Todas as negociações realizadas pela Federação dos Trabalhadores de Transportes Rodoviários do Paraná (Fetropar) no ano de 2011 tiveram aumento real, superior ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). A afirmação é do economista Cid Cordeiro, membro do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que elaborou o levantamento a partir de dados fornecidos pelo departamento de Negociações da Fetropar.
Além de todos os reajustes terem sido superiores à inflação, quase metade deles tiveram índice de aumento real superior a 1%, com valores que chegaram inclusive a 5%. “Isto é fundamental, porque significa que estamos caminhando para a necessária redistribuição de renda no nosso país” comenta Cid.
Pisos Salariais
O reajuste dos pisos salariais foi acima da média dos demais. Segundo o secretário de Negociações Coletivas e Jurídico da Fetropar, José Aparecido Faleiros, “isto é importante, pois valoriza justamente o profissional que mais precisa, aquele que está na base da carreira e é mais precarizada”. Dentre estes trabalhadores, 55% tiveram aumento real entre 3,01% e 4%.
Apesar do bom índice, os valores de piso ainda precisam de muita valorização. Dentre os pisos acordados pela Federação, 16,4% ainda estão abaixo de R$ 736,00, valor referente ao piso regional para auxiliares de motorista. Este valor fica ainda mais distante do piso regional dos motoristas que consiste atualmente em R$ 736,26.
Para o próximo perído o central é a valorização do piso, ressalta Faleiros. Segundo o economista do Dieese, o aumento do salário mínimo nacional pode ir a 14% no próximo ano, chegando a R$ 625,00 e o piso regional pode acompanhar esta taxa. Além disso o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) irá permitir uma maior pressão por aumentos reais ainda maiores.
O significado da crise econômica na luta sindical
Além do debate em torno de índices e previsões econômicas para o próximo período, o economista fez uma explanação aos presentes sobre a crise econômica mundial atual, em especial dos seus efeitos na luta sindical.
Cid explicou que a crise começou em 2008 como financeira e hoje é uma crise de Estado. O que isso significa? Que para salvar os bancos os países se endividaram e agora não tem condição de pagar suas dívidas crescentes. “Muitas vezes a gente está lá na negociação debatendo números, mas na verdade é a conjuntura o que pega”, comenta o economista ao falar da importância de se realizar este debate.
Ele ainda explicou por quê esta crise atingiu menos o Brasil. “Temos um mercado interno mais robusto e as empresas conseguem vender mais coisas para os brasileiros do que antes”, diz.
Com isto tem-se uma inversão da década de 1980 e hoje são os países chamados desenvolvidos (Estados Unidos e Europa) que vivem um grande aumento da miséria e passeatas contra a pobreza. “Isto inverte a situação que vivíamos lá no início dos anos 1990 que os patrões é que chegavam na negociação com pauta de reivindicação” relembra o economista.
Hoje o Brasil vive um ciclo virtuoso para Cid. Isto significa um aumento de renda, que gera aumento de consumo e, consequentemente, aumento do PIB. Isto permite que o país chegue quase a uma situação de pleno emprego, com as menores taxas de desempregos da história.
Em relação à situação do emprego no setor rodoviário, o economista do Dieese comenta que em 2010 e 2011 o Paraná teve um aumento de mais de 7.000 novas vagas de motoristas em cada ano, valor superior em média ao crescimento de número de vagas gerais no país no período.