por NCSTPR | 25/06/24 | Ultimas Notícias
A dificuldade de acesso e permanência no ensino superior continua um desafio num mercado crescente para profissionais qualificados
por Cezar Xavier
O Brasil alcançou a marca histórica de 100,7 milhões de pessoas ocupadas em 2023, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (21). No entanto, cerca de 76,9% dos trabalhadores brasileiros não completaram o ensino superior, evidenciando a dificuldade de acesso à educação no país.
De acordo com Jefferson Mariano, analista socioeconômico do IBGE, muitos trabalhadores interromperam a educação superior para ingressar no mercado de trabalho, pois diversas ocupações não exigem formação universitária. “Grande parte da população ocupada exerce atividades que prescindem de formação superior”, afirmou Mariano.
Apesar disso, ele destacou que a proporção de trabalhadores com diploma está crescendo lentamente, impulsionada pela evolução do mercado e a retomada dos concursos públicos. “Vale ressaltar que depois de alguns anos ocorreu o processo de retomada de contratação de trabalhadores pelo setor público – via concurso público – que em sua grande maioria é integrado por pessoas com nível superior”, afirma
Desde o início da série histórica da PNAD Contínua, o contingente de pessoas ocupadas no Brasil cresceu 12,3%, atingindo a marca de 100 milhões pela primeira vez em 2023. “Esse aumento representa uma recuperação do mercado de trabalho brasileiro”, observou Mariano. O nível de ocupação da população brasileira é de 57,6%, ainda abaixo do pico de 2013, mas indicando uma recuperação em relação à queda registrada entre 2013 e 2017 devido à recessão.
Acesso ao ensino superior no Brasil
Apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados em faculdades, conforme a 11ª edição do Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp. Esse dado revela a dificuldade de acesso ao ensino superior, que afeta especialmente os alunos de escolas públicas. Para aumentar a inserção no ensino superior, é fundamental estimular a formação no ensino médio, diminuir a evasão escolar e garantir um ensino público de qualidade.
Iniciativas como “feiras vocacionais” em escolas públicas, que orienta os alunos sobre carreiras e caminhos para ingressar nas universidades, têm mostrado resultados positivos, aumentando o interesse e a participação dos estudantes no ENEM. Programas como o SISU, PROUNI e FIES também desempenham um papel crucial no acesso ao ensino superior, embora muitas vezes gerem ansiedade entre os estudantes devido à falta de preparo e conhecimento das políticas públicas.
A democratização do ensino superior, contudo, tem enfrentado barreiras nos últimos anos, com o aumento do desempenho mínimo exigido no ENEM e a redução na oferta de vagas do FIES. Essas mudanças impactam especialmente os estudantes de baixa renda, pretos e pardos, que ainda representam uma pequena parcela dos ingressantes nas universidades.
Após ingressar na universidade, os estudantes brasileiros enfrentam obstáculos adicionais para concluir a graduação. A necessidade de conciliar trabalho e estudo, especialmente para alunos de baixa renda, leva a altas taxas de evasão. A pandemia da covid-19 exacerbou essas dificuldades, aumentando as desigualdades econômicas e de aprendizagem.
Mercado de trabalho para graduados
Apesar dos desafios, o ensino superior continua sendo um diferencial significativo no mercado de trabalho. De acordo com o índice ABMES/Symplicity de Empregabilidade 2023 (IASE), cerca de 75% dos egressos do ensino superior conseguiram emprego em até um ano após a colação de grau, e mais de 83% atuam em sua área de formação. O salário médio dos profissionais graduados também aumentou, passando de R$ 3.800 para R$ 4.200.
Profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI) estão entre os mais bem remunerados, com salários cerca de 50% acima da média nacional. O setor de engenharias também apresenta altos índices de empregabilidade. No entanto, a pesquisa do IASE 2023 revelou desigualdades de gênero, raça e faixa etária, com homens e pessoas brancas apresentando maior empregabilidade e renda.
Gargalo do desenvolvimento
Gargalos de produtividade e de educação, desde as microempresas até as grandes indústrias, estão entre os principais entraves que impedem o Brasil de ter taxas de crescimento mais robustas. É o que apontam especialistas, durante em um painel recente sobre o PIB brasileiro.
