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Com tendência de inflação menor nos próximos 12 meses, reajustes deste ano devem “vencer” os aumentos de preços com mais facilidade que em 2010

Embora as perspectivas apontem para aumentos reais (acima da inflação) menores do que no ano passado, os trabalhadores podem acabar tendo mais dinheiro no bolso nos 12 meses que se seguirem aos acordos de data-base deste ano. O paradoxo ocorre devido à perspectiva de queda na inflação e à forma como são feitos os reajustes salariais no Brasil, afirma o economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero. Ele faz a projeção tendo como base a inflação futura – o oposto do que fazem trabalhadores e sindicatos brasileiros, que elaboram suas reivindicações a partir do avanço dos preços nos 12 meses anteriores.

Para explicar o fenômeno, Montero faz um cálculo baseado nos resultados do terceiro trimestre de 2010 e na perspectiva para o terceiro trimestre deste ano. No ano passado, a média do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência nas negociações salariais, subiu 4,5%. Categorias que fecharam o dissídio naquela época receberam, em média, aumento real de 3% – o equivalente, portanto, em termos nominais, a um reajuste de 7,6%. Como a perspectiva para a inflação nos 12 meses seguintes era de 6,6%, o aumento real do salário acabou sendo, na verdade, de apenas 1,1%.

Em 2011, a média projetada para o INPC no terceiro trimestre é de alta acumulada de 7,2% em 12 meses. Num cenário em que os reajustes salariais apenas reponham a inflação passada (o que é improvável) e o INPC acumule alta de 5,5% nos 12 meses seguintes, o resultado seria um ganho médio real nos salários de 1,6%. Maior, portanto, que o obtido no ano passado – o que significa que o “dinheiro extra” proporcionado pelo reajuste será mais duradouro.

“[Entre 2010 e 2011], a inflação comeu o aumento obtido no ano anterior. Neste ano, com a queda na inflação [futura], os ganhos, em termos reais, serão maiores”, diz Montero, que defende que os salários sejam decididos olhando para a inflação futura, e não a passada.

“A economia tem uma capacidade muito limitada para absorver essa pressão salarial”, defende o economista, citando a escassez de mão de obra. O economista lembra que a metodologia usada hoje é uma herança do período hiperinflacionário, quando não havia como se fazer previsões seguras, mas que hoje o Banco Central está, em tese, comprometido com a política de metas de inflação.

Reajuste de categoria

Segundo um estudo do Depar­tamento Intersindical de Es­­tatís­tica e Estudos Socioeconô­micos (Dieese), quase 94% das categorias receberam aumento acima do INPC em 2010. A previsão da entidade é de que esse movimento continue neste ano, mas com reajustes reais mais leves, devido ao desaquecimento previsto para a economia em 2011.

As categorias que já fecharam acordo neste ano vêm conquistando altas importantes. Os trabalhadores da indústria de cacau receberam reajuste de 8% para quem tem salário acima do piso e de 12,88% para os que ingressaram há pouco tempo nas empresas da área. Motoristas e cobradores de Curi­tiba tiveram aumento de 10%, calculando como base para a inflação um INPC de 6,53%. Os empregados da construção da hidrelétrica de Mauá, no interior do estado, conquistaram 11% de reajuste geral e 12% para quem ganha o mínimo.

“A tendência de aumento maior no piso continua”, diz Sandro Silva, economista do Dieese no Paraná. Para ele, o aumento dos salários tem impacto limitado na inflação. “O peso do salário não é significativo na inflação. A gente questiona muito a ideia de que há uma inflação de demanda. O peso das despesas pessoais é de apenas 7,3% no INPC”, afirma.

Sobre o resultado da pesquisa, Silva afirma que o brasileiro ainda está recuperando a renda perdida no período entre 1998 e 2004. “O salário mínimo de hoje é muito baixo para a necessidade do trabalhador. Em termos reais, já foi muito maior”, afirma. Comparando o salário mínimo atual com o da década de 1940, a defasagem é de 45%, se contabilizada a inflação do período. Dados de 2009, os últimos disponíveis, mostram que 51% dos trabralhadores paranaenses recebiam até dois salários mínimos.

Fonte: Gazeta do Povo