aos velhos e novos desafios presentes e futuros (ampliar base de representação, formular estratégias de aumento da representatividade, agregação e fusão de sindicatos, estratégias de negociação, etc.).
    • Conceber um processo autônomo dos trabalhadores e suas organizações para elaborar e promover a restruturação sindical.
  • Fragilização do Estado Democrático de Direito, das instituições, organizações e movimentos de representação coletiva. O desafio futuro será:
    • Ampliar, com qualidade, o leque de relações institucionais.
    • Promover aproximações e atuação conjunta entre o movimento sindical e os movimentos sociais e populares.
    • Criar relações permanentes com o Poder Legislativo.
    • Valorizar o papel dos partidos e da vida política e dela participar.
    • Participar, de maneira intensa e inovadora, do debate públicos sobre os projetos de desenvolvimento, tendo como eixo articulador da abordagem sindical a geração de emprego de qualidade, o crescimento dos salários, a proteção laboral, social e previdenciária universais, o combate à desigualdade, o fim da miséria e da pobreza.

É muito importante considerar que esse ciclo estrutural de hegemonia neoliberal poderá ser superado se as forças progressistas forem capazes de criar os fundamentos e os componentes de transformações em múltiplas dimensões, como a ordem econômica, social, política, cultural. Entender que esse processo leva um tempo que não se pode mensurar, que exige continuidade da ação, condições para reunir força social e aglutinar capacidade política de longo prazo. É fundamental estar atento aos fatos que antecipam possibilidades para avançar e para encurtar o tempo da transformação. Conceber que a mudança estrutural depende tanto das pequenas como das grandes ações no contexto presente, sempre respondendo aos desafios reais da conjuntura, mas com processos sociais articulados a um projeto maior, a uma visão mais ampla.

Do nosso ponto de vista sindical, é necessário conceber que a “pane de imaginação” exige uma resposta criativa que esteja assentada na solidariedade e na cooperação, com fundamentos de igualdade, liberdade e democracia, elementos que precisam ser visíveis e sensíveis no cotidiano da luta, contidos nas propostas e projetos.

2. O contexto nacional

O contexto estrutural adquire sua forma real em cada contexto nacional. No Brasil identificamos três ciclos de projetos distintos nas duas últimas décadas.

O ciclo do projeto democrático e popular, materializado pelo governo Lula e Dilma, que resistiu ao ataque neoliberal e se contrapôs com uma estratégia de desenvolvimento inovadora e com novas alianças internacionais. Nesse ciclo, o país recolou seu projeto para a constituição e fortalecimento da demanda interna pelo crescimento dos salários como a política de valorização do salário mínimo; a geração de empregos; a retomada do protagonismo sindical através das negociações; a retomada articulada do investimento púbico em infraestrutura econômica e social; o combate às desigualdades através de políticas distributivas e de proteção social, com investimento em educação, saúde e assistência; a inserção soberana na economia global, valorizando relação Sul-Sul e com novas articulações internacionais; crescimento da produtividade pelo investimento de longo prazo em educação, pesquisa, tecnologia e inovação, entre outras inúmeras inciativas. Entretanto, não foi capaz de realizar a reforma tributária, a reforma política, a reforma do Estado, a reforma do pacto federativo, a reorganização do orçamento público, a consolidação das políticas sociais como permanentes, , entre outros. Todos esses aspectos representam déficits estruturais na estratégia de transformação.

Esse ciclo foi interrompido pelas brechas abertas no início do segundo mandato da presidente Dilma, com o (des)ajuste fiscal de Levi, com o esgarçamento da relação com o Congresso, com o aprofundamento da crise econômica, eventos que deram asas às clássicas práticas golpistas da elite econômica e política do país, com apoio da mídia e da Justiça, materializada no impeachment em 2016. A “ponte para o futuro” de Temer foi o “novo” velho projeto, que deu uma guinada no projeto de desenvolvimento Lula/Dilma para alinhá-lo à ordem e à agenda neoliberal. Começou com a entrega do pré-sal e empoderamento dos acionistas privados da Petrobrás; reduziu o papel do Estado e alavancou o protagonismo do mercado; realizou uma profunda flexibilização laboral com a Reforma Trabalhista. a Reforma Sindical e a terceirização sem limites; promoveu o ajuste fiscal demando pelo mercado com teto de gasto; fez andar os projetos de privatização e de redução do tamanho do Estado, entre tantas outras medidas. Esse ciclo conservador não foi capaz de gerar sua continuidade através do processo eleitoral e com a prisão de Lula, com os ataques e golpes contra o campo democrático, abriu-se caminhos para o fascismo e a direita ultraconservadora ocuparem o espaço da política e assumirem o governo.

