NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

EDUARDO GALVÃO

 

A demografia do voto está mudando significativamente em todo o mundo, refletindo transformações nas estruturas econômicas, sociais e culturais. Países como Reino Unido, França e Estados Unidos mostram tendências de eleições com maior nível educacional e renda mais alta votam em partidos de esquerda, enquanto aqueles com menor escolaridade e renda mais baixos tendem a apoiar a direita. Isto afetará uma transição de uma economia industrial para uma baseada no conhecimento.

 

No Reino Unido, a recente vitória trabalhista foi impulsionada por eleitores com ensino superior, enquanto os de menor escolaridade apoiaram a extrema direita. Na França, os eleitores de maior renda votaram no bloco de esquerda, e os de menor renda, na extrema direita de Marine Le Pen. Nos Estados Unidos, os deputados ricos e educados migraram para os democratas, enquanto os republicanos mantiveram o apoio aos grupos de renda e educação mais baixas.

No Brasil, as pesquisas indicam que representantes de menor renda e escolaridade, bem como aqueles de orientação religiosa conservadora, tendem a apoiar candidatos de direita como o prefeito Ricardo Nunes. Eleitores mais ricos e educados preferem candidatos de esquerda como Guilherme Boulos. Para as eleições de 2024 e 2026, espera-se que essas tendências se intensifiquem, com polarização política e fragmentação do eleitorado.

 

E por que essa mudança na demografia do voto? Com o fim da Era Industrial, a educação tornou-se fator para o sucesso econômico, e aqueles com maior nível educacional passaram a possuir maior segurança financeira. Isso permite que votem de forma menos prática e mais idealista, focando em questões sociais e progressistas. Em contrapartida, aqueles com menor escolaridade e renda enfrentam mais insegurança econômica e tendem a buscar mudanças que prometam melhorar sua situação econômica e social imediata, mesmo que essas mudanças venham de partidos de direita que se posicionam contra o establishment. Além disso, a alienação da elite educada nas preocupações cotidianas da classe trabalhadora reforça esse descompasso entre os interesses dos dois grupos.

 

As mudanças na demografia do voto bloqueiam uma reorientação nas abordagens dos partidos políticos. A esquerda precisa se reconectar com a base trabalhadora, abordando suas questões econômicas. A experiência dos partidos na França e no Reino Unido mostra que é possível atrair participantes com uma agenda econômica forte. A direita, por sua vez, capitaliza a insegurança econômica e o desejo de mudanças rápidas e tangíveis entre as eleições mais vulneráveis.

Essas mudanças sociais levam a um novo racional nas escolhas eleitorais, com impactos para as eleições municipais no Brasil. Os partidos precisam de rota recalcular e rever suas estratégias para alcançar diferentes segmentos da população, aproveitando essa oportunidade para se conectarem de forma mais profunda com seus eleitores.

 

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EDUARDO GALVÃO Executivo, professor de Relações Governamentais e de Políticas Públicas no Ibmec e fundador do Pensar RelGov. Atuoso como executivo da Abimaq.