Mesmo com pandemia e desafios impostos por escassez e aumento nos custos dos materiais, expectativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para o PIB do setor em 2021 subiu de 2,5% para 4%.
Brasília – O setor da construção começou 2021 com expectativa de crescer 4% no ano. Com os desafios decorrentes da pandemia e a continuidades dos aumentos nos custos dos materiais, esse número foi reduzido para 2,5% em março. Agora, apesar da capacidade de produção limitada, principalmente em função do desabastecimento e do aumento do preço do aço, a expectativa da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) para o PIB do setor voltou a subir para 4%, o que seria seu maior crescimento desde 2013.
As informações fazem parte do estudo Desempenho Econômico da Indústria da Construção do 2º trimestre de 2021, realizado pela CBIC e apresentado durante evento online nesta segunda-feira (26). Assista ao vídeo da transmissão no canal da CBIC no YouTube.
Em junho, o nível de atividade do setor atingiu 51 pontos. Foi o melhor desempenho desde setembro do ano passado (51,2 pontos) e também o melhor mês de junho desde 2011, quando o indicador alcançou 51,7 pontos. O resultado alcançado em junho de 2021 também foi o melhor observado no primeiro semestre do ano e é superior à média histórica do índice (45,6 pontos). Os números são da Sondagem Indústria da Construção, realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com o apoio da CBIC.
Para o presidente da CBIC, José Carlos Martins, apesar dos resultados positivos, a construção está crescendo bem abaixo de sua capacidade. “A construção é como uma Ferrari com freio de mão puxado. Poderia ser um ano histórico em termos de crescimento e contratação de trabalhadores. Mas alguns fatores, como o aumento dos insumos, criaram temor nos empresários e acabou que não estamos com a atividade que poderíamos estar”, afirmou Martins.
Escassez e aumentos
A falta ou o alto custo de matéria-prima continua sendo o principal problema enfrentado pelos empresários da construção pelo quarto trimestre consecutivo, alcançando 55,5% dos pesquisados na Sondagem. Desde o 3º trimestre de 2020, o setor vem sentindo os efeitos do aumento expressivo nos custos dos seus insumos.
O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado e divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), acumulou, nos últimos 12 meses encerrados em junho, alta de 17,36%. Esse resultado é justificado pelo incremento expressivo no custo com materiais e equipamentos, que no mesmo período registrou alta de 34,09%. Trata-se de um recorde histórico para o período desde que a série começou a ser divulgada pela FGV, em 1996.
A elevada carga tributária foi apontada pelos empresários como o segundo principal problema enfrentado no 2º trimestre de 2021. Na comparação com o trimestre passado, esse foi o item com maior crescimento nas assinalações, passando de 24,7% para 31,5%.
Expectativas e projeções
De acordo com a Sondagem Indústria da Construção, as expectativas dos empresários do setor permanecem positivas em julho, apesar de menos intensas do que em junho.
Considerando a melhora nas atividades no final do 2º trimestre e a manutenção do nível de atividade atual, a expectativa é que o PIB do setor poderá registrar alta de 4% em 2021. Caso confirmado, esse será o melhor desempenho da construção desde 2013, quando o crescimento foi de 4,5%.
O incremento do financiamento imobiliário, as taxas de juros ainda em baixo patamar, a melhora do ambiente econômico, a demanda consistente, mesmo diante da pandemia, e a continuidade de pequenas obras e reformas são algumas das razões que ajudam a justificar a projeção atual.
Segundo a economista da CBIC, Ieda Vasconcelos, essa melhora não significaria um forte crescimento. “É preciso considerar que de 2014 até 2020 o setor acumulou uma queda de 33,34%. E mesmo com o crescimento de 4% em 2021, a retração desse período continuará superior a 30%, o que é bastante expressivo. A construção precisará continuar a crescer mais alguns anos nessa intensidade para que a recuperação total aconteça”, disse.
Atividade
A média do Índice do Nível de Atividade para o setor, no 2º trimestre de 2021, foi a melhor, para o período, desde 2012. A demanda consistente por imóvel, as baixas taxas de juros, o incremento do crédito imobiliário, o novo significado da casa própria para as famílias e a melhora nas expectativas para a economia são alguns dos fatores que ajudam a explicar esse resultado.
