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Um em cada quatro municípios do Paraná depende economicamente do benefício concedido pelo governo federal

Todas as 43 famílias da Vila Esperança, em Cerro Azul, são beneficiárias do Bolsa Família. A cidade, que fica no Vale do Ribeira, integra a lista dos municípios paranaenses que mais dependem economicamente do repasse federal. Ao todo, são 102 cidades cujo porcentual de domicílios que constam no cadastro do programa é superior a 25%. Em Laranjal e Doutor Ulysses, por exemplo, mais da metade da população recebe o benefício. Por mês, R$ 50 milhões vindos do Bolsa Família circulam principalmente em pequenos comércios do Paraná.

O coordenador estadual do programa, Nircélio Zabot, conta que em algumas cidades o montante distribuído pelo Bolsa Família é maior do que o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) – principal fonte de recursos que custeia mais de 70% das prefeituras. Para ele, a situação em algumas localidades que estão perdendo moradores para outras regiões seria ainda mais grave se não houvesse o benefício social. “As prefeituras teriam de deixar de investir em serviços coletivos para destinar mais recursos para atender essas famílias extremamente pobres”, salienta.

Zabot explica ainda que o número de beneficiários no Paraná deveria ser maior do que os atuais 442 mil porque 60 mil famílias se enquadram nos critérios do programa – como renda por pessoa inferior a R$ 140 –, mas não há recursos disponíveis para atender a todos. O Paraná já chegou a ter mais de meio milhão de benefícios pagos por mês, mas o governo estadual ainda não tem um estudo que aponte a quantidade e os motivos que levaram tantas pessoas a conseguirem melhorar de vida e deixar o programa.

Jucimeri Isolda Silveira, que é pesquisadora da área de políticas sociais e professora de Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica (PUCPR), reforça que muitas cidades não têm estrutura adequada para fazer frente às despesas necessárias para garantir boa qualidade de vida aos moradores. “O valor do Bolsa Família pode parecer alto, mas ainda é insuficiente porque não chega a todos que precisam”, pondera. Para ela, a ampla cobertura do programa tem um ponto positivo, pois significa que está havendo um enfrentamento dos problemas sociais. “A dependência econômica de alguns municípios está relacionada à falta de recursos para investir em políticas públicas”, avalia. Jucimeri acredita que o desenvolvimento não virá através exclusivamente dos programas de complementação de renda. “São necessárias outras estratégias para impulsionar a economia”, complementa.

O diretor de pesquisa do Ins­tituto Paranaense de Desen­volvimento Econômico e Social (Ipardes), Julio Suzuki, lembra que a dependência do Bolsa Família atinge de forma mais intensa as cidades que têm problema para gerar riquezas. “Geralmente a prefeitura também arrecada pouco e isso cria um círculo vicioso, com oferta ruim de serviços como saúde e educação”, diz. Mesmo sendo expressivos em algumas cidades, os recursos do Bolsa Família são insuficientes, na opinião de Suzuki, para fazer a economia local evoluir. “Eles geram alguns empregos isolados, mas não criam a rede econômica capaz de impulsionar a cidade, como acontece com a geração de empregos na indústria e no setor de serviços”, explica.

Localização dos beneficiários evidencia mapa da pobreza

A concentração de repasses do Bolsa Família reproduz o mapa da pobreza no Paraná: as regiões Central e do Vale da Ribeira abrigam as cidades que mais dependem economicamente do benefício. A Gazeta do Povo comparou o número de famílias que recebem o Bolsa Família em cada cidade com a quantidade de domicílios ocupados encontrados pelo IBGE no Censo de 2010. A quantidade de famílias beneficiadas não segue a proporção do tamanho da população.

Foz do Iguaçu, por exemplo, tem quase 200 mil moradores a menos que Londrina e praticamente a mesma quantidade de beneficiários do Bolsa Família. Ederson Dal Piaz, secretário de Assistência Social em Foz, explica que a realidade econômica na fronteira ainda reflete as consequências dos ciclos de informalidade no trabalho. Mas, mesmo com o número elevado de beneficiários, Foz não se encaixa na definição de cidade dependente economicamente do Bolsa Fa­­mília, por contar com fontes mais diversificadas de geração de renda, como o turismo.

Sem dependência

No outro extremo estão Maringá e três cidades no Oeste do estado – Marechal Cândido Rondon, Maripá e Quatro Pontes – na lista das que menos dependem do programa federal, com menos de 5% dos domicílios cadastrados. A situação de dependência econômica no Paraná se concentra em algumas cidades e, por isso, apenas 13% das casas do estado têm beneficiários do programa. Ainda assim, é o dobro da quantidade de famílias beneficiadas em relação a Santa Catarina – estado em que o menor porcentual da população está inscrita no cadastro. Já no Maranhão e no Piauí, mais da metade da população recebe Bolsa Família.

Personagens

Dinheiro faz toda a diferença

A reportagem encontrou Lucimeri Maciel, 38 anos, tricotando um tapete, em Cerro Azul. Ela participa de um projeto social em que trabalhos manuais são ensinados para mulheres desempregadas. No quintal, ela apresenta os quatro filhos – Marina, Luiz, Eloisa e Lorena – que sustenta com os R$ 166 que recebe do Bolsa Família por mês. “Antes não tinha dinheiro nem pro leite e agora eu tenho”, resume. Também conseguiu comprar geladeira e colchões novos. O marido faz bicos na colheita de laranja e agora está trabalhando na pavimentação de ruas em Curitiba.

Ao contrário da maioria das cidades, é entre o meio e o fim do mês que o comércio local fica movimentado. É nesse período que os benefícios são pagos. Ruy Vilella Guiguer, presidente da Associação Comercial de Cerro Azul, não tem números precisos sobre a importância do Bolsa Família, mas alega que os comerciantes percebem, no dia a dia, como esse dinheiro faz a economia girar.

Na vizinha Itaperuçu, o número de beneficiários do programa federal é alto: 38% dos domicílios. Como na casa de Edineia de Jesus, 38 anos, que mora com o marido e os quatro filhos em um casebre de dois cômodos. Ela faz bicos como babá e o marido como pedreiro, e diz não saber como daria o mínimo de condições de vida para a família sem os R$ 160 que recebe por mês.