O ciclo da “ponte para o futuro” virou uma pinguela e Bolsonaro viabilizou o terceiro ciclo com a hegemonia neoliberal do “Posto Ipiranga” na economia, de Damares e sua goiabeira, do incendiário homem da boiada, do astronauta, dos terraplanistas, da estupidez em estado bruto na educação e nas demais áreas do governo, realizando a regressão sem precedentes das políticas públicas, tudo assentado no discurso de defesa da família, dos costumes ultraconservadores, na fé, no medo ao comunismo etc. A destruição ambiental, a queima das florestas, de áreas do cerrado, do Pantanal, a expansão do agronegócio e da grilagem viraram bases das políticas públicas. Desindustrialização, fechamento de empresas, desemprego, emprego informal, desproteção, aumento da pobreza e da miséria fazem parte do cotidiano. A lista é extensa, mas cabe destaque as iniciativas de Bolsonaro em atacar sistematicamente as instituições e continuadamente armar golpes.

A pandemia criou obstáculos ao avanço da destruição de Bolsonaro e sua turma, mas trouxe com a intencional descoordenação do (des)governo federal, o negacionismo e aversão às orientações da ciência, muito sofrimento e mais de 600 mil mortes das quais mais de 2/3 seriam evitáveis. A economia travou e caiu 4,1% em 2020. A recuperação de 2021 recolocará, na melhor das hipóteses, o país na situação anterior.

O movimento sindical atuou de maneira unitária no enfretamento da pandemia junto ao Congresso Nacional, ao Supremo Tribunal Federal, aos governadores e prefeitos, ao empresariados, aos partidos e líderes partidários; propondo e articulando o Auxílio Emergencial, a proteção dos empregos e dos salários, o apoio às micro, pequenas e médias empresas; demandou políticas de proteção sanitária, rapidez na compra e aplicação da vacinação, acesso aos testes de covid, a ampliação dos protocolos de proteção, de distanciamento social, entre outros. Nas negociações coletivas, na solidariedade das entidades sindicais de base, as Centrais e os sindicatos disponibilizaram sedes e equipamentos para apoiar as ações do SUS e de seus profissionais, entre tantas outras ações. Em 2021as Centrais Sindicais se integraram na campanha Fora Bolsonaro.

A situação presente e prospectiva, diante dos gravíssimos retrocessos, coloca desafios que exigem resposta, tais como:

  • Recolocar o país orientado por um projeto de desenvolvimento econômico e socioambiental que dê centralidade à geração de empregos de qualidade, ao crescimento dos rendimentos do trabalho, à proteção laboral, social e previdenciária universal, ao combate das desigualdades e ao fim da pobreza e da miséria.
  • Reposicionar o projeto de industrialização orientado para a promoção da sustentabilidade ambiental, pelo incremento da produtividade e sua difusão para toda a economia e pela geração de emprego de qualidade.
  • Observar que o país reúne as melhores condições para uma resposta urgente ao aquecimento global, de um lado eliminando as queimadas, reduzindo o desmatamento, recuperando e preservando os biomas, promovendo energias renováveis (a Petrobras deve se tornar uma empresa de energia renovável), e de outro inovando no desenvolvimento produtivo conectado com o desafio ambiental.
  • Promover a valorização das micro, pequena e médias empresas e da economia solidária e popular em termos de gestão, crédito, assistência, inovação, comércio e compras governamentais.
  • Dar centralidade às políticas voltadas à segurança alimentar, ao fortalecimento da agricultura familiar e à industrialização que agrega valor nesse setor, com pesquisa e inovação.
  • Retomar investimentos estruturais e de longo prazo:
    • Na educação, para responder às novas tecnologias de comunicação e às mudanças na sociedade e no mundo do trabalho.
    • Na saúde, investindo no SUS e em seus inúmeros programas, e em pesquisa.
    • Nas políticas de segurança pública.
    • Nas políticas distributivas, recuperando o Bolsa Família, fortalecendo e expandindo sua abrangência e proteção.
  • Promover a reforma tributária solidária, gerando a progressividade do sistema tributário.
  • Reorganizar e aparelhar o Estado para ampliar e modernizar a capacidade de atuação.
  • Rearticular a capacidade produtiva do Estado (estatais) e bancos públicos.
  • Reconstituir as bases do financiamento da proteção social e torná-la universal.
  • Recriar espaços de participação social e de debate púbico sobre o orçamento da União, as prioridades das políticas econômicas, sociais, culturais;
  • Reconstruir um sistema público de trabalho, emprego e renda, para criar e promover programas de proteção dos empregos, dos desempregados, da intermediação de mão-de-obra, de qualificação profissional, para o primeiro emprego, para o microcrédito produtivo, entre outras importantes diretrizes.