Desagregando o indicador do Nível de Atividade da Construção por segmento, observa-se que o maior ritmo está na Construção de Edifícios, enquanto as Obras de Infraestrutura e os Serviços Especializados, apesar do incremento observado nos últimos meses, ainda estão em patamares de queda.
A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) das empresas de construção cresceu um ponto percentual em junho, em relação a maio, e atingiu o seu maior patamar (64%) desde novembro de 2014 (66%). O resultado também é superior à média histórica do indicador (62%).
Marcelo Souza Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que a combinação de percepção de uma situação melhor e a expectativa progressiva de melhoria é o que reflete na confiança do empresário. “O aumento dos materiais é um entrave não só da construção civil, mas de toda indústria da transformação, que também vem sendo afetada. Antes, o principal problema relatado pelos empresários era o percentual de carga tributária e agora é a questão do aumento dos insumos. Essa situação segura um pouco as expectativas, mas ainda há confiança apesar da acomodação nos últimos meses”, explicou Azevedo.
Emprego
A construção finalizou o mês de maio com 2,430 milhões de trabalhadores com carteira assinada, de acordo com dados do Ministério da Economia. Em maio de 2020, esse número correspondia a 2,113 milhões. Assim, o incremento no estoque de trabalhadores no setor em um ano foi de 15,01%.
Nos primeiros cinco meses de 2021, a construção gerou 156.693 novos postos de trabalho com carteira assinada. Usando como referência os resultados do Caged e do Novo Caged, observa-se que este foi o melhor resultado, para o período, desde 2012. A expectativa é que o setor gere 350 mil novos empregos em 2021.
De acordo com o presidente da CBIC, sem os entraves que impedem um crescimento mais acentuado a construção poderia gerar 600 mil novos postos de trabalho este ano. “O número de trabalhadores com carteira assinada comprova essa expectativa de ascensão, pois mão de obra não se estoca. Se dividir o saldo positivo de 317 mil novas vagas que tivemos em 12 meses pelo número de dias úteis, 1.250 novos trabalhadores foram contratados por dia. Ou seja, são 1.250 famílias que passaram a ter seu sustento via construção civil. E quando geramos 1.250 empregos por dia, podemos multiplicar por 1,5 de empregos indiretos, o que significa um grande apoio para a economia do Brasil, ajudando na recuperação do país em um momento tão difícil como esse de pandemia”, destacou Martins.
SÃO PAULO – A construção de edifícios puxou a atividade do setor da construção civil, que no primeiro trimestre registrou o maior nível de atividade desde 2012. As informações são da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e foram divulgadas na manhã desta segunda-feira (26).
O Índice de Nível de Atividade da Construção ficou em 48,6 pontos entre abril e junho deste ano, o mais alto desde os 49,1 pontos registrados no segundo trimestre de 2012. Entre os fatores que explicam o resultado estão a demanda consistente por imóveis, as baixas taxas de juros, o incremento do crédito imobiliário, a melhora nas expectativas para a economia e o “novo significado” que a casa própria adquiriu para as famílias desde que a pandemia de coronavírus começou.
Em junho, o índice passou da marca dos 50 pontos pela primeira vez neste ano, alcançando 51 pontos. O segmento de construção de edifícios se saiu melhor que os outros, com 51,5 pontos. O nível de atividade nas obras de infraestrutura (49,8) e nos serviços especializados para construção (49), que também são incluídos no índice da CBIC, ficaram abaixo dos 50 pontos. A superação desse patamar indica uma perspectiva otimista, enquanto a permanência em um nível inferior sugere um cenário mais pessimista.
Na visão dos empresários da construção civil, o principal problema enfrentado no setor é a falta ou o custo elevado das matérias-primas, apontado por 55,5% dos participantes da Sondagem da Indústria da Construção. A carga tributária alta, que costumava ser o primeiro colocado da lista, é o segundo há quatro trimestres, com 31,5% das respostas, seguida pela burocracia excessiva, com 21,6%.
Nos 12 meses encerrados em junho, o Índice Nacional da Construção Civil (INCC) – indicador de inflação do setor calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) – acumulou alta superior a 17%. Enquanto o componente da mão de obra subiu 7,74% no período, o de materiais e equipamentos avançou 34,09%. Foi o maior patamar em toda a série histórica do INCC, iniciada em 1997.
