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Diante de novas denúncias envolvendo desvio de dinheiro público em ministérios, a Casa Civil voltará a ter papel mais político. Por determinação da presidente Dilma Rousseff, a ministra Gleisi Hoffmann já começou a cobrar pessoalmente dos colegas explicações para cada acusação. Depois da “faxina” nos Transportes, que derrubou 22 pessoas, a estratégia consiste em impedir que a crise bata à porta do gabinete de Dilma.

Na volta das férias parlamentares, o governo não quer esticar a corda com sua base de sustentação no Congresso. Nos últimos dias, Dilma ouviu ponderações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem é importante fazer uma repactuação com os aliados. Com estilo discreto, a petista Gleisi – que substituiu Antonio Palocci, abatido por denúncias de enriquecimento ilícito – será agora uma espécie de “facilitadora” na Esplanada.

Longe dos holofotes, a chefe da Casa Civil – batizada de “Dilma da Dilma” – fará a triagem dos assuntos espinhosos para encaminhar à presidente. Além disso, o site da Casa Civil abrigará, nos próximos dias, um espaço com perguntas e respostas sobre programas e projetos do governo federal. A ordem é afastar a turbulência do Planalto e diminuir os “ruídos”.

Foi Gleisi quem recebeu as justificativas do ministro das Cidades, Mário Negromonte. Ex-deputado, Negromonte foi acusado de promover o loteamento da pasta para abastecer o caixa de seu partido, o PP, a exemplo do que ocorreu com o PR nos Transportes. Por enquanto, não há ordem para qualquer afastamento naquela seara.

Gleisi também conversou com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB). Afilhado do vice-presidente Michel Temer, Rossi foi acusado por Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de comandar um esquema de corrupção na Agricultura, em parceria com o PMDB e o PTB. Jucá Neto era diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e foi demitido por Rossi, depois de autorizar um pagamento de R$ 8 milhões a uma empresa de fachada.

Desculpas. Após a reunião de ontem da coordenação de governo – com participação de integrantes do PMDB -, Romero Jucá foi ao Palácio do Planalto e pediu desculpas a Dilma, em nome do irmão. Ele também se encontrou com Temer. “Meu irmão teve uma postura incompreensível. O que ele disse não tem pé nem cabeça. Eu não conheço os dados da área, mas não é possível o Oscar sair atirando no ministro e no Temer”, insistiu o senador.

De acordo com seu relato, Dilma deu o assunto por encerrado e disse que Rossi está averiguando as denúncias, apresentadas pelo irmão de Jucá à revista Veja. “Cada ministro cuidará da sua área”, observou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). “Na política, não existem posições extremadas. Existem ponderações.”

Na prática, o PMDB agiu para abafar as acusações contra Rossi desde sábado, quando o ministro divulgou nota negando as denúncias. O próprio líder do governo no Senado telefonou para Temer e desqualificou as acusações do irmão. “Não sei o que deu nele”, comentou.

Agora, Dilma quer evitar o efeito dominó das denúncias e a prática do “olho por olho, dente por dente”. O receio do governo é que dirigentes de partidos aliados produzam dossiês para mascarar disputas políticas e atrapalhem as votações no Congresso. Em mais de uma ocasião, Dilma disse que a “reestruturação” – termo empregado por ela para definir a “faxina” – vai se restringir aos Transportes. Observou, porém, que estará atenta às brechas para verificar o que está ou não funcionando no governo. Gleisi será sua “olheira” nessa tarefa. / COLABOROU LEONENCIO NOSSA