Essas diretrizes devem fazer parte de escolhas estratégicas que permitam ao país mobilizar um movimento de transformação nas bases da economia, sociais, políticas e culturais. A agenda de reconstrução do país exigirá uma ordem de prioridade pois, não se conseguirá fazer tudo e ao mesmo tempo. Para isso, será necessário construir acordos sociais mais abrangentes, com compromissos, metas e planos.

Em termos de ordem de prioridade seria fundamental estabelecer de partida, nos primeiros 100 dias do novo governo:

  • Políticas vigorosas para transferir renda aos mais vulneráveis (miseráveis e pobres) por meio de políticas sócias integradas (Bolsa Família, educação, saúde, assistência, emprego, formação profissional).
  • Mobilizar investimentos públicos para retomar as obras paradas e realizar obras emergências para gerar rapidamente milhões de empregos.
  • Anunciar um amplo projeto de investimento em infraestrutura econômica(estradas, portos, aeroportos, energia, etc.) e em infraestrutura socioambiental (saúde, educação, assistência, segurança, recuperação + combate às queimadas e ao desmatamento, preservação das florestas e biomas, cuidados com meio ambiente, etc.), medidas que têm forte impacto na geração de emprego. Cabe ainda destacar que será estratégico um projeto de modernização urbana orientado pelas melhores práticas de sociabilidade, mobilidade, energia, uso do solo, saneamento, etc.
  • Projetos que juntos têm grande impacto virtuoso na geração de emprego para responder às demandas dos mais de 30 milhões que estão desempregados, desalentados, inativos, subempregados.
  • Essas ações mobilizarão a geração de emprego e de renda do trabalho, criarão capacidade de consumo e estruturarão de maneira consistente a demanda, base para o investimento privado que amplia a capacidade produtiva e dinamizar o crescimento econômico.

Alçar o país ao patamar de nação desenvolvida requer dobrar a atual renda média, o que deve vir acompanhado de medidas para reduzir as desigualdades. Trata-se de um projeto para uma ou duas décadas, de ação continuada e coordenada, de forte capacidade política de pactuação de compromissos, resultados e participação social.

3. E o jogo de curto prazo – 2022?

O processo eleitoral dominará o cenário de 2020, em especial pelo que significa o (des)governo Bolsonaro e diante da sua pretensão de reeleição, que conta hoje com apoio de parcela da sociedade.

A única alternativa para um projeto alinhado com as diretrizes acima exige a eleição de um governo alinhado com as diretrizes acima, que tenha um projeto de desenvolvimento para o país. Essa será a disputa central que configurará nosso futuro como nação. Diretamente associada a ela está a conformação de uma bancada no Congresso Nacional disposta a sustentar no Legislativo o projeto de país que sair das urnas.

Portanto, em 2022 a disputa eleitoral deve ser a prioridade primeira da sociedade civil organizada, por tudo que representa a continuidade do (des)governo Bolsonaro em termos de regressão econômica, social e política e o que pode significar um novo governo oriundo do campo da esquerda.

