A massa salarial avança com força neste ano, impulsionada principalmente pela construção civil e, em menor medida, por alguns setores de serviços, como intermediação financeira e atividades imobiliárias e alojamento (hotéis), alimentação, transporte e serviços pessoais.
Com o boom do mercado imobiliário e a retomada dos investimentos em infraestrutura, a massa salarial da construção aumentou 18,2% acima da inflação de janeiro a novembro na comparação com o mesmo período de 2009. Nos segmentos de serviços, a alta está na casa de 8%.
A indústria, por sua vez, tem um dos desempenhos mais modestos, com avanço de 4,3% da massa salarial real, consideravelmente abaixo dos 7,3% registrados pela média de todos os segmentos da economia. Os números fazem parte de levantamento realizado pela TendênciasConsultoria Integrada com base nas informações da Pesquisa Mensal de Emprego (PME).
O desempenho da construção ocorre em cima de uma base elevada – de 2007 a 2009, a massa salarial do setor já tinha aumentado quase 30%. “É um resultado impressionante, de um setor que enfrenta falta de mão de obra qualificada”, diz o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências. De janeiro a novembro, o rendimento real cresceu 11,1% e o nível de emprego, 6,5%.
A dificuldade em encontrar pessoal especializado empurra para cima os ganhos dos trabalhadores do setor, que têm conseguido reajustes elevados, num quadro em que as empresas disputam os melhores empregados, oferecendo salários mais altos. Para Wjuniski, o bom momento do mercado imobiliário, com a explosão do crédito habitacional, é o grande responsável pelo aquecimento da construção civil.
O economista Sérgio Mendonça, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), acredita que os investimentos em infraestrutura também têm peso importante para explicar o aumento do emprego e da renda no setor. O investimento público tem aumentado bastante, com o melhor desempenho na execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de obras realizadas por Estados.
O ano também tem sido muito bom para os trabalhadores do setor de intermediação financeira, atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados a empresas. De janeiro a novembro, a massa salarial desse grupo avançou 7,7% em relação a igual período de 2009, descontada a inflação. O nível de ocupação cresceu 4,5% e o rendimento real, 3%.
Mendonça diz que o setor de intermediação financeira vive momento de forte expansão, com o crescimento expressivo dos produtos bancários e financeiros. “Os bancos estão contratando mais funcionários para trabalhar com crédito imobiliário, por exemplo.” Ele lembra, porém, que o setor bancário passou por forte ajuste do nível de emprego nos anos 90 – o número de empregados, que era de cerca de 1 milhão, passou para a casa dos 400 mil. “O segmento ficou bastante enxuto. Nos últimos anos, tem recuperado o nível de emprego aos poucos.”
Os chamados outros serviços também registram expansão robusta da massa salarial – 8,6% de janeiro a novembro, com o nível de emprego subindo 6,6% e a renda real, 1,9%. Estão incluídos aí vários segmentos, como alojamento e alimentação, transporte, armazenagem e comunicações e serviços pessoais. A melhora de renda geral na economia aumenta a demanda por esses serviços, o que leva as empresas a aumentar o nível de emprego e também os salários de seus funcionários, diz Mendonça.
A massa salarial do grupo do qual faz parte a administração pública teve uma expansão um pouco mais modesta no acumulado de janeiro a novembro. Houve crescimento de 6,7% em relação ao mesmo período de 2009, com alta mais forte da ocupação (3,7%), do que da renda real (2,8%). Já entre março e novembro deste ano, a massa registra uma alta mais forte, de 15,3%. Além da administração pública, estão no grupo os segmentos de defesa, seguridade social, educação, saúde e serviços sociais.
O setor de serviços domésticos, por sua vez, registra o crescimento mais fraco da massa salarial de todos os pesquisados pelo IBGE. De janeiro a novembro, a massa aumentou apenas 3,4% acima da inflação. A renda real do segmento teve alta de 5,7% no período, mas o nível de emprego recuou 2,2%. Para Wjuniski e Mendonça, a queda da ocupação se deve ao fato de que, com o bom momento do mercado, parte dos trabalhadores do setor procura emprego em outros segmentos. Há uma busca por postos de trabalho mais qualificados, o que é possível quando a economia está muito aquecida, explica Wjuniski.
A indústria também destoa da maior parte dos setores. A alta da massa salarial de 4,3% se deve à combinação de um aumento de 3,5% da ocupação e de apenas 0,8% da renda real. O economista José Márcio Camargo, da OpusGestão de Recursos, nota que o setor é fortemente exposto à concorrência dos produtos estrangeiros. Com o câmbio valorizado e a elevada ociosidade industrial em boa parte do mundo, bens industrializados importados chegam baratos ao Brasil. Com margens apertadas, as empresas ficam mais rigorosas na hora de conceder aumentos.
Mendonça aponta outro motivo para o desempenho mais fraco da renda na indústria. Segundo ele, o setor demitiu bastante na crise global, tendo recomposto o nível de emprego ao longo do tempo. “A questão é que essa recomposição se faz com rendimento abaixo da média do setor. Quem foi demitido, em geral é contratado com um salário inferior ao que ganhava”, diz ele. Mendonça destaca que as categorias industriais têm obtido aumentos acima da inflação – os salários dos novos empregados é que jogam a média para baixo.
O setor outras atividades é o que teve a maior alta de janeiro a novembro – 28,4%. A questão é que se trata de segmento pouco representativo, que reúne, segundo o IBGE, as atividades que não se encaixam em nenhum dos outros grupos. Além disso, tem um comportamento muito volátil – em 2009, por exemplo, a massa do setor tinha caído 22,3%, já descontada a inflação.
Para 2011, a expectativa dos analistas é que o mercado de trabalho não repita o resultado exuberante deste ano. Camargo acredita que os juros vão subir no ano que vem, lembrando que o Banco Central já elevou os depósitos compulsórios dos bancos, para frear o ritmo de alta do crédito. “A taxa de desemprego deve parar de cair, o que diminui a pressão sobre o mercado de trabalho.” Aliada a uma inflação mais alta, a renda deve subir menos em termos reais. Wjuniski nota que os estímulos ao consumo e à produção, que marcaram 2010, não estarão mais presentes em 2011 – os juros deverão subir, o governo anuncia redução do ritmo de gastos e não há mais desonerações tributárias para a compra de veículos e eletrodomésticos. “Além disso, o salário mínimo deve subir menos do que nos últimos anos”, afirma ele, que projeta alta de 7% para a massa salarial neste ano e de 5,3% em 2011.