“Esse é um fato que ninguém poderia esperar, causando um profundo desarranjo entre vários elos da cadeia produtiva”, disse José Carlos Martins, presidente da CBIC. Tubos e conexões de ferro e aço, cujos preços avançaram 91,66% em 12 meses, tiveram a maior contribuição na inflação da construção civil. Em segundo lugar estão os vergalhões e arames de aço ou carbono (78,37%), os condutores elétricos (76,21%) e os tubos e conexões de PVC (64,92%).
A disponibilidade de crédito imobiliário tem sido um dos principais indutores para o setor neste ano. As linhas vinculadas ao funding da caderneta de poupança somaram financiamentos de R$ 97 bilhões no primeiro semestre, um recorde e mais que o dobro do verificado no mesmo período do ano passado.
Já os financiamentos que partem dos recursos mantidos no FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), voltados para as famílias de menor renda, estão diminuindo desde 2018. No primeiro semestre de 2021, somaram R$ 25 bilhões, 6,52% menos do que o verificado no mesmo período do ano passado.
Na visão de Martins, isso resulta de “erros” dos últimos governos ao permitir que os trabalhadores realizassem mais saques nas suas contas do FGTS, o que resultou em um volume menor de recursos no fundo passíveis de serem utilizados pela construção civil. “Com isso, a baixa renda perde a capacidade de compra de um imóvel”, disse.
A produção de cimento, por exemplo, está 22% superior ao que registrava em 2019. No setor de papel, o crescimento é de 15% e no de plásticos, de 7,9% Por Estadão Conteúdo
Entre 13 dos mais importantes setores da indústria brasileira, 10 já retomaram ou superaram, nesta metade do ano, níveis de atividade que exibiam antes da chegada da covid-19 ao país.
A produção de cimento, por exemplo, está 22% superior ao que registrava em 2019. No setor de papel, o crescimento é de 15% e no de plásticos, de 7,9%. A expectativa é que esses setores possam seguir acelerando, ancorados, principalmente, no avanço da vacinação, que pode elevar o consumo. Mas há algumas barreiras a serem superadas para que isso aconteça.
A maior preocupação é que uma nova cepa do vírus obrigue governos a novamente adotarem medidas de isolamento, o que poderia ter efeito direto na esperada recuperação da economia. Mas há também os desafios da pressão de custos de matérias-primas e de energia elétrica, juros mais altos, desemprego e falta de componentes para a produção em alguns setores.
Pedro Renault, economista do Itaú Unibanco, diz que a tendência para o segundo semestre é de “normalização”, embora não plena, em vários segmentos. Para ele, parte da indústria está com atividade aquecida mais em razão de reposição de estoques do que por crescimento da demanda. Segundo ele, o consumo de bens duráveis, por exemplo, tende a diminuir em segmentos como o de eletroeletrônicos.
Renault também alerta para o aumento dos juros, que muda a capacidade de investimento das empresas e a do consumidor em se financiar. “Isso tende a tirar um estímulo da economia que está presente agora.” A taxa Selic está hoje em 4,25% ao ano. A projeção de economistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus é de que termine o ano a 6,75%.
Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), também vê um cenário positivo, “mas não dourado”, para o segundo semestre. Para ele, há vários obstáculos, como a alta do preço da energia, que deverá ser repassada às mercadorias. “A energia corrói parcela significativa da renda do consumidor e sobra menos para o consumo.”
Demanda alta
Levantamento feito pelo Itaú Unibanco indica que entre os setores com desempenho acima do período pré-pandemia está o siderúrgico – com boa parte da demanda vinda da construção civil -, e o de embalagens que, por sua vez, movimenta a indústria de papel.
Na área da siderurgia, a produção de aço bruto cresceu 4% na primeira metade do ano na comparação com igual período de 2019, com um total de 18 milhões de toneladas. No ano passado, com muitos fornos desligados nos primeiros meses da crise, foram produzidas 14,6 milhões de toneladas.
A perspectiva inicial do setor para este ano inteiro era de alta de 6,7% na produção ante 2020, mas em maio o índice foi revisto para 11% e, neste mês, para 14%, o que daria 35,8 milhões de toneladas, informou Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil. Se confirmado, o volume será quase 10% superior ao de antes da covid-19.
“Consumo de aço e desenvolvimento econômico andam juntos, não é à toa que está se fazendo revisão de PIB, pois, de fato, está ocorrendo uma recuperação”, diz Lopes. O Aço Brasil trabalha com a expectativa de alta de 5% na economia este ano.