Essa prioridade será construída em um contexto situacional no qual:

  • A inflação estará no início do ano na casa dos 10%, tendendo a queda ao longo do ano. Isso tem trazido, e trará, severas dificuldades paras as negociações, onde quase 2/3 delas não conseguem repor a inflação acumulada.
  • O aumento dos preços se materializa no alto custo de vida, ou seja, na carestia para grande parte da população. Mesmo que a inflação volte para o centro da meta inflacionária, o custo de vida e a carestia ficarão altos.
  • O desemprego está na casa dos 13%, com mais de 30 milhões de pessoas formando o contingente de desempregados + os desalentados + os inativos + os subocupados.
  • O governo jogara com a folga fiscal de R$ 100 bilhões decorrente da PEC 23 (Precatórios) para buscar a sua reeleição.
  • A economia terá novamente um baixo crescimento – hoje estimado na mediana de 0,7% para o ano. O Banco Central atuará elevando os juros, portanto, colocando o pé no freio do crescimento econômico.
  • O dólar deve permanecer na casa dos R$ 5,50, o que representa alto custo dos insumos importados e pressão dos preços dos combustíveis.
  • No jogo político continuará a busca da “terceira via” e sua viabilização. A grande imprensa joga peso no processo eleitoral, hoje com audiências mais distribuídas entre as grandes redes. Já as redes sociais focarão novamente com todos os riscos, nas fake news e há dificuldade de controlá-las. A Justiça Eleitoral terá papel essencial. Lutar por eleições livres e transparentes é uma ação fundamental.
  • Seria muito importante construir uma vitória nas eleições do campo democrático já no primeiro turno, o que exige um arranjo político (nacional e estados) nada trivial, complexo e com abertura para acordos que não serão simples de se materializar.
  • Teremos ainda que seguir com os cuidados para enfrentar os desdobramentos da pandemia, sejam decorrentes das novas ondas que poderão requer iniciativas oudo surgimento de novas cepas. Lutar por investimentos em pesquisa de medicamentos e liberação da produção de genéricos; pela garantia da 3ª dose da vacinação e das doses necessárias em 2022, divulgar a necessidade de uso de máscara, de manter distanciamento e higienização constante das mãos são algumas das ações necessárias.
  • O enfretamento da retomada da atividade econômica frente ao travamento das cadeias de fornecedores, as dificuldades de fornecimento e de custos, entre tantos outros desafios, exigem ações coordenadas que inexistem no país.

4. O que esperar para 2023

Um novo governo assumirá em 2023 em um contexto de grande adversidade:

  • O país terá completado quase uma década de uma economia de baixo crescimento, duas duras recessões e uma dinâmica produtiva rastejante, que levou ao empobrecimento da milhões de brasileiros. Será decisivo uma iniciativa rápida e ousada nesse campo, como indicado acima.
  • A situação fiscal não estará fácil, com o teto do gasto colocando os mais variados limites para a ação do novo governo. A receita fiscal está em patamar semelhante ao de 10 anos atrás, contudo a despesa aumentou.
  • Lula assumiu em 2003 com superávit fiscal de 2,3% do PIB. Estima-se que em 2023 o país terá um déficit fiscal que pode chegar a 2% do PIB.
  • Investimento público destruído em todas as áreas.
  • Crises ambiental (desmatamento, queimadas, Amazônia, etc.), social (pobreza, fome, miséria, desemprego), econômica (carestia, anemia da demanda, falta de investimento), relações internacionais esgarçadas.

As fraturas que recepcionarão o novo governo exigirão uma resposta rápida, ousada e inovadora. A “pane de imaginação” precisa ser superada, o tempo corre e há muito trabalho no curtíssimo prazo para eleger um novo governo em 2023, para criar e articular um projeto ousado para ser implementado já nos primeiros 100 dias de governo.

Vencida a eleição, será preciso garantir a posse, em uma transição que será intencionalmente tumultuada (a hipótese aqui é de vitória do campo democrático, situação que exigirá muito trabalho).

5. Desafios para a organização sindical

Por fim, vamos pensar os desafios para a organização sindical.

As mudanças no mundo do trabalho avançam e a organização sindical vai se distanciando dessa nova dinâmica. É urgente avançar na reestruturação do movimento sindical.

