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Declaração do Brics pede reforma na ONU e projeta ordem mundial multipolar

Declaração do Brics pede reforma na ONU e projeta ordem mundial multipolar

Internacional

A multipolaridade amplia oportunidades para que países desfrutem de uma globalização e de uma cooperação econômicas universalmente benéficas

por Iram Alfaia

Os países da 16ª reunião da cúpula do Brics divulgaram nesta quarta-feira (23) a Declaração de Kazan, nome da cidade russa onde ocorre o encontro que termina nesta quinta-feira (24). No manifesto, destacam-se a projeção de uma nova ordem mundial multipolar e o pedido para a reforma da ONU e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O encontro do bloco, formado pelos países fundadores Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, conta com a participação dos novos membros: Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia.

“Notamos o surgimento de novos centros de poder, de tomada de decisões políticas e de crescimento econômico que podem pavimentar o caminho para uma ordem mundial multipolar mais equitativa, justa, democrática e equilibrada”, diz um trecho do documento de 43 páginas e 134 itens.

Considera-se que a multipolaridade pode ampliar as oportunidades para que os mercados emergentes e países em desenvolvimento da África, Ásia, Europa, América Latina e Oriente Médio “liberem seu potencial construtivo e desfrutem de uma globalização e de uma cooperação econômicas universalmente benéficas, inclusivas e equitativas”.

O manifesto reconhece a Declaração de Johanesburgo II de 2023, na qual os países reafirmam apoio a uma reforma abrangente da ONU, abrangendo o Conselho de Segurança. Também são solicitadas mudanças no FMI e Organização Mundial do Comércio (OMC).

Para ampliar o poder e a voz dos países menos desenvolvidos, o documento reitera o compromisso com a melhoria da governança global por meio da promoção de um “sistema internacional e multilateral mais ágil, eficaz, eficiente, responsivo, representativo, legítimo, democrático e responsável”.

“Como um passo positivo nessa direção, reconhecemos o Chamado à Ação do G20 sobre a Reforma da Governança Global lançado pelo Brasil durante sua presidência do G20”, diz outro trecho do documento.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou no evento virtualmente e defendeu uma moeda em comum para as transações entre os países do bloco como forma de se livrar da dependência do dólar.

No comunicado, o assunto ganhou relevância: “Acolhemos o uso de moedas locais em transações financeiras entre os países do Brics e seus parceiros comerciais. Incentivamos o fortalecimento das redes de correspondentes bancários dentro do Brics e a permissão de liquidações em moedas locais”.

Oriente Médio

A respeito do conflito no Oriente Médio, o texto condena a ofensiva militar israelenses na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e no sul do Líbano.

O bloco pede um cessar-fogo imediato, abrangente e permanente na Faixa de Gaza, a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e detidos de ambos os lados. No sul do Líbano, o grupo condena a perda de vidas civis e os imensos danos à infraestrutura civil resultantes dos ataques de Israel em áreas residenciais.

Em relação ao conflito na Ucrânia, o Brics ressalta as propostas de mediação que já foram feitas “visando a uma resolução pacífica do conflito por meio do diálogo e da diplomacia”.

Ciência e Tecnologia

O documento dá destaque também para a área de ciência, tecnologia e inovação (CTI), considerada um catalisador fundamental para o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das pessoas nas nações do bloco.

“Também observamos o progresso feito no avanço dos programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação em setores críticos transversais, incluindo campos biomédicos, energia renovável, ciências espaciais e astronômicas, ciências oceânicas e polares, por meio de projetos conjuntos de pesquisa e inovação e promoção de intercâmbios institucionais conjuntos”, diz outro trecho.

Fake news

“Expressamos séria preocupação com a disseminação e proliferação exponencial de desinformação, informação falsa, incluindo a propagação de narrativas falsas e notícias falsas, bem como de discurso de ódio, especialmente em plataformas digitais que alimentam a radicalização e os conflitos”, destaca.

O manifesto enfatiza que a conectividade precisa estar de acordo com leis nacionais e internacionais para o bom fluxo das informações e liberdade de opinião.

Banco do Brics

O Brics também reconhece o papel fundamental do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) na promoção da infraestrutura e do desenvolvimento sustentável de seus países membros. “Apoiamos o desenvolvimento do NDB e a melhoria da governança corporativa e da eficácia operacional para o cumprimento da Estratégia Geral do NDB para 2022-2026”, diz o manifesto sobre o banco atualmente presidido pela ex-presidente Dilma Rousseff.

