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Sem surpresas, BC segura juros lá no alto à espera da queda da inflação rumo às metas de 2023 e 2024

Por Gustavo Ferreira, Valor Investe

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreendeu um total de zero pessoas nesta quarta-feira (26) ao manter os juros básicos (Selic) a 13,75% ao ano. Pela segunda vez consecutiva, a autoridade monetária manteve a taxa nas alturas, sem tirar nem por, à espera da queda da inflação em bases anuais às metas de 2023 e 2024.

 

O dado mais recente de inflação, medido pelo IPCA-15 de outubro divulgado faz um dia, mostra a alta do custo de vida para os brasileiros na altura dos 6,85% em 12 meses. Para este ano, já se dá como favas contadas a falha na missão de entregar a inflação na meta de 3,5%. Mais do que isso, acima do teto de tolerância de 5%. A expectativa média do mercado, hoje, mira os 5,60%.

 

Com lambuja de 1,5 ponto para cima ou para baixo, a meta de inflação para para 2023 é de 3,25% ao ano; para 2024, de 3%. Analistas esperam hoje por inflação fechando o ano que vem nos 4,94%, acima portanto do teto de 4,75%. Para 2024, a previsão é de 3,50%, acima do centro da meta – veja mais expectativa aqui.

A decisão foi unânime e veio em linha com o consenso do mercado. As dúvidas entre analistas giram em torno de quando a Selic começará a cair.

Os mais otimistas entendem que, já no começo de 2023, o esfriamento das expectativas de inflação abrirá espaço. Na outra ponta, há aqueles mirando o final do próximo ano. Dois fatores principais estão em jogo para antecipar ou retardar o relaxamento da política monetária. Um interno, outro externo.

 

Na cena internacional, a recessão e os juros elevados lá fora podem trazer pressão de alta ao dólar no Brasil – ou não. Internamente, eventual sensação de risco fiscal nutrida pelo próximo governo pode ser um empurrão a mais para a fuga de capitais – ou não. No pior dos cenários, seria prudente manter taxas no alto por mais tempo, evitando reduzir o diferencial de juros do Brasil com o exterior. Caso contrário, a queda de Selic seria um fator a mais para o câmbio subir de patamar no Brasil. No melhor dos casos, não haveria razão de deprimir ainda mais o potencial de crescimento nacional.

 

“O Copom trabalha com um cenário de muitas incertezas, dentre as quais a desaceleração da atividade econômica global, a queda dos preços das commodities internacionais em real, e o risco de ‘efeito rebote’ dos impostos “represados” em 2022, em especial nos combustíveis”, aponta Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil. “Esses fatores podem faz pressão sobre os preços no começo de 2023, o que poderia obrigar o Comitê a ter uma postura mais forte caso já cortasse agora a Selic.”

 

Com os 13,75% ao ano, a Selic vai andando de lado em sua viagem no universo dos dois dígitos, abandonado em 2017 e retomado em janeiro. Ao mesmo nível de 13,75% de dezembro de 2016.

  • Do ponto de vista do consumo, Selic mais alta implica empréstimos e financiamentos mais caros. E, assim sendo, serve de ferramenta para esfriar a demanda e, a reboque, preços.

 

Para o mercado financeiro local, a renda fixa pagando melhor significa menor poder de relativo de sedução para a renda variável. Já para o internacional, a renda fixa no Brasil passa oferecer retorno pouco mais alinhado à sorte de riscos oferecidos pelo país. Mais dólares podem ser atraídos ou menos afugentados. O que, por sua vez, vai na direção de controlar o canal cambial da inflação.

LEIA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO

 

Em sua 250ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a taxa Selic em 13,75% a.a.

 

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

 

O ambiente externo mantém-se adverso e volátil, com revisões negativas para o crescimento global e aumento da volatilidade nos ativos financeiros. O ambiente inflacionário segue pressionado, enquanto o processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas, tornando as condições financeiras mais apertadas. O Comitê notou também a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados. O Comitê avalia que ambos os desenvolvimentos inspiram maior atenção para países emergentes;

Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom sinalizou ritmo mais moderado de crescimento;

 

Apesar da queda recente concentrada nos itens voláteis e afetados por medidas tributárias, a inflação ao consumidor continua elevada;

 

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

 

As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 5,6%, 4,9% e 3,5%, respectivamente; e

 

No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,25*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2022 e “amarela” em dezembro de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 5,8% para 2022, 4,8% para 2023 e 2,9% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de -3,9% para 2022, 9,4% para 2023 e 3,8% para 2024. O Comitê optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que reflete o horizonte relevante, suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários. Nesse horizonte, referente ao segundo trimestre de 2024, a projeção de inflação acumulada em doze meses situa-se em 3,2%. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

 

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos; e (iii) um hiato do produto mais estreito que o utilizado atualmente pelo Comitê em seu cenário de referência, em particular no mercado de trabalho. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (iii) a manutenção dos cortes de impostos projetados para serem revertidos em 2023. O Comitê avalia que a conjuntura, ainda particularmente incerta e volátil, requer serenidade na avaliação dos riscos.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos de 2023 e de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

 

O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

 

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

VALOR INVESTE

https://valorinveste.globo.com/mercados/moedas-e-juros/noticia/2022/10/26/copom-mantem-selic-a-1375percent-ao-ano.ghtml