Já a indústria de papel aumentou sua produção em 15% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2019, numa soma de 1,99 milhão de toneladas, de acordo com dados da Associação Brasileira de Embalagens em Papel (Empapel). Parcela importante da demanda veio do crescimento de compras pelo e-commerce e do delivery de alimentos.
Componentes
Ao contrário dos fabricantes de aço, o setor automotivo está na lista dos mais distantes em retomar níveis de antes da pandemia. A produção de veículos está 21,8% abaixo dos números de 2019, com 1,15 milhão de unidades registradas na primeira metade do ano.
Renault, do Itaú Unibanco, pondera que a demanda por veículos está aquecida, mas há um gargalo no fornecimento de semicondutores que tem levado várias montadoras a interromperem a produção. Com isso, faltam veículos nas revendas. O modelo mais vendido no País atualmente, a picape Fiat Strada, tem fila de espera de três meses.
“Apesar da produção menor, o setor está conseguindo aumentar preços, preservando um pouco melhor as margens, e está priorizando a produção de veículos mais rentáveis”, diz Renault. Segundo ele, embora o volume produtivo esteja bem abaixo de 2019, a saúde financeira do setor não é tão preocupante.
Segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, entre 100 mil a 120 mil veículos deixaram de ser produzidos no primeiro semestre por causa da escassez de itens eletrônicos, o que ajuda a retardar a recuperação do setor. “Trabalhamos com período de três anos, mais ou menos, para voltarmos aos patamares de 2019.”
A Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) diz que o setor pretendia comprar 800 mil veículos novos no decorrer do ano. Em razão das dificuldades de produção, a entidade acredita que no máximo 50% desse potencial será realizado, com compras entre 380 mil a 400 mil automóveis e comerciais leves.
Outro setor que enfrenta esse tipo de escassez, embora em menor escala, é o de eletroeletrônicos. Em junho, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 46% das empresas relataram dificuldades em obter componentes eletrônicos vindos da Ásia, porcentual que chegou a 58% em abril. Ainda assim, de janeiro a maio o setor melhorou em 1,8% seu índice de produção ante igual período de 2019.
Varejo
Fora da área industrial, um setor com elevadas perdas desde o início da pandemia é o comércio varejista. Fabio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), calcula em R$ 873,4 bilhões a perda acumulada de fevereiro de 2020 a maio deste ano. Ele ressalta que há discrepância entre segmentos, com supermercados, produtos alimentícios e bebidas, por exemplo, avançando na pandemia, e segmentos como equipamentos e materiais para escritório e informática, tecidos, vestuário e calçados apresentando perdas significativas.
As vendas online, por outro lado, se destacaram. Para Pedro Renault, economista do Itaú Unibanco, o e-commerce “ganhou uma participação que não vai devolver mesmo após a pandemia”. Esse tipo de venda puxou também a logística que, antes, atuava com grandes centros de distribuição em galpões fora dos centros urbanos. “Agora, as empresas buscam terrenos dentro das cidades e atuam com o chamado ‘last mile’, que é a entrega com um caminhãozinho na porta do cliente.”
A previsão da CNC é que o varejo, no geral, tenha uma alta de 4,5% nas vendas este ano, a maior taxa em nove anos. Mas Bentes ressalta que o aumento é sobre uma base fraca.
A consultoria Deloitte avalia que, até outubro, o cenário econômico do país seja mais positivo, com retomada acentuada de várias atividades e número maior de pessoas vacinadas. A expectativa é de que alguns setores, como o de turismo e eventos, devem voltar lentamente, pois há demanda reprimida.
“Só que o nível de endividamento de várias empresas cresceu”, diz Giovanni Cordeiro, economista-chefe da Deloitte. Segundo ele, relatório do Banco de Compensações Internacionais (BIS) prevê que empresas de mercados emergentes fortemente afetadas pela crise vão levar cerca de dois anos para pagar suas dívidas.
Para as empresas do Brasil, o BIS calcula que as mais endividadas terão de dedicar 45% do lucro líquido para sanar seus débitos. Na opinião de Cordeiro, haverá um movimento de ajustes, pois muitas empresas não vão conseguir se recuperar, até porque a taxa de desemprego no país permanece em alta, subtraindo o poder de compra da população.