“Para falar em aumento de produtividade, temos que falar em tecnologia, sendo que grande parte das micro e pequenas empresas sequer tem acesso a internet de qualidade”, diz Margarete Coelho, diretora de administração e finanças do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
As micro e pequenas empresas representam 29,5% do PIB brasileiro, de acordo com o Sebrae, e geram 50% de todos os salários recebidos no país, além de responderam, também, por cerca de 50% dos empregos formais.
O presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet, reforça gargalos de tecnologia e qualificação também na indústria. “A discussão da produtividade da indústria como maneira de aumentar o PIB pode parecer muito básica, mas é importante reforçá-la, e passa pela qualificação.”
Embora a participação da indústria no PIB brasileiro gire atualmente entre 20% e 25%, Calvet destaca que ela responde por 34% da arrecadação de impostos e por 66% de todos os gastos empresariais com pesquisa e desenvolvimento no país.
Garantir o acesso e a permanência no ensino superior é essencial para a capacitação profissional e a diminuição das desigualdades no Brasil. Iniciativas que promovam a orientação vocacional, o conhecimento das políticas públicas de acesso e o apoio contínuo aos estudantes são fundamentais para construir um futuro com mais oportunidades.
VERMELHO
https://vermelho.org.br/2024/06/24/ibge-registra-769-de-trabalhadores-sem-ensino-superior-em-2023/
por NCSTPR | 25/06/24 | Ultimas Notícias
Gestora calculou o custo financeiro para as empresas com a Selic em 10,5%. Na previsão de meses atrás, de os juros fecharem o ano em 9%, seria R$ 11,1 bilhões a menos de custo
por Redação
A continuidade da taxa básica de juros em 10,5% ao ano sob o pretexto inflacionário desagradou diversos setores, inclusive da indústria e do comércio. A pedido do Valor, a gestora Paramis Capital calculou o custo financeiro dessa taxa Selic alta em R$ 78 bilhões ao ano para os empresários.
Como exemplo, se os juros fechassem o ano em 9%, como era estimado meses atrás, este custo seria R$ 11,1 bilhões menor, de R$ 66,9 bilhões. Em 9,5%, o impacto seria R$ 7,4 bilhões abaixo, de R$ 70,6 bilhões ao ano.
Ao jornal, o diretor de investimentos de crédito e grandes fortunas da Paramis, Ricardo Nunes, pontua que a Selic acima de 10% atrasa projetos e desacelera o crescimento de certos grupos econômicos. A aposta da manutenção da taxa é feita por ele sem descartar até mesmo um aumento.
O Boletim Focus, que reúne as projeções do mercado, coloca que os juros fecham o ano em 10,5%. Há quatro semanas a previsão era para 10%.
Para os cálculos, estima-se que as dívidas corporativas atreladas ao CDI passaram de R$ 610 bilhões em abril para R$ 743 bilhões.
A manutenção dos juros foi alvo de críticas de empresários. Para a CNI (Confederação Nacional da Indústria), que há tempos pede por cortes robustos e defendia a manutenção das reduções, a decisão só vai impor restrições adicionais à atividade econômica, com reflexos negativos sobre o emprego e a renda, sem que o quadro inflacionário exija tamanho sacrifício.
*Edição Vermelho, Murilo da Silva
VERMELHO
https://vermelho.org.br/2024/06/24/manutencao-dos-juros-faz-custo-para-as-empresas-chegar-a-r-78-bilhoes/
por NCSTPR | 25/06/24 | Ultimas Notícias
GABRIELLA SOARES
Em discussão no Senado, a Proposta de Emenda à Constituição do Banco Central (BC) divide opiniões de especialistas, incluindo de ex-chefes da instituição e acirra o confronto entre o presidente Lula e o atual comando do BC. O principal ponto é a possibilidade de a autonomia orçamentária e financeira da instituição como colocada pela PEC pode interferir nas atividades de Estado do banco, entre elas:
- controle sobre a inflação do país;
- execução da política monetária brasileira;
- determinação da taxa básica de juros no Brasil;
- garantir a segurança e eficiente do sistema financeiro;
- emissão da moeda nacional, o real; e
- fiscalização dos bancos que atuam no país.
Atualmente, o BC já conta com autonomia operacional. Ou seja, o governo federal, seja ele qual for, não pode interferir nas escolhas feitas pela cúpula do Banco Central, como a taxa de juros. Essa autonomia pode levar a atritos políticos, como tem sido a relação do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, e o presidente Lula (PT).
