Artigos da RBSO abordam o tema e pontuam ratificação de convenção da OIT
Tema que tem galgado abrir mais espaços de discussão no âmbito jurídico e governamental, o combate à violência e ao assédio no contexto do trabalho ainda enfrenta grandes obstáculos no Brasil. O volume 48 da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) traz publicações que retratam aspectos dessa realidade, com destaque à atuação do poder público e com foco em casos que materializam alguns tipos de violências no trabalho.
Compromisso brasileiro
O editorial “Violência e assédio no trabalho: expectativa sobre a ratificação da Convenção 190 da OIT pelo Brasil” aponta elementos responsáveis pelo distanciamento do compromisso do país com os direitos humanos no trabalho. Reforça também a necessidade premente de mudar essa trajetória.
Coloca luz em políticas neoliberais, com destaque à reforma trabalhista de 2017, que prejudicaram o combate à desigualdade, à discriminação e tantas outras forma de violência e assédio no trabalho. Ao expor e vulnerabilizar ainda mais os trabalhadores, essas políticas colocaram o país na contramão de tratados internacionais de direitos humanos previamente validados. O editorial menciona ainda a inexistência de estudos de abrangência nacional sobre o tema como outro indicativo da necessidade de o país olhar para a questão com mais cuidado.
Nesse contexto, a publicação traz o aceno governamental em direção à ratificação da Convenção 190 da OIT, contribuindo para reforçar a expectativa de diversas entidades que lutam contra violência e assédio no trabalho.
Fatores multidimensionais
As violências e o assédio no trabalho podem ter origem em fatores multidimensionais, como destacam dois artigos que entrevistaram grupos de trabalhadores em diferentes regiões e realidades brasileiras.
Durante a pesquisa “Violência no trabalho de profissionais de enfermagem na Estratégia Saúde da Família”, os entrevistados apontaram problemas organizacionais e estruturais como fonte das violências sofridas, como dimensionamento inadequado de recursos humanos, falta de materiais, falhas na adequação entre oferta e demanda. Falta de compressão do funcionamento do sistema pelos usuários também está no rol dos problemas citados.
Para os profissionais, tudo converge para intensificar a insatisfação dos usuários com o atendimento, a falta de confiança na equipe, entre outros aspectos. Como resultado, agressões verbais, tratamentos desrespeitosos e até ameaças físicas pelos usuários, ainda que menos frequentes, além de situações de assédio moral vertical e horizontal entre os profissionais. O cenário reforça sentimentos de medo, desmotivação, ansiedade e estresse emocional e provoca adoecimentos físicos e mentais. O desdobramento é a adoção de atitudes defensivas, como isolamento e distanciamento emocional do trabalho, o que gera problemas de comunicação e comprometimento e impacta negativamente o trabalho da equipe. Um ciclo que se retroalimenta.
Entre as estratégias de prevenção sugeridas pelos profissionais estão melhoria organizacional e da comunicação, escuta qualificada, implementação de tecnologias relacionais que melhorem o fluxo de atendimentos, entre outros.
A multidimensionalidade é também presente na discriminação no trabalho, conforme registra o artigo “Estigmatização do HIV nas relações de trabalho em Imperatriz, Maranhão, Brasil: barreiras, perdas e silêncio”. A pesquisa realizada em município do Maranhão com portadores de HIV oferece exemplos de como a discriminação no ambiente de trabalho pode vulnerabilizar e impactar a vida e como o mercado de trabalho pode exercer papel decisivo ao reforçar a estigmatização.
As dificuldades colocadas pela discriminação emergem em diferentes momentos da vida profissional. No acesso ao mercado de trabalho, pelo medo dos exames pré-admissionais revelarem a condição de saúde e como isso é acompanhado pela visão negativa relativa ao histórico do sujeito carregada pelos empregadores. Na convivência cotidiana com empregador e colegas de trabalho, marcada por mudanças na forma de tratar o trabalhador soropositivo, pelo medo a demissão e pelo silêncio como mecanismo proteger e manter os vínculos empregatícios, o bem-estar no trabalho e evitar a discriminação.
Essa realidade reforça a cisão entre a identidade real do estigmatizado e a identidade virtual que a sociedade espera que ele tenha, gerando distanciamento entre o indivíduo e a sociedade, transformando-o em alguém desmoralizado. Essa situação de constante medo e ameaça é uma face da luta diária “contra um consenso social pejorativo sobre adoecimento e o estigma enraizado na história da epidemia do vírus que remete à promiscuidade”
Para tentar diminuir a visão discriminatória da sociedade e das empresas, o artigo coloca como uma possível estratégia trabalhar a educação relativa aos direitos dessa população tendo como base o acolhimento das vulnerabilidades sociais de forma respeitosa.
Leia os artigos na íntegra:
Violência no trabalho de profissionais de enfermagem na Estratégia Saúde da Família
Violência e assédio no trabalho: expectativa sobre a ratificação da Convenção 190 da OIT pelo Brasil
Leia os demais artigos do volume 48.
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