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Dois países, duas medidas

 

Elon Musk, que se autodenomina “absolutista da liberdade de expressão”, nunca reclamou do banimento do X (antigo Twitter) na China, nem atacou por isso as autoridades chinesas, de acordo com reportagem publicada na última sexta-feira (6/9) pelo site de negócios Business Insider.

Motivo do silêncio de Musk: os interesses econômicos da Tesla — empresa que fabrica veículos elétricos, baterias e produtos de energia solar e da qual ele é CEO — são muito altos na China, diz a reportagem.

De acordo com o Business Insider, a Tesla entrou na China em 2013, com a abertura de uma concessionária. Em 2019, iniciou a construção de uma “gigafábrica” em Xangai. Naquele momento, a China se tornou o mercado mais importante da Tesla fora dos Estados Unidos.

Em 2023, as receitas da empresa na China foram de US$ 21,7 bilhões — cerca de um quarto de suas receitas totais de US$ 96,8 bilhões. No balanço da Tesla, a China aparece em destaque. Todos os demais mercados, além dos EUA e da China, aparecem como “outras internacionais”.

Além disso, a China se tornou um país vital para a Tesla concretizar suas ambições de produzir o robotaxi. Depois de uma visita à China, em abril, e o anúncio de que Musk fez um acordo com a gigante de internet chinesa Baidu para viabilizar a fabricação de carros autônomos, as ações da Tesla subiram mais de 15%.

Nesse cenário, Musk não fez qualquer declaração, tal como a que escreveu no X depois que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes ordenou, com base na legislação brasileira, a suspensão da plataforma no Brasil.

“A liberdade de expressão é o princípio fundamental da democracia e um pseudojuiz do Brasil, não eleito, a está destruindo por propósitos políticos”, afirmou Musk — uma declaração que, aparentemente, não ousa fazer sobre a China.

A Tesla já está enfrentando uma crescente concorrência de carros elétricos chineses, tais como os da BYD. “Balançar o barco não é uma boa ideia”, diz o Business Insider.

A reportagem afirma que, ao invés de hostilizar as autoridades chinesas, tal como tem feito com as brasileiras, Musk as corteja. Durante a viagem, ele escreveu no X (provavelmente com a ajuda de uma VPN para contornar a “Great Firewall” da China): “Foi uma honra me encontrar com o presidente da China, Xi Jinping, que conheço desde os tempos de Xangai”.

Segundo o Business Insider, o ex-ministro das Relações Exteriores da China Han Yang, que agora mora na Austrália, escreveu no X, neste mês: “Musk pretende ser um campeão da liberdade de expressão, mas ele não pronunciou uma única palavra de desaprovação do líder Xi Jinping, que foi quem baniu o X no país”.

Ameaças de morte na Austrália

A comissária Julie Inman Grant, do eSafety, órgão australiano encarregado de monitorar a internet, comunicou às autoridades federais do país que recebeu sérias ameaças de morte e “uma avalanche de abusos online”, depois que moveu uma ação judicial contra o X.

A ação foi consequência da atitude da plataforma de mídia social de Elon Musk, que se recusou a remover um vídeo que mostrava o esfaqueamento do bispo da igreja Assyrian Christ the Good Shepherd Mar Mari Emmanuel.

O vídeo, que expôs um conteúdo de violência, provocou tumultos na comunidade por “seu alto grau de impacto”, alegou a comissária, que pediu a um juiz federal a emissão de uma liminar que obrigasse o X a remover o vídeo. O juiz atendeu a esse pedido.

O X declarou que iria recorrer, mas acabou concordando em remover o vídeo. Entretanto, apenas o escondeu dos moradores da Austrália, o que não impediu que usuários australianos tivessem acesso a ele por meio da rede virtual privada (VPN).

A comissária considerou que a medida não foi satisfatória e reiterou o pedido de remoção do vídeo em um prazo de 24 horas, o que provocou uma reação agressiva de Musk. Ele escreveu no X que ela queria regulamentar a internet no mundo e a chamou de “comissária da censura”.

No entanto, em vez de usar a palavra commissary, ele usou commissar — que designa autoridades do Partido Comunista, frequentemente usada na ex-União Soviética e até hoje na China.

Musk escreveu ainda que a comissária deveria ser presa e que ela é “uma inimiga do povo da Austrália” — uma imitação de declarações do ex-presidente dos EUA Donald Trump, que já disse, por exemplo, que a imprensa é inimiga do povo dos Estados Unidos.

Um estudo da Columbia University sobre violência baseada em gênero facilitada pela tecnologia, que pesquisou o caso da comissária australiana, indicou que, depois disso, ela foi mencionada em quase 74 mil postagens no X, antes mesmo de mover a ação. Ela sofreu muitos insultos e ganhou apelidos tais como Barbie Esquerdista” e Capitã Tampão.

Além disso, seus filhos foram vítimas de doxxing — uma palavra que se refere à divulgação de informações privadas sobre pessoas online, geralmente com intenções maliciosas.

Os nomes dela, das crianças e de outros familiares foram divulgados na internet, o que fez a polícia australiana a adverti-la contra viagens aos Estados Unidos, de onde ela é procedente.

Mas, apesar de a atitude do X violar a legislação australiana, a ação judicial contra a rede social não foi em frente porque o eSafety tinha outras prioridades, entre as quais persistir em um processo contra o X por não pagar uma multa de US$ 610.500 por, alegadamente, não prestar informações ao governo australiano sobre como está monitorando material de abuso infantil online.

No desenrolar do confronto entre o X e o eSafety sobre a remoção do vídeo, o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, entrou na briga. Ele declarou que Musk é um “bilionário arrogante, que pensa estar acima da lei e também da decência comum”. Com informações adicionais de Business Insider, The Guardian, BBC e CNN.