O que a PEC propõe é como dar autonomia financeira e administrativa para a atuação do BC. Como empresa pública, o Banco Central poderia utilizar sua própria receita como fonte de recursos – atualmente, como autarquia, as receitas do BC são enviadas para o Tesouro Nacional. A mudança seria para “prever a garantia de recursos para que as atividades relevantes da Autoridade Monetária para a sociedade sejam executadas sem constrangimentos financeiros, tanto para o Banco Central quanto para o Tesouro Nacional”, segundo o relatório. Na prática, o texto concede independência ao BC para gerir seus próprios recursos, contratar pessoal e definir planos de carreiras e salários.
Proposta pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) e relatada por Plínio Valério (PSDB-AM), a PEC 65 de 2023 tramita no Senado há sete meses. Inicialmente, o texto seria votado na Comissão de Constituição e Justiça na semana passada, mas senadores indicaram a necessidade de ao menos uma audiência pública ser realizada.
Na audiência, ficou claro que não há um consenso entre especialistas em BC, incluindo atuais e ex-funcionários, sobre a proposta. Para alguns, a PEC é a única forma de manter o Banco Central funcionando, já para outros, o texto pode colocar em perigo a missão e o papel estatal da instituição.
A forma de dar ao BC a autonomia financeira, pela PEC, é transformar a autarquia em uma empresa pública. O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) afirma ao Congresso em Foco que esse é o principal problema do texto e o motivo de a categoria ter se colocado contra a medida em votação oficial do sindicato.
“É transformar em empresa pública, algo como a Caixa, uma instituição que faz atividades de Estado. Para nós, isso é inconstitucional”, disse Fabio Faiad, presidente do Sinal. “Esse regime jurídico também fragiliza controles e procedimentos do BC. E essa não é a única forma para a autonomia orçamentária de outras formas. Não somos contra a autonomia, somos contra a PEC como está, somos contra transformar uma autarquia em uma empresa”.
Para o Sinal, uma empresa pública estará aberta a influências do mercado, o que pode afetar as atividades que são puramente de Estado. O sindicato coloca que sem maior controle como autarquia, como a ação da Controladoria Geral da União (CGU), o BC ficaria vulnerável a interesses de terceiros.
Em nota divulgada semana passada com críticas ao presidente do BC e à atual política de juros da instituição, o PT criticou a PEC. “Também nos manifestamos contrariamente à proposta de emenda constitucional que pretende conferir autonomia ainda maior — financeira e administrativa — ao Banco Central. A nocividade da autonomia já em vigor da autoridade monetária ficou patente pela conduta irresponsável do presidente e dos diretores nomeados pelo governo passado, que se valeram de seus mandatos para sabotar a economia do país, com vistas aos objetivos políticos do bolsonarismo”, diz o texto.
Já a Associação Nacional dos Analistas do Banco Central do Brasil (ANBCB) vê a medida como necessária. Natacha Gadelha Rocha, presidente da associação, afirmou ao Congresso em Foco que no modelo atual, o BC “não dura” muito tempo e defende que a instituição precisa de mais verbas para manter suas funções.
“Está claro que o Banco Central tem uma questão orçamentária que precisa ser resolvida”, diz Rocha. “Resolver isso passa pela autonomia orçamentária e financeira, ou seja, gerenciar as próprias receitas. Eu gostaria de dizer que há outra solução [que não virar empresa pública], mas eu não achei”.
A PEC transforma o BC em uma empresa pública “que exerce atividade estatal e dotada de poder de polícia”, de acordo com a versão mais recente do parecer de Plínio Valério. Para o senador, é preciso deixar claro no texto que a instituição presta serviços de Estado ao país.
A mudança no texto foi feita na quarta-feira (19), um dia depois da audiência pública. Depois da única discussão pública sobre o tema, os senadores já podem votar a PEC. Apesar disso, o relator, senador Plínio Valério, indica que agora deve haver negociações políticas para definir quando o tema realmente será votado, já que a PEC não conta com apoio do governo no Senado.
GABRIELLA SOARES Jornalista formada pela Unesp, com experiência na cobertura de política e economia desde 2019. Já passou pelas áreas de edição e reportagem. Trabalhou no Poder360 e foi trainee da Folha de S.Paulo.