NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Apesar da alta taxa de desemprego, que caiu de 9,1% em setembro para 9% em outubro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo Departamento do Trabalho dos EUA, alguns setores da economia americana sofrem com falta de mão-de-obra especializada.

Em áreas como tecnologia da informação, mineração, serviços de saúde e indústria manufatureira, empregadores relatam dificuldade em conseguir profissionais com a qualificação necessária.

Uma pesquisa recente feita pela consultoria Deloitte em conjunto com o Manufacturing Institute, entidade que representa o setor manufatureiro, calcula que 600 mil vagas permanecem abertas na indústria manufatureira porque os empregadores não conseguem encontrar funcionários o nível de instrução desejada.

O problema da falta de mão-de-obra especializada não é novo nos Estados Unidos. Mas o fato de que persiste mesmo em um momento em que 13,9 milhões de americanos estão desempregados surpreende alguns analistas.

“Algumas pessoas acham estranha a ideia de que os empregadores possam ter dificuldade em recrutar profissionais especializados em um momento em que há tanto excesso de trabalhadores procurando por empregos”, disse à BBC Brasil a analista Madeleine Sumption, do Migration Policy Institute, em Washington.

“Mas o alto desemprego não significa que certos profissionais especializados não sejam difíceis de encontrar. Há algumas ocupações específicas em que a demanda permanece muito forte”, afirma.

De certo modo, estamos limitando um recurso enorme com o qual sempre havíamos contado, que é a imigração de engenheiros, cientistas e outros profissionais altamente especializados para se unirem à força de trabalho dos Estados Unidos”

Gary Gereffi, diretor do Centro de Globalização, Governança e Competitividade da Duke University

Imigrantes

Sumption cita dados do setor de saúde, onde a taxa de desemprego para profissionais especializados é de 3%, bem menor que o total de 9%. “Esta é uma economia que ainda está à procura de trabalhadores. Geralmente, profissionais altamente especializados.”

Segundo a analista, diante desse cenário, muitos profissionais de outros países podem pensar em imigrar para os Estados Unidos e aproveitar a oportunidade.

Sumption alerta, no entanto, que profissionais de outros países podem enfrentar dificuldades, como adaptar a licença para exercer a profissão às regras americanas.

Em outros casos, diz Sumption, a capacitação e a experiência dos imigrantes podem não ser as mesmas exigidas pelo mercado americano, o que obrigaria os trabalhadores estrangeiros a investir em nova capacitação.

Outra barreira pode ser o idioma. “Algumas pessoas podem ter o conhecimento técnico necessário, mas se não falam inglês, não conseguirão exercer sua profissão aqui.”

O professor Gary Gereffi, diretor do Centro de Globalização, Governança e Competitividade da Duke University, observa que há também um problema da “fuga de cérebros a contrário” nos Estados Unidos.

O aumento das restrições a vistos para imigrantes após os atentados de 11 de setembro de 2001 fez com que muitos profissionais estrangeiros voltassem a seus países de origem após fazer Mestrado ou Doutorado em universidades americanas.

“De certo modo, estamos limitando um recurso enorme com o qual sempre havíamos contado, que é a imigração de engenheiros, cientistas e outros profissionais altamente especializados para se unirem à força de trabalho dos Estados Unidos”, afirma Gereffi.

Guerra por talentos

De acordo com o professor Arie Lewin, da Fuqua School of Business da Duke University, na Carolina do Norte, as empresas americanas enfrentam uma “guerra por talentos”.

Um estudo conduzido por Lewin concluiu que, quando muitas empresas começaram a demitir engenheiros em 2009, no auge da recessão, provocando um aumento na taxa de desemprego para a categoria, elas na verdade estavam descartando profissionais que não eram considerados os melhores em suas áreas.

“Por um lado, as empresas estão aprendendo a operar com menos engenheiros e a contratar profissionais temporariamente, para projetos específicos. Ao mesmo tempo, elas estão cortando funcionários que são bons, mas não são os melhores”, disse Lewin à BBC Brasil.

A falta de mão-de-obra especializada é também apontada pelo estudo de Lewin como um dos principais motivos que levam muitas empresas a terceirizar suas atividades para outros países.

Lewin observa que até mesmo empresas de médio porte estão aumentando seus investimentos em terceirização e alerta para o risco de que a “guerra por talentos” já tenha se transformado em um problema global.

De acordo com Gereffi, o problema também é de demanda, e não tanto de oferta de mão-de-obra especializada, já que há muitas pessoas com especialização que estão desempregadas ou subempregadas.

“Uma vez que esteja claro onde a demanda estará, onde o governo e as empresas privadas planejam investir, acredito que, com tantas boas instituições acadêmicas, poderemos gerar os talentos necessários”, afirma.

Especialistas temem os efeitos de longo prazo, caso a carência de profissionais especializados se mantenha no mercado de trabalho americano por muito tempo.

“Mais e mais inovação será feita fora dos Estados Unidos”, diz Lewin.