“A popularidade do presidente de extrema direita caiu nas últimas semanas em meio a escândalos de corrupção durante a pandemia”, destaca o inglês The Guardian
O inglês The Guardian noticia as manifestações ocorridas no sábado (24), quando milhares de manifestantes saíram às ruas de várias cidades brasileiras para exigir o impeachment de Jair Bolsonaro. “A popularidade do presidente de extrema direita caiu nas últimas semanas em meio a escândalos de corrupção durante a pandemia”, diz o jornal.
“Esta semana, foi divulgada a notícia de que o Ministério da Defesa do Brasil disse à liderança do Congresso que as eleições do próximo ano não aconteceriam sem emendar o sistema de votação eletrônico do país para incluir um registro em papel de cada votação”, destaca. Bolsonaro sugeriu várias vezes, sem evidências, que o sistema atual está sujeito a fraudes, alegações que o governo brasileiro negou. Ele enfrenta a reeleição no ano que vem, em uma disputa em que deve enfrentar seu adversário político, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva. As pesquisas mostram que Bolsonaro perderia para Lula.
O francês Le Monde também destacou que dezenas de milhares de brasileiros saíram às ruas no sábado, exigindo o impeachment de Bolsonaro por sua gestão da crise de saúde, enquanto o saldo da epidemia ultrapassa meio milhão de mortos.
“Os manifestantes marcharam pelo quarto fim de semana consecutivo a convocação de partidos e sindicatos de esquerda, principalmente, contra o presidente de direita, que está sendo investigado por supostamente fechar os olhos ao desvio de recursos públicos na compra de vacinas”, informa.
Os protestos ainda ganham destaque nos franceses Le Figaro e L’Obs, nos argentinos La Nación e Clarín, no chinês Global Times, no alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, no belga La Venir, nos portugueses Diário de Notícias e nos canais de TV do Catar, Al Jazeera, e na americana CNN.
Os despachos da Reuters — Brasileiros voltam às ruas para exigir impeachment de Bolsonaro — e da espanhola EFE — Brasil volta às ruas em massa para exigir a retirada de Bolsonaro —contribuíram para ampliar a percepção do aumento do descontentamento com o governo brasileiro.
Ainda que não redunde em estabilidade, por falta de previsão legal neste sentido, a preservação do contrato de trabalho do empregado portador de doença grave tem por fim último a inviolabilidade do direito à vida, previsto no caput do artigo 5º da Constituição, dado que a manutenção da renda e do emprego é vital para a sobrevivência do empregado doente.
Testemunhas desmentiram justificativa do banco de que dispensa foi causada para reestruturação de setor
Com base nesse entendimento, a juíza Adriana de Cassia de Oliveira, da 5ª Vara do Trabalho de Osasco, condenou um banco a reintegrar um funcionário diagnosticado com Parkinson em 2017 e dispensado em 2019. Ao romper o contrato de trabalho, a instituição financeira alegou que estava passando por uma “restruturação do setor”.
Ao analisar o caso, a magistrada apontou que o depoimento da primeira testemunha ouvida a convite da própria reclamada desconstitui a tese defensiva ao afirmar, de forma taxativa, que “no mês da dispensa do reclamante, pelo que se recorda, este foi o único desligamento; que na época da dispensa do reclamante não houve reestruturação do setor”.
A julgadora também pontuou que a justificativa do banco sobre o suposto desconhecimento do estado clínico do trabalhador foi desmentida por testemunhas que confirmaram terem percebido os tremores característicos da enfermidade.
“Assim, considerando o teor da prova oral e o fato de que a reclamada não se desincumbiu de seu ônus quanto à comprovação de que a dispensa ocorreu por reestruturação do setor, forçoso concluir que a dispensa foi discriminatória, ferindo diversos preceitos constitucionais, dentre os quais a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF), a erradicação de qualquer tipo de preconceito e discriminação (art. 3º, IV, CF), o princípio da igualdade (art. 5º, caput e art. 7, CF) e o próprio direito à vida (art. 5º, caput, CF)”, escreveu na decisão.
Diante disso, a juíza determinou a imediata reintegração do funcionário, o restabelecimento de seu plano de saúde e o pagamento dos salários do período em que esteve afastado do banco. O trabalhador foi representado por Henrique Fittipaldi Lopes, do Crivelli Advogados.
Clique aqui para ler a decisão 1000211-51.2020.5.02.0385
Rafa Santos é repórter da revista Consultor Jurídico.