VERMELHO

Declaração do Brics pede reforma na ONU e projeta ordem mundial multipolar

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Rússia demonstra apoio à recondução de Dilma Rousseff para um novo mandato à frente do NDB

Declaração foi dada nos bastidores da reunião da Cúpula dos Brics, que acontece nesta semana, em Kazan, na Rússia. A ex-presidente do Brasil está no comando do Novo Banco de Desenvolvimento desde 13 de abril de 2023 e seu mandato vai até julho de 2025.

Por Nilson Klava

A Rússia demonstrou apoio à recondução de Dilma Rousseff para um novo mandato à frente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como “banco do Brics”. A ex-presidente está no comando desde 13 de abril de 2023 e seu mandato vai até julho de 2025.

A declaração foi dada nos bastidores da reunião da Cúpula dos Brics, que acontece nesta semana, em Kazan, na Rússia.

Na noite de terça-feira (22), O presidente russo, Vladimir Putin, recebeu o apoio de Dilma, ao defender o aumento do comércio em moedas nacionais para minimizar os “riscos políticos externos”, durante uma reunião que contou com a presença da presidente do Banco Central Russo (BCR).

“Um aumento dos pagamentos em moedas nacionais torna possível minimizar os riscos políticos externos”, disse Putin. Os russos, desde o início da ofensiva na Ucrânia em 2022, são alvos de sanções ocidentais, em particular financeiras.

Dessa forma, o estabelecimento de um sistema de pagamentos internacional permitiria competir com o Swift (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), do qual a maioria dos bancos russos foi excluída.

O NBD é composto por um conselho de governadores, um conselho de diretores, um presidente e quatro vice-presidentes. A presidência do banco é rotativa e é periodicamente ocupada por um representante dos países do Brics, enquanto os membros dos demais países ficam responsáveis pela indicação dos quatro vice-presidentes.

G1

https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/10/23/russia-demonstra-apoio-a-reconducao-de-dilma-rousseff-para-um-novo-mandato-a-frente-do-ndb.ghtml

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Vai ser mesário no 2º turno das eleições? Confira direitos e deveres de empregados e empresas

Escolha de prefeitos acontece neste domingo em 51 municípios do país, sendo 15 capitais, segundo dados consolidados do Tribunal Superior Eleitoral, onde convocados deverão comparecer novamente a suas seções

Por

Laelya Longo, Valor Investe — São Paulo

Neste domingo, será realizado o segundo turno das eleições a prefeito em 51 municípios do país, sendo 15 capitais, segundo dados consolidados do Tribunal Superior Eleitoral. Nessas cidades, os mesários convocados para o primeiro turno deverão retornar às suas seções para desempenhar suas funções cívicas.

Ainda que a primeira etapa dos pleitos já tenha acontecido, ainda há dúvidas sobre quais são os direitos e deveres dos empregados convocados e suas empresas.

Eugênio Hainzenreder Júnior, sócio-diretor do RMMG Advogados e professor da PUC-RS, responde sobre as principais questões referentes sobre o que fazer quando um funcionário é convocado para ser mesário.

Confira abaixo as principais dúvidas e as respostas:

Os eleitores convocados para compor as mesas eleitorais neste segundo turno das eleições, que possuem vínculo de emprego e que trabalham (ou não) aos domingos, são obrigados a atuar como mesários nas eleições?

Sim, uma vez convocado, se trata de dever legal do cidadão eleitor, seja ele empregado ou não, sendo que a pessoa que descumprir este chamado eleitoral poderá responder judicialmente.

A empresa pode recusar a participação do seu empregado convocado para atuar como mesário nas eleições?

Não, a empresa não pode impedir a participação do seu empregado que for convocado para atuar como mesário, tampouco impor a ele qualquer espécie de desconto salarial ou prejuízo no trabalho.

A pessoa que tem vínculo de emprego e for convocada para atuar nas eleições tem algum direito trabalhista?

A atividade de mesário não é remunerada, porém, oferece um auxílio alimentação no valor de R$ 60. Além disso, dá direito a dois dias de folga para cada dia trabalhado, sem prejuízo do salário, vencimento, ou qualquer outra vantagem.

O empregado que foi convocado para mesário terá folga no trabalho em relação à convocação para o primeiro e para o segundo turno?

