Líderes sindicais de diversas regiões do Brasil desembarcaram em Brasília nesta segunda (12) para debater a nova política industrial brasileira e seu impacto na vida do trabalhador. Os participantes defenderam a importância de os trabalhadores atuarem na linha de frente das mudanças sociopolíticas. Também buscaram subsídios técnicos para compreender os avanços e entraves do Plano Brasil Maior, lançado pela presidente Dilma Rousseff (PT) no início de agosto.
Por Roberto Carlos Dias*
“Só seremos um país desenvolvido quando a política brasileira fortalecer o mercado interno, reduzir os juros, valorizar o salário mínimo, aumentar o financiamento do BNDES e diminuir as desigualdades sociais”.
Com esta frase, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Márcio Pochmann, abriu o Seminário “A Valorização do Trabalho na nova Política Industrial Brasileira”, promovido pela Federação de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil (Fitmetal) na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Pochmann reforçou que a maioria política trabalha com dois projetos contraditórios, um seria o Brasil da Fama, que defende as commodities, montadoras e altas taxas dos juros e, um Brasil do “Vaco”, definido por ele como Valor Agregado de Conhecimento, que, no seu entendimento, defende o valor agregado e o conhecimento tecnológico na cadeia produtiva.
O presidente do IPEA apontou ainda que outra estratégia de desenvolvimento deve ser a defesa da indústria nacional e o investimento nesta, com a inovação da ciência e tecnologia focada no trabalhador.
“Precisamos nacionalizar o nosso parque produtivo e até comprar as empresas estrangeiras estratégicas”, finalizou.
Ex-líder sindical e atualmente um dos intelectuais mais respeitados na área econômica, o professor da Universidade Federal da Bahia, Renildo de Souza, fez um passeio pela história, desde a década de 1930, para mostrar as fases da industrialização vividas pelo Brasil. O país, na sua avaliação, tem vários problemas, mas a maior parte deles decorre da falta de financiamento do crédito interno.
Crédito na população
“Nosso sistema bancário está concentrado no lucro em curto prazo e não no investimento financeiro do crédito na produção”, avaliou Renildo.
O professor alertou sobre o “absurdo” de haver apenas 5% dos técnicos em pesquisas tecnológicas no Nordeste e os 90% restantes concentrados no Sudeste e Sul do país.
“O país precisa ter competitividade tecnológica, investir na formação do trabalhador, pois enquanto exportamos bens primários para a China, o Japão exporta aos chineses máquinas sofisticadas com alta tecnologia”.
O deputado Assis Melo, que preside o Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, fez duas intervenções no seminário. Em ambas apresentou um cenário preocupante para os trabalhadores com as sucessivas derrotas sofridas no Congresso Nacional, especialmente na Comissão do Trabalho, Administração e Serviços Públicos (CTAPS), da qual é membro titular. Assis foi enfático ao reafirmar que o desenvolvimento do país passa pela industrialização e valorização do trabalho.
“Qual a ação, a tática do movimento sindical? Hoje, na minha opinião, nós estamos muito dependentes do Palácio (do Planalto). Não se aprova nada a favor dos trabalhadores na Comissão do Trabalho. Para dar um exemplo, não aprovaram o prolongamento de três para cinco dias na licença por luto em função da morte de um parente”, destacou Assis.
Leis exigem mobilização para serem aprovadas
O deputado listou ainda outras matérias importantes para o mundo do trabalho que têm recebido parecer contrário e outros projetos prontos e encaminhados, como a redução da jornada do trabalho de 44 horas para 40 horas semanais, que está na lista de espera para ir a plenário há 16 anos.
“A redução da jornada não será aprovada sem mobilizações e paralisações no país. No meu entendimento, derrotamos o projeto neoliberal no voto, mas as idéias neoliberais continuam”, ponderou.
Assis ainda destacou projetos de sua autoria que dependem de articulação e mobilização dos trabalhadores para serem implementadas, como a proibição de câmeras de vídeos que vigiam os trabalhadores e a revisão do vale-transporte, para que passe a ser assumido pelas empresas, porque quando entrou em vigor da forma como está atualmente a inflação era de 30% ao mês.
“Vamos elaborar um documento especial sobre as discussões e deliberações deste seminário como contribuição a este novo processo e distribuí-lo aos sindicatos participantes e filiados”, esclareceu o presidente da Fitmetal, Marcelino Rocha, que também planeja levaresse formato de seminário para outras regiões do país.