NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

As carteiras de trabalho foram retidas. O alojamento, forrado de colchões velhos, não tinha luz. Boa parte do salário era levado por atravessadores. E o pagamento custava a sair, quando saía.

Eram essas as condições de trabalho dos alagoanos Valdomiro José da Silva, 28, e Nivaldo Inácio da Silva, 44, em fazenda no interior do Mato Grosso no início de 2011.

Foram resgatados pelo Ministério do Trabalho, que classificava sua situação como análoga à de escravos.

Quase um ano depois, eles são ajudantes de pedreiros nas obras da Arena Pantanal, um dos estádios da Copa-14.

A transformação se deve a um programa do ministério junto com as empreiteiras Mendes Júnior e Santa Bárbara, responsáveis pela obra.

O projeto atendeu 25 pessoas em situação análoga à de escravos ou de vulnerabilidade social desde maio de 2011. Desses, 23 continuam na construção até hoje.

Dormem e se alimentam nos alojamentos do estádio. Concluíram curso de pedreiro e aprenderam noções do alfabeto -sabem escrever seus nomes. Devem se tornar pedreiros nos próximos meses, o que resultará em aumentos de seus salários.

O que ganham hoje foi suficiente para comprar casas de pouco mais de R$ 2.000 paras as famílias, que vivem a cerca de 100 km de Cuiabá.

Dizem querer prolongar a situação atual depois de anos de migração. “Quero aprender mais serviços, como o de carpinteiro”, afirma Nivaldo.

Os dois primos chegaram a Cuiabá no início da década passada, atraídos por empregos em usinas de álcool.

Sofreram com atrasos de dois a três meses de salário. Sem dinheiro, tinham de recorrer aos mercados dos patrões, que lhes cobravam ágio sobre os produtos vencidos.

Tudo era descontado dos salários. Quem decidia ir embora não recebia atrasados.

Analfabetos, os dois só conseguiam saber o que estava escrito nos recibos por meio de amigos. “Quem não sabe ler nesse mundo de hoje é cego”, define Valdomiro.

Da usina, foram para uma fazenda de algodão onde encontraram as condições precárias vistas pelo ministério.

Foram levados por “gatos”, atravessadores que encaminham os empregados às plantações. Ganhavam apenas R$ 8 para capinar um corredor de 2.600 m de mato alto. “Na verdade, eram 3.600 metros. Mil metros ficavam para os “gatos””, conta Nivaldo.

Um deles resolveu denunciar a situação. A blitz do Ministério do Trabalho levou os fazendeiros a dispensá-los.

Só em 2011, 91 trabalhadores foram resgatados por operações assim no Mato Grosso.

As vítimas têm dificuldades de obter oportunidades de emprego. Por isso, o Ministério do Trabalho quer expandir para outros Estados o projeto na Arena Pantanal.

“Nunca tinha ouvido falar de Copa quando vim para cá [Mato Grosso]“, diz Nivaldo.