Sim, pois os dias de folga deverão ser concedidos em dobro para cada dia à disposição da Justiça Eleitoral. Assim, haverá dois dias de folgas em relação ao primeiro turno e outros dois para o segundo.

As folgas também serão devidas ao empregado convocado como mesário em relação ao dia de treinamento, ou apenas pelo domingo da votação?

O direito à folga é devido tanto pelo dia de treinamento, independentemente da duração e se foi presencial ou virtual, quanto pelo dia de votação.

Qual documento o empregado deverá entregar para a empresa para ter direito aos seus dias de folga?

A comprovação será feita por certidão expedida pelo Tribunal Regional Eleitoral ou pela Declaração de Trabalhos Eleitorais (DTE), disponível no site do TSE e no aplicativo e-Título, após a eleição.

A empresa poderá determinar quando será a folga ou o empregado pode escolher a data que quiser?

A lei eleitoral não aborda expressamente como se dará a determinação dos dias de folga, apenas referindo que deverá ser negociada entre trabalhador e empresa. Portanto, caberá o bom senso e a boa-fé entre as partes nesta combinação. No entanto, havendo impasse, entendemos que, diante de situações semelhantes da legislação trabalhista, como as férias, por exemplo, cabe ao empregador definir o dia de folga que seja mais adequado às atividades empresariais.

A empresa poderá substituir os dias de folga a que o empregado tem direito por pagamento em dinheiro?

Não, os dias de compensação pela prestação de serviço à Justiça Eleitoral não podem ser convertidos em benefício financeiro.

Para os mesários que forem estudantes universitários há algum benefício específico?

Existem algumas universidades que possuem convênios com a Justiça Eleitoral, de forma que o serviço nas eleições poderá contar como horas complementares ou extracurriculares nessas instituições. Outro ponto interessante é que para as pessoas que buscam fazer concurso público, o trabalho nas eleições pode ser critério de desempate para classificação, quando previsto no edital do concurso.

VALOR INVESTE

https://valorinveste.globo.com/mercados/brasil-e-politica/noticia/2024/10/25/vai-ser-mesario-no-2o-turno-das-eleicoes-confira-direitos-e-deveres-de-empregados-e-empresas.ghtml

Declaração do Brics pede reforma na ONU e projeta ordem mundial multipolar

IPCA-15, a ‘prévia da inflação’, volta a acelerar em outubro. A Selic sobe mais?

Por Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo


O IPCA-15, conhecido como ‘prévia da inflação’, subiu 0,54% em outubro ante setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O indicador acelerou ante o visto em setembro, quando subiu 0,13%.

O índice ficou acima da mediana das 31 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data, que apontava para uma alta de 0,51% na comparação mensal. O intervalo das projeções ia de um avanço de 0,40% a uma alta de 0,60%.

No ano, o IPCA-15 acumula alta de 3,71%, e nos últimos 12 meses, de 4,47%, acima dos 4,12% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. É importante lembrar que a meta fixada pelo governo para o IPCA (a inflação oficial) neste ano é de 3%, com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima ou para baixo. Portanto, uma inflação de até 4,5% é considerada aceitável, mas o IPCA-15 está bem próximo desse limite tolerável.

Diferença do IPCA-15 para o IPCA

Embora seja conhecido como “prévia da inflação” por antecipar o IPCA, o IPCA-15 mede nada mais, nada menos do que a própria inflação mesmo, só que em outro período.

A diferença prática em relação ao IPCA é que a “prévia” mede a inflação dos dias 15 de um mês e outro, enquanto a inflação “oficial” mede a variação do mês início ao fim daquele mês fechado.

Com esse resultado, a Selic sobe mais?

Além da alta do IPCA-15 ser sentida no bolso dos consumidores (afinal, a inflação significa que os preços, de um modo geral, estão subindo), ela também impacta os investimentos, especialmente a Selic. Isso porque a taxa básica de juros é um dos de instrumentos que o Banco Central tem para controlar a alta de preços.

Quando a inflação está alta, a autoridade monetária sobe os juros, a fim de “encarecer” o dinheiro. Portanto, os empréstimos e financiamentos (tanto dos consumidores como das empresas) ficam mais caros. Assim, há menos consumo, menos dinheiro em circulação. Com isso, os preços tendem a voltar a cair e a inflação entra nos eixos novamente.