Por isso, cabe ao movimento sindical, desde já:

  • Assumir um protagonismo transformador da sua organização (reestruturação sindical).
  • Declarar que a reestruturação é e será um projeto e um processo desenvolvido nos marcos e espaços da autonomia da classe trabalhadora.
  • Definir que asas diretrizes que orientarão a reestruturação serão:
    • Ampliar a representação para abranger todos os trabalhadores.
    • Promover ampla sindicalização aumentando a representatividade sindical.
    • Favorecer a unidade e a agregação no espaço da liberdade sindical.
    • Valorizar a negociação coletiva, inclusive no setor público.
    • Criar mecanismos ágeis de solução de conflito.
    • Criar um sistema sindical e de relações de trabalho com a mínima interferência do Estado.

Por fim, cabe destacar que essas tarefas precisam ser viabilizadas desde já. Não há tempo para perder, muito menos gastar tempo em disputas interna. É tempo de olhar a floresta, sabendo que há árvores. É tempo de construir um projeto para dar vida à floresta. Se houver vida na floresta, poderemos cuidar de cada uma das árvores. Destruída a floresta, as árvores perecerão junto.

 

Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, consultor sindical, assessor do Fórum das Centrais Sindicais e ex-diretor técnico do DIEESE.

 

DMT: https://www.dmtemdebate.com.br/desafios-para-o-sindicalismo-a-partir-de-2022-mudar-radicalmente-o-rumo-do-desenvolvimento-do-pais/

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

Otimismo de Paulo Guedes sobre economia reforça ‘mundo encantado’ dos mais ricos

O otimismo do ministro Paulo Guedes sobre a economia do Brasil, diante do aumento da fome e a diminuição da renda do brasileiro, mostra que o integrante do governo Bolsonaro só olha na perspectiva dos mais ricos, criando um “mundo encantado” próprio. A avaliação crítica é do diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior.

Segundo Guedes, ao citar a arrecadação de impostos federais, a economia “está decolando” e o Brasil irá “crescer ainda mais”. Enquanto o ministro projeta um país em crescimento, a economia nacional segue em retração, após divulgação do último Produto Interno Bruto (PIB).

O diretor do Dieese afirma que o PIB, ao apontar o encolhimento da economia, reflete em algo sentido pela população há bastante tempo. “A economia está longe de ser pujante, como o ministro tenta mostrar. Estamos com uma queda em relação aos meses anteriores, vivendo uma recessão técnica”, afirmou Fausto, em entrevista ao jornalista Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual.

“É um período econômico aquém da necessidade do Brasil. A falta de crescimento econômico vem impactando a vidas das famílias. O desemprego está alto e a capacidade de compra está cada vez menor. Por isso, o Brasil voltou a ver a fome assolando casas e a insegurança alimentar atingir metade do país. No mundo encantado do Paulo Guedes, onde só se olha para os mais ricos, está tudo bem”, acrescentou.

Menos direitos, menos dinheiro

Sem uma renda que ajude a pagar todas as contas de casa, o brasileiro pode ser numa situação ainda pior, em breve. Um estudo encomendado pelo governo busca subsidiar nova reforma trabalhista, que propõe, entre outras medidas, trabalho aos domingos e proibir o reconhecimento de vínculo de emprego entre prestadores de serviço de aplicativos.

Na avaliação de Fausto, novamente o governo federal coloca as fichas na ideia do trabalhador escolher entre trabalho e direitos. Para ele, a questão dos aplicativos precisa ser olhada com cuidado. “Querem tirar da discussão trabalhista, colocando os trabalhadores como ‘empreendedores’. Há controle de jornada, controle de remuneração. Isso tudo define o vínculo empregatício”, alertou.

“Para piorar, esse relatório fala sobre diminuição da Justiça do Trabalho e alteração na legislação sindical. Novamente, vemos uma redução da proteção do trabalhador, limitando a fiscalização, longe de ser uma proposta para lidar com os desempregados e informais. O governo está tirando direitos e colocando o capital como referência de tudo.”

 

FonteRede Brasil Atual
Data original da publicação: 06/12/2021

 

DMT: https://www.dmtemdebate.com.br/otimismo-de-paulo-guedes-sobre-economia-reforca-mundo-encantado-dos-mais-ricos/

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

TST anula acordo firmado por sindicato sem anuência de trabalhadores

A anulação diz respeito a 62 empregados que não assinaram a concordância.

