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Em 2011, 11 mil pessoas perderam a casa por não pagar hipotecas; 40% das famílias vivem com pensão de idosos

Legislação do país diz que, além de ficar sem o imóvel, comprador deve seguir bancando o documento de caução
 

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Ignacio Sánchez, 34, comprou um apartamento em 2007, no auge do boom imobiliário na Espanha, quando gerentes de bancos davam crédito a clientes com exigências mínimas -a única preocupação era alcançar as metas importas por seus chefes.

Hoje, menos de cinco anos depois, Ignácio, então recém-casado e trabalhando em uma construtora, afundou junto com a Espanha. Sua empresa faliu e, com a mulher, voltou à casa dos pais, que, também sem emprego, vivem da pensão do avô.

O caso é um quadro comum na Espanha pós-2008, quando a crise financeira provocou o estouro da bolha imobiliária. Só em 2011, 11 mil pessoas tiveram que deixar suas casas por não poderem pagar a hipoteca, um recorde no país.

Para piorar, a legislação espanhola determina que, além de perder a casa, o comprador tenha que seguir bancando a hipoteca. “O governo atende à especulação imobiliária e desenhou a legislação para favorecer os bancos, porque, na época, havia muita pressão para vender todas as casas e apartamentos construídos a um ritmo muito veloz”, disse o bancário Alberto Nuñez, que participa de ações para tentar impedir que pessoas sejam desalojadas e sigam pagando hipoteca.

O novo governo, por enquanto, não deve mexer no esquema, cuja banca espanhola argumenta proteger o próprio comprador. Segundo um estudo da consultora Oliver Wyman, a hipoteca média encareceria em € 60 (R$ 145) ao mês caso as prestações não fossem mais cobradas após a retirada da casa.

Segundo a Associação Espanhola de Bancos, isso afetaria 97% das pessoas com hipotecas hoje no país.

Como segue pagando hipoteca por uma casa que já não tem, Ignácio tem que recorrer à Cáritas -organização humanitária católica que, entre outras ações, distribui cestas básicas a pessoas pobres. “A pensão do meu avô serve para bancar toda a família e ainda pagar as prestações de uma casa que já não tenho”, disse.

Em 2010, o número de espanhóis que recorreu à Cáritas representou 50% das petições de ajuda. Antes, eles não somavam 25% dos beneficiados. “Estamos em uma situação de emergência social que não está em consonância com um país que até há pouco tempo era a oitava potência mundial”, disse o diretor da Cáritas na Catalunha, Jordi Roglà, à TV pública espanhola.

BENEFÍCIO MANTIDO

Em 2011, o governo registrou mais de 40% de famílias vivendo com alguma ajuda da pensão dos idosos. Em algumas regiões do país, 45% delas dependem inteiramente do benefício, o único que o governo prometeu não cortar.

“É um processo endêmico. De um lado, o sistema financeiro aliciou as pessoas a comprarem casas e as deixou dependentes de hipotecas. De outro, a pensão é a única garantia de benefício social sem reduções”, disse o economista José Espinosa.