O mesmo acontece no cenário oposto. Se a alta dos preços está sob controle, a autoridade monetária pode cortar os juros (e, portanto, “baratear o dinheiro”) para incentivar que as pessoas e empresas gastem sem que isso compromta o bolso delas, já que a alta dos preços está em ordem. E isso serve como um estímulo para a economia crescer.

Atualmente, o Banco Central voltou a aumentar a Selic. E a razão para a mudança foi justamente a preocupação com a inflação.

Na ata da última reunião do Copom, o BC destacou que todos os membros do comitê concordaram em iniciar gradualmente o ciclo de aperto monetário, tendo em vista que “o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador”. Sobre o futuro, no entanto, o BC preferiu “deixar em aberto”. No comunicado, o Banco Central afirma que “o comitê debateu o ritmo e a magnitude do ajuste da taxa de juros, bem como sua comunicação” e que “preferiu comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo” e “sem conferir indicação futura de seus próximos passos”.

Portanto, o futuro da Selic depende justamente de indicadores econômicos. Ao mostrar uma nova aceleração, o IPCA-15 pode trazer mais cautela para o mercado. Afinal, é um indicativo de que o avanço dos preços ainda está fora de controle. Agora, no entanto, resta esperar para ver como o mercado responderá aos números.

O que subiu e o que caiu?

Segundo o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta no mês de outubro. A maior variação e o maior impacto positivo vieram de Habitação (com alta de 1,72%). O grupo de Alimentação e bebidas subiu 0,87% e registrou aumento de preços pelo segundo mês consecutivo. As demais variações ficaram entre o recuo de 0,33% de Transportes e o aumento de 0,49% em Saúde e Cuidados Pessoais.

  • Habitação

No grupo Habitação, a alta foi de 1,72%. Nele, o principal impacto veio da energia elétrica residencial, que passou de 0,84% em setembro para 5,29% em outubro. O impacto veio especialmente após a implementação da bandeira tarifária vermelha patamar 2 a partir de 1º de outubro. Destaca-se, também, a alta do gás de botijão, que subiu 2,17%.

  • Alimentação e bebidas

Em Alimentação e Bebidas, que teve alta de 0,87%, a alimentação no domicílio registrou aumento de 0,95% em outubro, após três meses consecutivos de queda. Segundo o IBGE, contribuíram para esse resultado os aumentos do contrafilé (que teve avanço de 5,42%), do café moído (que subiu 4,58%) e do leite longa vida (com alta de 2,00%). No lado das quedas, destacam-se a cebola (que recuou 14,93%), o mamão (que caiu 11,31%) e a batata-inglesa (com queda de 6,69%).

A alimentação fora do domicílio acelerou para 0,66% em outubro, em virtude das altas mais intensas da refeição (de 0,22% em setembro para 0,70% em outubro) e do lanche (de 0,20% para 0,76%).

  • Saúde e cuidados pessoais

No grupo de Saúde e cuidados pessoais, que teve alta de 0,49%, o subitem plano de saúde subiu 0,53%. Segundo o IBGE, o aumento veio com a aplicação de reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para os planos contratados antes da Lei nº 9.656/98, com vigência retroativa a partir de julho.

  • Transportes

No grupo Transportes, que registrou queda de 0,33%, o resultado foi influenciado principalmente pelas passagens aéreas (que ficaram 11,40% mais baratas), do Ônibus urbano (que teve recuo de 2,49%), trem (que caiu 1,59%) e metrô (que teve queda de 1,28%). Os recuos aconteceram decorrência da gratuidade nas passagens concedidas à população no dia das eleições municipais, em 6 de outubro.

Em relação aos combustíveis, que tiveram leve queda de 0,01%, o gás veicular caiu 0,71% e o óleo diesel recuou 0,23%. Já o etanol subiu 0,02% e a gasolina apresentou estabilidade de preço.

VALOR INVESTE

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A indiferença do eleitor a Lula e Bolsonaro

O presidente Lula e seu antecessor Jair Bolsonaro chegam ao final do segundo turno das eleições municipais mais fragilizados do que no início da campanha. O resultado do primeiro turno, com vantagem para os partidos de centro — PSD, MDB e União Brasil —, mostrou que eles já não são os eleitores mais eficientes, como foram no passado recente. Saem desgastados da disputa. Em São Paulo, maior cidade do país e onde concentraram esforços, o fato de apadrinharem candidatos não faz diferença para a maioria dos eleitores.