 

A Subseção II Especializada em Dissídios Individuais (SDI-2) do Tribunal Superior do Trabalho desconstituiu acordo firmado entre a Nexans Brasil S.A., de Lorena (SP), e o sindicato da categoria em relação a 62 empregados que não assinaram declaração de anuência. Segundo o colegiado, o sindicato não pode atuar na defesa dos direitos dos trabalhadores substituídos por ele sem sua autorização expressa, nem mesmo sob a alegação de que o acordo teria sido aprovado em  assembleia.

Ação coletiva

O caso teve origem com uma ação coletiva ajuizada pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Campinas e outros municípios contra a empresa, requerendo, entre outros, o pagamento do adicional de periculosidade e do intervalo intrajornada suprimido. O juízo de primeiro grau julgou a ação parcialmente procedente. 

Ajustes acordados

As partes recorreram e, antes do julgamento do recurso interposto ao Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas/SP), celebraram um acordo, por meio do qual a Nexans se comprometia a pagar 70% do valor bruto do adicional de periculosidade apurado na ação trabalhista originária, mais 15 minutos, a cada empregado, pela supressão do intervalo intrajornada. O acerto, homologado em juízo, envolvia mais de 600 empregados.

Limites

Após o esgotamento das possibilidades de recurso (trânsito em julgado), o Ministério Público do Trabalho ajuizou ação rescisória, com o argumento de que o sindicato teria ultrapassado os limites legais de sua atuação, adotando conduta que exigiria autorização expressa de cada substituído. Segundo o MPT, para a validade da transação, seria imprescindível a autorização individual de cada empregado, que contara com a presença de apenas 108 trabalhadores.

Em sua defesa, a empresa e o sindicato sustentaram que, além da votação em assembleia, cada substituído teria assinado declaração individual de anuência com os termos do acordo, à exceção de 62 que não teriam sido localizados.

A ação rescisória foi julgada improcedente pelo TRT, levando o MPT a interpor recurso ordinário ao TST.

Renúncia a direitos

O relator, ministro Dezena da Silva, observou que, a partir da leitura dos termos do acordo, conclui-se que ele envolve renúncia a direitos dos trabalhadores pelo sindicato. Em relação ao adicional de periculosidade, reconhecido em dois laudos periciais, o ente sindical abriu mão de 30% da parcela. Quanto ao intervalo intrajornada reduzido para 15 minutos, o ministro destacou que a legislação vigente na época impunha o pagamento de uma hora em caso de redução parcial, além de fixar a natureza salarial da parcela, tornando devida a sua repercussão nas demais parcelas.

Quitação ampla

Segundo o relator, embora o pagamento do acordo estivesse restrito aos trabalhadores catalogados em planilha anexada ao processo matriz, a quitação ampla e geral alcançava todos os trabalhadores ativos e inativos.  “Nesse contexto, o sindicato não poderia dispor do direito material dos substituídos, cuja titularidade lhes pertence única e exclusivamente”, explicou.

Autorização

O ministro assinalou, ainda, que o sindicato pode atuar na defesa dos direitos dos substituídos, mas não sem sua autorização expressa, nem mesmo sob a alegação de que o acordo teria sido aprovado em  assembleia sindical. Na sua avaliação, essa aprovação não estende seus efeitos sobre trabalhadores que não participaram da votação, porque o votante é titular apenas do seu direito material e não tem legitimidade para, com seu voto, deliberar sobre direitos de terceiros.

Por maioria, a SDI-2 desconstituiu a sentença homologatória do acordo judicial em relação aos trabalhadores que não consentiram com ele, determinando o prosseguimento da reclamação trabalhista originária. Quanto aos demais, o vício de consentimento não se caracteriza. 

Ficaram vencidos as ministras Delaíde Miranda Arantes e Maria Helena Mallmann e o ministro Evandro Valadão, que entendiam que os trabalhadores eventualmente insatisfeitos com o acordo poderiam recorrer individualmente à Justiça .

