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Imóveis não oferecem conforto e privacidade aos moradores. Alto valor dos insumos e aumento de famílias cadastradas são motivos da redução dos lotes

Com seis pessoas, a família de Ariane do Espírito Santo se vira como pode para se acomodar nos 37 metros quadrados (m²) da casa nova no Residencial Vista Bela, em Londrina (Norte do estado). A posse de tão poucos móveis, antes motivo de desgosto, se tornou vantagem na hora de colocar tudo no imóvel entregue há três meses pelo programa Minha Casa Minha Vida.

A falta de recursos não permite a ampliação da casa e, mesmo se o dinheiro estivesse à disposição, não seria possível fazer muita coisa. O que sobra dos 125 m² do terreno é muito pouco. Dá para construir apenas pequenos “puxados”, recurso visto em muitas casas do bairro.

Essa não é uma realidade só desse residencial, praticamente uma cidade erguida na zona norte de Londrina. Em Curitiba, há 30 anos, os lotes trabalhados pela Companhia de Habitação Popular (Cohab) tinham, no mínimo, 200 m². Nas esquinas, eram ainda maiores, com 270 m² ou 300 m². “A partir dos anos 90, começamos a trabalhar com lotes de 180 m². Hoje, eles têm 140 m²”, explica a diretora técnica da Cohab de Curitiba, Teresa Oliveira.

Diferentemente dos conjuntos mais antigos, os novos não oferecem qualquer conforto ou privacidade aos moradores. O espaço entre uma habitação e outra é quase sempre muito pequeno. O alto valor dos insumos que compõem a política habitacional e a necessidade de atender a um número cada vez maior de famílias são os principais motivos apontados para a redução no tamanho dos lotes. “Os custos de terrenos, mão de obra e materiais de construção estão muito altos”, explica Teresa.

Nos primeiros conjuntos construídos em Londrina, a metragem mínima dos lotes era de 250 m². No Jardim Leonor, por exemplo, erguido há 30 anos na zona oeste da cidade, os terrenos têm 300 m². O espaço foi suficiente para que a família de Neide Bispo Pereira construísse novos cômodos e criasse um pequeno pomar nos fundos. “Nós somos quatro pessoas e a casa tinha só dois quarto. Hoje tem três. Cada filho tem seu quarto”, conta.

Residências geminadas

Pelo Plano Diretor de Londrina, os lotes continuam com o tamanho mínimo de 250 m², mas o alto preço dos terrenos faz com que sejam ocupados por casas geminadas, como no Vista Bela, com 125 m² de terreno para cada uma. “As pessoas de baixa renda, que são o alvo das habitações de interesse social, não têm condições de pagar pelo lote inteiro”, explica o presidente da Cohab Londrina, João Verçosa.

O mercado imobiliário de 30 anos atrás recebia famílias vindas da zona rural, acostumadas com muito espaço. Segundo Verçosa, também por isso os lotes eram maiores. “Tinha que ter espaço para uma horta, um galinheiro. Hoje as pessoas já estão habituadas a viver com menos espaço”, pondera.

Mas não é o que se ouve dos moradores do Residencial Vista Bela. Ariane, a mãe da família citada no início da reportagem, não teve problemas para acomodar a mudança na casa. Mas muitos de seus vizinhos tiveram de deixar parte do que tinham nas antigas casas, por falta de espaço. “Minha vizinha tem 11 filhos. Mal cabe a família dentro da casa, como caberiam os móveis?”, questiona.