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Chefiar vai além do trabalho burocrático. Significa manter uma relação saudável com os funcionários, sabendo ouvi-los e motivá-los. A gentileza também é característica fundamental

É melhor ser um chefe temido ou amado? Segundo os especialistas, nem um, nem outro. O ideal é ser respeitado e, logo, saber respeitar. E eles explicam: com o mercado aquecido, o bom relacionamento dos patrões com a equipe é visto, mais do que nunca, como uma arma para garantir um desempenho satisfatório da organização. A ideia é que, com uma melhor comunicação entre os diferentes níveis hierárquicos, a produtividade aumenta e a rotatividade de funcionários cai. Assim, os estudiosos de liderança alertam: para ser um gestor competente nos dias de hoje, não basta saber executar com maestria as tarefas técnicas e burocráticas, é necessário ter inteligência no trato com os subordinados.

De acordo com a mais recente pesquisa da corporação de recrutamento Robert Half, realizada com executivos de 11 países, entre eles o Brasil, as grandes reclamações dos profissionais sobre o ambiente de trabalho têm íntima relação com a chefia. Quando questionados sobre os principais motivos de estresse na companhia, 44% dos colaboradores falaram de pressões desnecessárias e 34% se disseram insatisfeitos com a capacidade de gestão do superior. Quanto às queixas, a gerente da divisão de finanças e contabilidade da empresa, Marcela Esteves, detalha: “Os erros dos chefes apontados por esses números são pedir algo com urgência sem necessidade, tratar mal as pessoas de modo a deixar a convivência ruim, colocar as coisas de maneira negativa e não saber motivar o grupo”.

Além dos problemas mostrados pelo levantamento, a especialista em liderança e psicologia do trabalho e professora da Fundação Getulio Vargas (FGV) Damáris Vieira ressalta que muitos patrões pecam por não ouvir o que a equipe tem a dizer, não preparar um substituto, não deixar as ordens de maneira clara e não saber delegar atividades. “Algumas pessoas têm medo de distribuir as tarefas, outras gostam mesmo de fazer tudo do seu jeito, mas isso é um erro. O bom gestor tem que planejar o trabalho, indicar a direção e preparar os empregados para que assumam funções”, assegura. Por outro lado, a gerente de capacitação empresarial do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas (Sebrae), Mirela Malvestiti, frisa que abusar da autoridade e tolher a criatividade dos funcionários são também falhas graves. “É importante não ser intolerante ao erro, é preciso dar liberdade para os colaboradores testarem novas possibilidades”, defende.

Evitar as falhas relatadas e seguir essa indicação da gerente do Sebrae já é um passo importante para ser não só um chefe, mas um líder. Além disso, a superintendente do shopping Iguatemi de Brasília Daniela Vallejo, 40 anos, que coordena uma equipe de 250 pessoas, diz ser essencial saber dar feedback aos colaboradores da maneira correta. E, quanto à prática, ela pondera: “Devemos ouvir o que a pessoa tem a dizer, ressaltar os pontos fortes dela e apresentar os caminhos para que seja ainda melhor. E a chave é nunca usar a palavra ‘mas’, por exemplo, ‘você é ótimo, mas…’”. Daniela salienta que o patrão não deve apenas fazer comentários sobre o trabalho dos funcionários, ele precisa também ouvir o que os outros pensam a seu respeito. “Sempre peço esse retorno da minha equipe. Já ouvi coisas não muito confortáveis de se escutar, mas elas me fizeram mudar muito”, lembra.

Com formação em publicidade e direito e duas pós no currículo, a superintendente não se contenta com o conhecimento técnico para exercer seu posto. Ela também faz acompanhamento constante com um coach profissional, a fim de trabalhar o lado de relacionamentos. Tudo isso e a larga experiência com gestão — Daniela já chegou a liderar um grupo de 450 pessoas — ajudam a profissional a ser hoje uma referência para seu time. E sempre com muito respeito, garante. “Tento fazer com os outros o que eu gostaria que fizessem comigo. Procuro servir minha equipe e não ser servida por ela”, atesta a paulista, que se diz uma supervisora “democrática”.

Essa atenção que a superintendente dedica aos funcionários é uma prática recomendada pelos especialistas. Mas as sugestões para ser um bom chefe não param por aí: manter as promessas realizadas, ser gentil, nunca levantar a voz, interagir frequentemente com o grupo, envolver a equipe na tomada de decisões e fazer críticas no particular e elogios em público também são recomendações válidas. Segundo a professora Damáris Vieira, porém, uma dica merece especial atenção: ser flexível. “O melhor estilo de liderança é aquele que se adapta ao funcionário”, comenta.

Para reter talentos

Com um mercado carente de mão de obra, a relação sadia entre patrão e empregados tem se tornado uma necessidade na construção civil. É o que observa o engenheiro civil e supervisor da SIG Engenharia no DF, Eduardo Dutra, 43 anos. “Está muito difícil encontrar gente qualificada para trabalhar no canteiro de obras. Às vezes, levamos anos e investimos muito para formar um trabalhador. Não podemos perdê-lo por um motivo banal, por um atrito com o chefe”, relata.

Quanto à receita utilizada por ele para encabeçar os 150 trabalhadores que coordena, Dutra revela: “Minha preocupação é organizar as tarefas, diagnosticar e resolver os problemas com rapidez, respeitar as diferenças existentes no meu grupo e sempre deixar claro quais são os meus valores”. A atenção com o conforto, a segurança, a locomoção e mesmo a alimentação dos empregados também figura entre as atribuições do engenheiro. “É importante cuidar de tudo e assim deixar o trabalhador feliz por estar com a gente”, explica o brasiliense, que completa: “Precisamos valorizar todos os nossos colaboradores para termos sempre uma equipe focada no mesmo objetivo”.

Palavra de especialista
Diferentes, mas complementares

Líder e chefe são posições diferentes. Liderança é uma concessão de autoridade a uma pessoa devido a determinadas características que ela detém. Já a chefia é uma função burocrática. Mas o ideal é que essas duas coisas andem juntas. Equipes que não são bem lideradas têm dificuldade de relacionamento, ficam desmotivadas e apresentam baixa produtividade. Alguns erros clássicos dos chefes são a incapacidade de ouvir os seus colaboradores, a impotência e a falta de habilidade para interagir com o grupo. Assim, para ser um bom chefe, é importante manter o foco nas tarefas e nas pessoas, tratar todos com humanidade e construir com o time uma visão de integração.

Homero Reis, coach organizacional