Pesquisa Quaest de 13 de outubro mostrou que para 61% dos paulistanos o apoio de Lula não orienta o voto. Para 58%, as preferências de Bolsonaro não têm qualquer efeito sobre a decisão. E entre os eleitores  de 2022 que não escolheram nem Lula nem Bolsonaro, 64% votariam nulo, em branco ou não votariam se a eleição presidencial fosse hoje e os nomes de Lula e de Bolsonaro estivessem na cédula.

O resultado pífio do PT, que ainda não elegeu prefeito em capitais — disputa o comando de quatro cidades no domingo (27) —  evidencia a corrosão da base social da esquerda no país, os sinais de falência de seu discurso e o crescimento do antipetismo. A taxa de sucesso do partido na eleição para vereador foi de apenas 10,4% — a razão entre o número de candidatos e o número de eleitos —, mostra levantamento da Action Consultoria. O melhor resultado foi do MDB, com 20,1%. O pior, do PSol, apenas 2,3%. O PL ficou com 15,1%.

O PT já discute como reconstruir a legenda para enfrentar 2026. Na direita o problema é outro, a fragmentação. Segundo a Quaest, em uma hipotética disputa presidencial com Lula, Tarcísio de Freitas e Pablo Marçal, o voto bolsonarista se divide: 18% para Marçal e 15% para Tarcísio. Lula ficaria com 32%, na liderança. Na prática, o país segue dividido em três blocos, mas os insatisfeitos com essas opções têm ligeira maioria: 18% ficariam indecisos e 18% não votariam, anulariam o voto ou votariam em branco (36%, portanto).

É nisso que o centro aposta para driblar a polarização. Não será fácil, como mostram eleições anteriores, mas os sinais de desgaste desse padrão indicam que arejar o discurso e entender os desejos da sociedade é essencial para quem quer chegar ao poder.

Autoria

Lydia Medeiros Jornalista formada pela Universidade de Brasília, foi titular da coluna Poder em Jogo, em O Globo (2017-2018). Atuou ainda em veículos como O Globo, Folha de S.Paulo, Época e Correio Braziliense. Foi diretora da FSB Comunicações, onde coordenou o atendimento a corporações e atuou na definição de políticas de comunicação e gestão de imagem.

lydiamedeiros@congressoemfoco.com.br

CONGRESSO EM FOCO

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/a-indiferenca-do-eleitor-a-lula-e-bolsonaro/

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O segredo da campanha petista que chegou ao segundo turno no reduto bolsonarista

Debaixo do sol escaldante do centro da cidade, um homem magro, vestido em uma camisa branca, e trajando uma pequena ecobag desce e sobe frequentemente de uma Saveiro, intitulada “carro da mudança”, de onde acena para as pessoas, recebe gritos de apoio e não raro gritos de repúdio.

Repúdio porque a cena citada é em Cuiabá, capital de Mato Grosso, cidade que deu a Bolsonaro 65% dos votos do eleitorado em 2022. E porque o homem de branco é Lúdio Cabral, filiado ao Partido dos Trabalhadores desde a juventude, que tenta vencer as eleições no reduto bolsonarista, onde o adversário é o Abilio Brunini (PL-MT), apoiado pelo ex-presidente passou ao segundo turno com 127 mil votos, uma diferença de 36 mil votos para Lúdio, o segundo colocado.

A capital do estado é estratégica para a agenda conservadora, tendo recebido visitas do próprio ex-presidente, de sua esposa Michelle Bolsonaro (PL) e da senadora e ex-ministra Damares Alves (Republicanos). Em discurso ao visitar Cuiabá, o próprio Bolsonaro admitiu a importância do pleito na cidade.

A presença de um petista no segundo turno em Cuiabá já seria uma surpresa por si só se não fossem os resultados das primeiras pesquisas eleitorais divulgadas logo após a eleição no dia 8 de outubro. Os monitoramentos de intenção de votos mostram um empate técnico entre os dois candidatos. Enquanto o PT patina para conseguir vencer em outras capitais, como Fortaleza e Natal, as chances de vitória surgiram de onde menos se esperava.

As pesquisas indicam que 12% dos eleitores de Cuiabá que votaram em Bolsonaro na última eleição agora votam em Lúdio Cabral para prefeito. De repente, muitos olhares se voltaram para a capital de Mato Grosso e muitos analistas políticos se esforçaram para explicar como é que o petista chegou tão longe.

