NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Ao longo das décadas, eles ajudaram a ditar os rumos do País. Combateram a ditadura militar, conquistaram a democracia e foram às ruas pelo impeachment do presidente da República. Atualmente, se veem desiludidos com a corrupção e a falta de espaço oferecido pelos partidos. Sem perspectivas de serem ouvidos, os jovens cada vez mais têm se afastado da política, o que gera preocupação sobre a renovação da classe.
 
“A corrupção é endêmica. Faz parte da cultura do Brasil. As pessoas já nascem convivendo com isso e se perguntam: ‘Qual o poder que tenho para mudar esta situação?’ E faltam incentivos dos partidos. O que eles oferecem para o jovem aceitar o desafio? Na maioria das vezes, abrem espaço só para aquele que tem pedigree (representante de um clã da política), que já é visto com potencial eleitoral”, identifica a professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos, Maria do Socorro Sousa Braga.
 
O clã ao qual a cientista política faz referência é latente no Grande ABC. Numa das regiões historicamente mais politizadas do País é escasso o surgimento de lideranças políticas. A maioria dos jovens que rompem esta barreira é formada por filhos de figurões, como os deputados estaduais Alex Manente (PPS-São Bernardo) e Vanessa Damo (PMDB-Mauá) e os vereadores Almir Cicote (PSB-Santo André) e Atila Jacomussi (PPS-Mauá).
 
Sentindo a falta de espaço para impor seus ideais nas legendas, os jovens se movimentam em outras frentes. “Preenchem outros espaços, como em ONGs e redes sociais, se destacando da política convencional (partidária). E este é um fenômeno preocupante, já que quanto mais se afastam da política institucional, mais há falta de renovação da classe”, analisa o professor das fundações Santo André e Getúlio Vargas, Marco Antônio Teixeira.
 
CASOS RAROS
Entre os que despontaram dos movimentos estudantis ou das alas jovens dos partidos estão Márcio Canuto e Ricardo Torres, atualmente presidentes municipais do PSDB em Mauá e Santo André. Mas o partido também revelou exemplo negativo. Então comandante da juventude andreense, João Antonio Cardoso, o Meio Quilo, 18 anos, foi destituído da presidência da ala após debochar, no Twitter, do câncer enfrentado pelo ex-presidente Lula. Pelo PT, o expoente jovem é Humberto Tobé, escolhido coordenador regional da sigla aos 29 anos.
 
Associação de estudantes tenta engajar militantes na região
A maioria dos jovens que atuam na política começa sua trajetória em movimentos estudantis, como a Associação Nacional dos Estudantes – Livre. No Grande ABC, alunos de escolas públicas e particulares realizaram diversas manifestações, entre elas atos contra o aumento da passagem de ônibus.
 
Eles foram até a Câmara de Santo André e fizeram protestos com cartazes e narizes de palhaço. A organização também repudiou o aumento de salário dos vereadores em São Bernardo.
 
A Anel nasceu de um racha na União Nacional dos Estudantes, em 2009. Militantes que não aceitavam o convênio entre o movimento e o governo federal resolveram fundar novo grupo para sair em defesa dos estudantes.
Rafael Nascimento é um dos líderes da Anel na região – que é atuante nas cidades de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema. O jovem destacou que as reivindicações são pontuais. “Nos reunimos para pautar coisas maiores e também há demandas de cada escola. Na Fundação Santo André, por exemplo, fizemos ato contra o aumento da mensalidade”, lembrou.
 
Não há cadastro dos estudantes que militam na região, mas Nascimento acredita no engajamento do jovem. “A influência de movimentos externos reflete em mais participação aqui. A tendência é que os estudantes se organizem mais”, analisou.
 
Juventude PMDB de São Bernardo deseja quebrar barreira
“Queremos quebrar o tabu entre o jovem e a política”. A frase é de Bruno Gabriel Mesquita, presidente da Juventude PMDB em São Bernardo. Criado há 15 dias no diretório municipal, o foco é trazer mais figuras jovens para a legenda.
 
Para o peemedebista, falta espaço para os jovens colocarem suas ideias em prática na política local. “Atuação efetiva é solução para diminuir a rejeição com a política. Só através do jovem o vácuo existente entre sociedade e política será tapado. O que falta é oportunidade.”
 
Mesquita garante que é justamente esse espaço que a Juventude PMDB pretende preencher. O movimento busca parceria com universidades e usa as redes sociais como principal instrumento para fomentar a política entre os jovens. “Fazemos revistas, reuniões para traçar estratégias de atuação. Temos de criar conscientização política, pois jovem politizado é jovem consciente”, opinou.
 
Entre os temas discutidos pelos militantes está a conscientização ambiental. Campanhas para arrecadar alimentos também estão entre as atividades do grupo.
 
O engajamento de Mesquista no meio político começou aos 16 anos, quando atuava no grêmio de uma escola particular em São Bernardo. Depois veio ingresso na atlética da faculdade e, finalmente, filiação a um partido. “Foi algo natural. Desde a escola comecei a entender que tudo envolve política”, ponderou.
 
Para o ano que vem, o plano é concorrer uma cadeira na Câmara. “Nosso grupo não vai perder a oportunidade e vamos lançar um nome de consenso. Tenho grande interesse, mas temos quatro pessoas interessadas. Não queremos cortar ninguém do processo”, declarou.
 
Mesquita, contudo, não é o único político da família. O jovem possui um tio que é prefeito em uma cidade do interior do Ceará.
 
Falta de linguagem própria também afugenta
“Jovem se afasta em primeiro lugar porque a dinâmica é chata. As reuniões partidárias são muito formais. E, segundo, pela falta de renovação dos quadros.” A constatação é feita pelo coordenador regional do PT, Humberto Tobé, 31 anos, que emergiu do movimento estudantil aos 16 – na Escola Estadual Aristides Greve, em Santo André.
 
Orgulhoso por coordenar o partido no reduto político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele tem na ponta da língua a estratégia para atrair o jovem. “Damos estímulos setoriais. O jovem é protagonista da sua demanda. Isso é o que toca o cara. Ele quer falar sobre a pista de skate, o meio ambiente e a descriminalização da maconha. O grande desafio é transcender isso”, admite.
 
As dificuldades surgem, por exemplo, na intenção de lançamento de candidatura. “Se sofre resistência, vai para onde pode, além de ser ouvido, dirigir seus projetos. Jovem não quer só carregar bandeira, quer por em prática. Por isso vai para o hip-hop, igrejas e ONGs.”
 
Uma das iniciativas projetadas para a formação de jovens na política está a implantação da Escola de Governo, idealizada há 16 anos pelo ex-prefeito petista de Santo André Celso Daniel. O espaço, em declínio nos últimos anos, tinha como objetivo servir de instrumento na capacitação de gestores para atuar em prefeituras e órgãos públicos da região, contribuindo para a prestação de serviços públicos.
 
Grande parte de políticos ligados ao PT, principalmente contemporâneos do ex-prefeito, participou da escola, que prestou serviços para o Consórcio Intermunicipal e Paços.
 
Outro mecanismo foi criado na Prefeitura de Santo André, em 1998, também no governo do PT, com a Escola de Formação em Administração Pública Paulo Freire, que visava capacitar e desenvolver os servidores públicos, dando ênfase na gestão por resultados.