NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Um retrato detalhado da trajetória socioeconômica do Brasil entre 1995 e 2024, compilado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), revela um cenário de contrastes marcantes, com significativos avanços em indicadores sociais convivendo com persistentes desafios macroeconômicos e estruturais.

No front social e do mercado de trabalho, a evolução foi notável em alguns aspectos. O salário mínimo experimentou uma consistente valorização real ao longo do período, ampliando seu poder de compra. Esse movimento teve impacto direto na redução da desigualdade, medida pelo Índice de Gini, que apresentou melhora, embora o país continue entre os mais desiguais do mundo. O estoque de empregos formais também cresceu substancialmente, saltando de patamares inferiores a 20 milhões em meados dos anos 90 para mais de 50 milhões em 2023, refletindo uma formalização gradual do mercado de trabalho.

Entretanto, o desemprego permanece como uma variável crítica, com picos alarmantes, como a taxa de 12% registrada em 2016. A insegurança alimentar emergiu como um grave problema, afetando parcela significativa da população em anos recentes, um retrocesso em um aspecto fundamental das condições de vida. A participação dos salários na renda nacional, um termômetro da distribuição entre capital e trabalho, também não apresentou uma trajetória linear de crescimento, indicando que os ganhos de produtividade nem sempre se converteram em melhorias salariais generalizadas.

Na esfera macroeconômica, a performance foi mais volátil. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu em termos reais, porém com taxas médias anuais que variaram conforme o período, denotando uma expansão interrompida por ciclos de recessão e estagnação. Um dado preocupante é a desindustrialização, evidenciada pela queda contínua da participação da indústria de transformação no PIB, setor estratégico para inovação e geração de empregos de qualidade.

A inflação, após ser controlada nos anos 2000, voltou a apresentar picos em períodos de instabilidade, corroendo o poder de compra das famílias. A taxa de câmbio, por sua vez, depreciou-se fortemente ao longo das décadas, com o real perdendo valor frente ao dólar, o que impacta o custo de importações e exerce pressão sobre os preços internos.

A sustentabilidade das contas públicas e externas apresentou seus próprios desafios. O país fortaleceu sua posição internacional, acumulando robustas reservas em moeda estrangeira, que atingiram valores superiores a US$ 350 bilhões. Contudo, a dívida líquida do setor público manteve-se em níveis elevados como porcentagem do PIB, onerando os cofres públicos com despesas volumosas com juros. A taxa básica de juros (Selic), instrumento de controle inflacionário, flutuou drasticamente, refletindo os ciclos de aperto e afrouxamento monetário.

Em síntese, as últimas três décadas desenham um Brasil que conseguiu progressos inegáveis na esfera social, com melhorias na renda, formalização e redução da desigualdade, ainda que insuficiente. No entanto, a economia patina em questões crônicas como a baixa resiliência do crescimento, a erosão do parque industrial, a vulnerabilidade fiscal e a incapacidade de gerar emprego de forma estável. O estudo do DIEESE sublinha que o desenvolvimento pleno do país permanece um objetivo a ser conquistado, demandando políticas que harmonizem o crescimento econômico sustentável com a contínua melhoria do bem-estar social.

DIAP

https://diap.org.br/index.php/noticias/noticias/92486-brasil-mostra-avancos-sociais-e-revezes-economicos-em-tres-decadas-aponta-estudo-do-dieese