Em entrevista ao Congresso em Foco, a assessora de imprensa Laíse Lucatelli, que trabalha com Lúdio desde 2019, conta que o time de comunicação do deputado estadual percebeu muito rapidamente que o primeiro desafio de Lúdio na política, ainda como parlamentar, seria superar o antipetismo. Para isso, Cabral resolveu não fazer enfrentamentos diretos com o sentimento de ódio ao PT. Focando nos problemas locais, a equipe de Lúdio percebeu que seria possível mostrar soluções além da dicotomia Lula versus Bolsonaro. Uma estratégia simples e que deu certo.

“Quando Lúdio saía para panfletar e para conversar com as pessoas na rua, não só na campanha, ele ouvia que as pessoas queriam votar nele, mas não conseguiam por causa do PT”, conta Laíse Lucatelli, jornalista pós-graduada em Comunicação Política e assessora de imprensa de Lúdio desde 2019. “Então, o nosso desafio era que essa pessoa virasse essa chave, assim como muitas outras dispostas a superar essa resistência”, contou.

Na campanha, Lúdio substituiu o vermelho característico dos militantes do partido pela cor branca. A cor caiu como uma luva para o seu discurso voltado à Saúde de Cuiabá, tema sensível para a população da capital mato-grossense, que teve a maior maior taxa de mortalidade de Covid-19 durante a pandemia e enfrentou uma intervenção estadual no município autorizada pela Justiça por conta de acusações de corrupção e de má administração de recursos públicos do atual prefeito, Emanuel Pinheiro (MDB). Médico de formação, Lúdio se elegeu deputado estadual com um discurso completamente voltado aos problemas da Saúde da capital.

Ainda no primeiro turno, o candidato do PT decidiu fazer uma proposta ousada, ampliando o diálogo para outros temas da cidade. Prometeu que se fosse eleito a tarifa do transporte público seria de R$ 1,00. A ideia teve impacto direto no até então favorito a vencer em Cuiabá, o deputado estadual Eduardo Botelho (União Brasil), cujo irmão é diretor de uma das concessionárias de transporte público de Cuiabá.

Presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) e apoiado pelo governador do estado, Mauro Mendes (União Brasil), Botelho acabou enfrentando desgastes que não foram calculados. As críticas dos adversários ao transporte público foram um destes desgastes. A decisão do governador de trocar o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que deveria ter sido concluído em 2014, pelo Bus Rupid Transit (BRT), deixou obras inconclusas e causou irritação na população cuiabana, por conta dos congestionamentos e caos das obras atrasadas no centro da cidade.

Além do transporte público, o deputado precisou lidar com o desgaste provocado pela proibição da pesca em Mato Grosso. A Lei 12434/2024, aprovada em março, foi aprovada sob a presidência de Botelho na ALMT. Cuiabá, uma cidade com um passado ribeirinho e ligada à pesca, virou epicentro da indignação dos pescadores, cuja existência profissional passou a ser ameaçada pela nova legislação.

Antes projetado nas pesquisas como líder nas intenções de votos, Botelho enfrentou gradual rejeição ao longo da campanha. Enquanto isso, Brunini e Cabral cresciam na disputa, mirando incessantemente no adversário. No dia 8 de outubro, quando as urnas foram abertas, o resultado se mostrou inesperado, com a vitória de Abilio e a passagem de Lúdio para o segundo turno, com uma diferença de apenas 1742 votos para Botelho.

Na visão do marqueteiro de Lúdio, o jornalista e doutor em comunicação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pedro Pinto de Oliveira, a campanha de Lúdio não “inventou a roda”. De acordo com Oliveira, o candidato do PT chegou ao segundo turno porque não embarcou na discussão antipetista e falou de problemas reais da cidade, estratégia semelhante à adotada pela equipe de Lula em 2022.

“Reduzir a eleição ao petismo e ao bolsonarismo é uma coisa que apequena o discurso e apequena a política, o grande serviço que o Lúdio está fazendo é dar uma dimensão maior para a política, a política que a gente entende como aquilo que se apresenta como solução para os problemas da pessoa, eu acho que é isso que o Lúdio está fazendo e que serve como exemplo para outras eleições, com aquela serenidade e firmeza que ele tem apresentado”, afirmou Pedro. “O bolsonarismo se mostra estéril quando precisa discutir a realidade”, concluiu.

