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Rendimento de R$1.490 é recorde, mas inflação começa a corroer ganho. Falta de mão de obra qualificada preocupa

RIO, SALVADOR e PORTO ALEGRE. O ano de 2010 foi o melhor para o mercado de trabalho brasileiro. Essa avaliação foi unânime entre analistas. A taxa de desemprego, o rendimento, o emprego formal, as diferenças regionais, de gênero e raça estão no melhor patamar histórico, de acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada pelo IBGE. A parcela de desempregados na força de trabalho foi de 5,3% em dezembro, abaixo dos 5,7% de novembro e bem inferior aos 6,8% de dezembro de 2009. Em 2010, a taxa média de desemprego ficou em 6,7%, contra 8,1% de 2009 e 12,5% em 2003. Já o rendimento subiu 3,8% no ano, mas recuou 0,7% frente a novembro de 2010, efeito do avanço da inflação nos últimos meses.

Com taxa tão baixa, a ponto de os economistas estarem avaliando se o país já está no piso do desemprego, Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, diz que ainda é cedo para classificar a situação atual no mercado de trabalho de pleno emprego:

– É cedo para falar de pleno emprego. Como falar disso num país onde as diferenças regionais são tão grandes?

Ele se refere às altas taxas que ainda persistem em capitais nordestinas, como em Salvador, onde a média da taxa de desemprego em 2010 ficou em 11%, e em Recife, em 8,7%. Desemprego que acompanha há oito meses Antônio Carlos dos Santos, de 25 anos. Ele retornou ao Serviço Municipal de Intermediação de Mão de Obra de Salvador pela sétima vez, desde que seu contrato como técnico em informática terminou na empresa onde trabalhava, para tentar uma vaga como vigilante, com salário de R$990:

– O mercado de trabalho (de informática) é menor e muito mais exigente. Por isso, fiz um curso de vigilante que terminei em novembro. Ainda espero conseguir esta vaga.

Desemprego em Porto Alegre chegou a 3%

Em situação inversa vem Porto Alegre, onde o desemprego alcançou apenas 4,5% no ano e chegou a 3% em dezembro. Joseane de Oliveira Machado, de 26 anos, ajudou a baixar a estatística. Está empregada desde outubro em uma casa de massas no centro de Porto Alegre. A jovem é testemunha do aumento da oferta de emprego na capital gaúcha. Na primeira entrevista, conseguiu a vaga:

– Foi muito rápido! Em dois dias eu estava trabalhando.

Assim como Joseane, mais 743 mil trabalhadores conseguiram vaga formal. Das ocupações criadas em 2010, 91,8% foram com carteira assinada. Na Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, a situação se repete. Dos 765 mil empregos criados, 95% foram com carteira.

A participação desses trabalhadores protegidos no total de ocupados foi recorde em todas as atividades econômicas e em todas as regiões. O exemplo mais marcante foi a construção civil. De 2003 a 2010, a parcela de empregados formais subiu de 25,5% para 36,8%, na maior alta entre os ramos econômicos:

– Houve reestruturação forte no mercado de trabalho na construção civil – constatou Marcia Quintslr, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

No total de ocupados, a participação dos que têm carteira assinada passou de 39,7% em 2003 para 46,3%. Na indústria, o setor mais formal da economia, essa parcela subiu de 60,7% em 2003 para 66,7% em 2010:

– E vimos reduções importantes no emprego sem carteira e doméstico. Foram menos 66 mil no trabalho doméstico. Isso significa que o mercado criou alternativas para entrada no mercado desses trabalhadores – afirmou Sérgio Mendonça, economista do Dieese.

Diante dessa situação, Cristiano Souza, economista do Banco Santander, diz que a pressão da falta de mão de obra, principalmente qualificada, vai continuar este ano. E o ritmo de melhora vai diminuir. O banco projeta taxa de desemprego média em 2011 de 7%.

“A inflação funcionou como uma barreira ao rendimento”

Para Sérgio Mendonça, do Dieese, ainda não há um apagão de mão de obra generalizado no mercado. Mas a situação preocupa em algumas áreas:

– Com 6,7% de desemprego pelo IBGE e 11,9% pelo Dieese, não dá para dizer que haja um gargalo. Há falta de engenheiros, carpinteiros, soldadores. São situações pontuais.

O rendimento médio real também alcançou seu maior nível no ano passado. Chegou a R$1.490,61, uma alta de 3,8% frente a 2009. Um aumento semelhante ao captado em 2009, de 3,2%, quando o mercado de trabalho sofria as consequências da crise global, e a taxa de desemprego média subira de 7,9% para 8,1%. Segundo Azeredo, do IBGE, o aumento da inflação teve o seu papel nesse “progresso mais tímido” no rendimento:

– Havia uma expectativa de que iria aumentar ainda mais o rendimento no ano passado. A inflação funcionou como uma barreira ao progresso do rendimento – afirmou Azeredo.

COLABORARAM: João Pedro Pitombo, Agência A Tarde, e Naira Hofmeister, especial para O GLOBO