(MC/CF)

Processo: RO-5049-58.2015.5.15.0000

 

Tribunal Superior do Trabalho

http://tst.jus.br/web/guest/-/tst-anula-acordo-firmado-por-sindicato-sem-anu%C3%AAncia-de-trabalhadores%C2%A0

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

Manuela D’Ávila: “Brasil se tornou país da fome, desemprego e desespero”

A ex-deputada faz referência a reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo, que explicita a extrema insegurança alimentar vivida por famílias no interior do estado

 

por Priscila Lobregatte

 

Os múltiplos relatos sobre o aumento da fome e da miséria no Brasil escancaram o total fracasso do governo de Jair Bolsonaro. Indignada com a situação, a jornalista e ex-deputada do PCdoB, Manuela D’Ávila, voltou a manifestar sua indignação, nesta terça-feira  (7), frente à situação estarrecedora vivida por milhões de brasileiros espalhados por todas as regiões do país.

“Enquanto Bolsonaro brinca de ser presidente, famílias do Rio Grande do Norte comem lagartos e restos de carne. O Brasil se tornou o país da fome, do desemprego e do desespero. Nosso povo busca por ossada de boi, restos e lagartos porque não têm vê mais saída. Precisamos mudar esse retrato!”.

Manuela fez referência a reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo, que explicita a extrema insegurança alimentar vivida por famílias no interior do estado, situação que se repete em muitas outras localidades do país, onde pessoas recorrem a restos de ossos e disputam espaço nos caminhões de coleta de lixo atrás de algum alimento para a sobrevivência.

 

A reportagem aponta, entre outros fatores, o alto preço dos alimentos e do gás, o fim do auxílio emergencial, a falta do Bolsa Família, a insuficiência no valor dos benefícios, o alto índice de desemprego e a queda acentuada no poder de compra como problemas que agravam a penúria das famílias.

De acordo com o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar, da Rede Penssan, de novembro do ano passado, estima-se que haja 19 milhões de pessoas com fome no Brasil  — ou seja, 9% do total da população. Conforme comparativo feito pela revista Piauí, o número equivale a quase toda a população do Chile, que é de 19,6 milhões de pessoas. Além disso, 55% da população enfrenta algum nível de insegurança alimentar.

Ainda de acordo com a revista, “em 2020, 34% dos domicílios onde os moradores perderam o emprego estavam em situação de insegurança alimentar moderada/grave; nos lares onde os moradores continuaram com a jornada de trabalho normal, a fome atingiu 10%”. E acrescenta que “a parcela média do Auxílio Brasil, programa do governo que substituirá o Bolsa Família em 2022, não compra uma cesta básica em nenhuma das capitais listadas pelo estudo. A mais barata da lista, a de Aracaju, custa R$ 464,17, o dobro do benefício médio, que é de R$ 224,41”.

 

Fonte: Portal do PCdoB com agências

https://vermelho.org.br/2021/12/07/manuela-davila-brasil-se-tornou-pais-da-fome-desemprego-e-desespero/

Desafios para o sindicalismo a partir de 2022: mudar radicalmente o rumo do desenvolvimento do país

Centrais sindicais repudiam desmonte da CLT

As centrais sindicais emitiram nota, nesta segunda-feira (6), em repúdio à proposta do governo de Jair Bolsonaro de tentar impor o desmonte da CLT. Segundo as entidades, a modificação em 330 dispositivos legais e a inclusão de 110 regras fortalece o patronal, ao invés de equilibrar as forças nas negociações. Dentre as mudanças, a principal é a legalização do locaute, penalizando trabalhadores e sociedade. Na Agência Sindical

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“A alegação é a mesma de sempre. Promover ampla liberdade e, segundo eles, fortalecer a negociação. Ampla liberdade aqui, cabe dizer, é o livro exercício da lei do mais forte, em sua expressão mais selvagem. Fortalecem os patrões, ao invés de equilibrar as forças nas negociações”, denunciam as centrais.

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Os sindicalistas denunciam que o governo trabalhou por mais de 2 anos sem assegurar o diálogo e a participação dos trabalhadores por meio das entidades sindicais. Agora, essas mudanças na CLT serão prejudiciais aos trabalhadores.

“Ao invés de modernizar, estão restabelecendo a mentalidade da República Velha, a perversa lógica escravista e o predomínio da força ao invés do entendimento nas relações de trabalho”, criticam os sindicalistas.

As centrais ressaltam que essa nova proposta de desmonte da CLT visa dar amplos poderes ao capital e minar ainda mais as instituições, como as entidades sindicais e a Justiça do Trabalho. “Que funcionam como freios e contrapesos para que o sistema econômico seja mais justo”, ressalta o documento.