Um dos problemas discutidos pelo candidato é o calor extremo. Em 2024, a cidade bateu recordes de temperatura e corre o risco de ficar inabitável atingindo a marca dos 50ºC entre 2030 e 2050, de acordo com projeções científicas. A realidade obrigou até mesmo Brunini a falar sobre o assunto, normalmente negado pela extrema direita, que passou a defender o aumento da arborização na cidade.

“A defesa do meio ambiente e da natureza são grandes bandeiras do Lúdio como deputado estadual”, afirma Lucatelli. “Lúdio se preocupa muito com a falta de água, que pode ocorrer se permitirmos que continuem destruindo córregos, rios e o lençol freático”, disse.

A chegada do petista no cenário político de Cuiabá é, na verdade, um retorno. Cabral voltou às urnas em 2018, após sair derrotado nas eleições para governador de Mato Grosso em 2014. No período em que ficou fora da política, o antipetismo cresceu fortemente. Mesmo assim, ele foi o mais votado em Cuiabá para deputado estadual em 2018 e mais que dobrou sua votação em 2022, quando foi reeleito também como o mais votado.

Sem receber visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em 2014 foi o principal cabo eleitoral do petista, Lúdio preferiu trazer o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), considerado mais próximo da direita. Questionado sobre a ausência do presidente, o marqueteiro de Lúdio afirma apenas que a campanha é baseada em dar atenção aos problemas locais que existem e fugir do discurso sobre problemas irreais.

“Se discutir petismo, você gira o parafuso na areia, é tudo que eles querem, é uma discussão apequenada, os adversários estão desesperados porque a população está entendendo a discussão que lhe afeta”, falou.

Não só o conteúdo, mas a forma das campanhas de Lúdio e Brunini também são diferentes. Enquanto o candidato da direita opta pelo digital e pela presença massificada na internet, Lúdio segue o caminho oposto, com uma campanha voltada para as panfletagens e visitas aos bairros. Na avaliação de Laíse Lucatelli, a presença na rua foi um dos fatores que ajudou Lúdio a chegar ao segundo turno.

“A campanha foi buscar falar diretamente com as pessoas por isso que o Lúdio fez uma campanha de muita rua, falando com as pessoas nas avenidas e nos bairros, uma campanha de carreatas e de panfletagem, a panfletagem permite que você fale com as pessoas, que perceba o que a pessoa está sentindo em relação aos problemas da cidade e o que ela espera do prefeito”, disse a jornalista. “Este contato, olho no olho, nós investimos muito nisso e pode ter sido o grande diferencial que nos levou ao segundo turno”.

Segundo Pedro Pinto de Oliveira, a presença do petista nas ruas permitiu que o eleitorado resistente ao candidato o conhecesse melhor. O que favorece, de acordo com ele, é o perfil do próprio Lúdio.

“O diferencial é que Lúdio trabalhou com um eleitorado conservador e cristão e que não é diferente da trajetória de vida dele, não foi uma coisa artificial, essa é que é a grande força, o Lúdio é um cara com origem no movimento católico, a esposa é evangélica, ele tem uma base de vida pessoal e de trajetória com esses segmentos, então ficou claro que ele poderia dialogar”, afirma o marqueteiro.

Nas capitais do centro-oeste, onde o bolsonarismo ainda é uma força hegemônica na política, Lúdio é um pontinho vermelho (ou branco) no mapa de resultados eleitorais. Em Campo Grande (MS), Camila Jara (PT) obteve apenas 9% dos votos e ficou longe do segundo turno. Em Goiânia, Adriana Accorsi (PT) ficou com 24% e também ficou fora. Nas duas capitais, o eleitor decidirá entre dois candidatos de direita.

A capacidade de ouvir quem está em uma linha ideológica diferente do candidato também foi importante para a campanha. Segundo Laíse, um dos “segredos” talvez tenha sido exatamente isto.

“O que deu certo foi falar com todos que estavam dispostos a ouvir e ouvir todos que estavam dispostos a falar, sem pensar na barreira se a pessoa é bolsonarista ou ela é antipetista, mas ela quer falar alguma coisa”, declarou Laíse Lucatelli.

Autoria

Lázaro Thor Lázaro Thor é jornalista formado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e editor do site VG Notícias. Possui contribuições para revista Piauí, Folha de São Paulo, UOL, Congresso em Foco e outros.

lazaro-thor@congressoemfoco.com.br

CONGRESSO EM FOCO

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/o-segredo-da-campanha-petista-que-chegou-ao-segundo-turno-no-reduto-bolsonarista/