Eis a nota na íntegra:

Repudiamos a nova proposta indecente do governo

Na contramão de países engajados no crescimento, como EUA, Alemanha e China, o governo brasileiro insiste em tirar direitos da classe trabalhadora deixando o povo cada vez mais pobre e com menos recursos.

O novo relatório do Grupo de Altos Estudos do Trabalho — Gaet, complementando o desmonte da CLT iniciado em 2017, propõe a modificação de “ao menos 330 alterações em dispositivos legais, a inclusão de 110 regras — entre artigos, parágrafos, incisos e alíneas —, a alteração de 180 e a revogação de 40 delas”, conforme noticiou o jornal Folha de SP. Entre as medidas estão a desregulamentação do trabalho aos domingos, deixando a gerencia do serviço à bel prazer do patrão, a descarada proibição do reconhecimento de vínculo empregatício entre prestadores de serviço e aplicativos e a legalização do locaute, institucionalizando o lobby empresarial, penalizando de forma nefasta os trabalhadores e a sociedade.

A alegação é a mesma de sempre: “promover ampla liberdade” e, segundo eles, “fortalecer a negociação”. Ampla liberdade aqui cabe dizer o livre exercício da “lei do mais forte” em sua expressão mais selvagem. Fortalecem os que já são fortes, os patrões, ao invés de equilibrar as forças nas negociações.

Trabalharam mais de dois anos sem assegurar o diálogo social e a participação dos trabalhadores por meio de seus sindicatos, federações, confederações e centrais sindicais. Agora, propõem mudanças imensas na legislação trabalhista, de novo em prejuízo da classe trabalhadora. Ao invés de modernizar estão restabelecendo a mentalidade da República Velha, a perversa lógica escravista, e o predomínio da força ao invés do entendimento nas relações de trabalho.

Uma mentalidade contrária aos ajustes sociais que visam minimizar as desigualdades. O mundo, após pagar um alto preço pela fase de extravagâncias neoliberais, caminha para retomar uma maior regulação do trabalho. Isso porque, ao contrário dos que defendem o indefensável: a desregulamentação e o salve-se quem puder, as leis e os direitos trabalhistas garantem maior segurança tanto ao empregado quanto ao empregador.

No fim de novembro foi noticiado que “Greves e pedidos de demissão em massa: o movimento que pode resultar em ‘CLT’ nos EUA”. Em maio de 2021, motoristas de Uber foram reconhecidos pela Suprema Corte do Reino Unido como trabalhadores legalizados. Na Alemanha, o novo primeiro ministro, Olaf Scholz, tomou a decisão de aumentar o salário mínimo para aumentar o consumo e diminuir o desemprego. No Brasil o TRT-4 reconheceu, em setembro, o vínculo entre motorista e a empresa Uber. São exemplos que mostram que há uma tendência à regulamentação e que a precarização causa problemas sociais.

Mas a intenção do governo, ao que parece, é aumentar o exército industrial de reserva, que é aumentar o desemprego, que no Brasil sempre foi grande, para daí normatizar a exploração e a precarização. É criar dificuldade para vender facilidade. Neste caso, criar miséria absoluta para vender pobreza. A nova proposta de desmonte da CLT visa dar amplos poderes ao capital e minar ainda mais instituições como as entidades sindicais e a Justiça do Trabalho, que funcionam como freios e contrapesos para que o sistema econômico seja mais justo.

Reiteramos que o desenvolvimento e a geração de empregos e renda vêm de investimentos no setor produtivo e do consumo garantido por segurança, direitos, salários valorizados e programas sociais. Não aceitaremos imposições arbitrárias.

Estamos vigilantes. A luta é de toda a Classe Trabalhadora!

São Paulo, 6 de dezembro de 2021

Sergio Nobre, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores)

Miguel Torres, presidente da Força Sindical

Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores)

Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)

Moacyr Auersvald, vice-presidente da CST (Central Sindical de Trabalhadores)

Antonio Neto, presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros)

 

Diap

https://diap.org.br/index.php/noticias/agencia-diap/90901-centrais-sindicais-repudiam-desmonte-da-clt