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A inflação para famílias de baixa renda desacelerou significativamente em março, beneficiando diretamente os brasileiros mais vulneráveis. Segundo o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado nesta quarta-feira (16), a classe de renda muito baixa viu sua inflação cair de 1,59% em fevereiro para 0,56% em março — a menor variação entre todas as faixas de renda analisadas.

O principal motor desse alívio foi a redução nos custos de serviços essenciais, como energia elétrica e transporte coletivo. Enquanto a tarifa de energia, que subiu 16,8% em fevereiro, teve um reajuste mínimo de apenas 0,12% em março, os preços das passagens de ônibus urbano (-1,1%) e do metrô (-1,7%) também contribuíram para o recuo da pressão sobre o orçamento dessas famílias.

Para Maria Andreia Parente Lameiras, técnica de Planejamento e Pesquisa do Ipea, “essas quedas ajudam a explicar o alívio inflacionário em março para os segmentos de menor poder aquisitivo”. O resultado é particularmente relevante porque impacta diretamente as despesas cotidianas das famílias mais pobres, cujo orçamento é altamente sensível a variações nos preços de itens básicos.

Energia elétrica: a queda que pesa menos no bolso

Um dos fatores mais relevantes para o alívio inflacionário foi o comportamento das tarifas de energia elétrica. Em fevereiro, a alta de 16,8% impactou duramente o orçamento das famílias de baixa renda, que destinam uma fatia maior de seus recursos para pagar contas de luz. Já em março, a desaceleração para 0,12% trouxe um respiro significativo.

Essa mudança reflete ajustes regulatórios e a redução de bandeiras tarifárias, que diminuíram o peso da conta de luz no dia a dia dessas famílias. Para quem vive com renda mensal familiar inferior a R$ 2.202,02, esse alívio pode representar uma folga para outras despesas essenciais, como alimentação e saúde.

Transporte coletivo: tarifas em queda ajudam no deslocamento diário

Outro ponto positivo foi a redução nos preços das passagens de ônibus urbano e metrô, modalidades amplamente utilizadas pelas classes de menor renda. A queda de 1,1% nas tarifas de ônibus e de 1,7% no metrô refletiu diretamente na inflação percebida por essas famílias, já que o transporte público representa uma parte considerável de seus gastos fixos.

Em contrapartida, famílias de renda alta não sentiram o mesmo benefício. Para elas, o aumento de 6,9% nas passagens aéreas em março — após uma queda de 20,5% em fevereiro — pressionou a inflação no grupo de transportes, atenuando o alívio proporcionado pela desaceleração no setor educacional.

Alimentos ainda pesam, mas alívio vem de itens essenciais

Apesar do alívio em alguns setores, as famílias de baixa renda continuaram enfrentando pressões no grupo alimentação e bebidas, que respondeu por 65% da inflação percebida em março. Embora itens importantes da cesta básica, como arroz (-1,8%), feijão-preto (-3,9%), carnes (-1,6%) e óleo de soja (-2,0%), tenham registrado quedas, outros produtos registraram aumentos expressivos.

Entre os vilões do mês, destacaram-se ovos (13,1%), café (8,1%), leite (3,3%) e tomate (22,6%). Essas altas impactaram diretamente o orçamento das famílias mais pobres, que gastam uma parcela maior de sua renda com alimentos. No entanto, o impacto foi parcialmente compensado pela descompressão nos custos de energia e transporte.

Renda alta vs. renda baixa: diferenças no impacto inflacionário

Enquanto as famílias de renda muito baixa experimentaram uma desaceleração mais pronunciada, as de renda alta viram sua inflação cair de forma mais modesta, de 0,9% em fevereiro para 0,6% em março. Esse movimento foi impulsionado principalmente pelo fim do impacto dos reajustes das mensalidades escolares, que haviam pressionado o grupo educação no início do ano.

No entanto, a alta nas passagens aéreas e nos serviços ligados à recreação e lazer limitou o alívio inflacionário para as classes mais abastadas. Esse contraste demonstra como diferentes faixas de renda são afetadas por variações específicas nos preços, dependendo de seus padrões de consumo.

Acumulado em 12 meses: vantagem para os mais pobres

Ao observar o acumulado dos últimos 12 meses, a diferença entre as faixas de renda se torna ainda mais evidente. Enquanto a inflação para famílias de renda muito baixa ficou em 5,24%, a taxa para as de renda alta alcançou 5,61%.

Esse cenário reflete a combinação de fatores que beneficiaram as classes mais vulneráveis nos últimos meses, como a desaceleração das tarifas de energia e a estabilização de preços em itens essenciais.

Perspectivas

O alívio inflacionário registrado em março traz esperança para as famílias mais pobres, que têm enfrentado dificuldades crescentes em meio ao cenário econômico desafiador. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de monitorar os preços dos alimentos, que seguem como um ponto de atenção para o orçamento dessas famílias.

“Embora a descompressão nos custos de energia e transporte tenha sido significativa, é importante manter políticas públicas que garantam estabilidade nos preços de itens básicos”, destaca Lameiras.

Com o IPCA acumulado em 12 meses em 5,48% em março, a tendência é que o Banco Central continue o ciclo de alta de juros, entendido pelo Copom como única ferramenta da política monetária para controle inflacionário, sobrepondo-a sobre todas as demais possibilidades de crescimento econômico.

Um respiro necessário

A desaceleração da inflação para as famílias de baixa renda em março é uma vitória significativa, especialmente em um contexto de incertezas econômicas globais. Com quedas expressivas nos custos de energia elétrica e transporte coletivo, o orçamento dessas famílias ganhou um respiro, permitindo que direcionem recursos para outras necessidades básicas.

No entanto, o cenário ainda exige cautela, especialmente diante da guerra comercial estimulada pelos EUA. O aumento persistente nos preços de alimentos e a instabilidade em outros setores podem ameaçar esse alívio. Para garantir que os avanços sejam sustentáveis, será fundamental manter políticas que protejam os mais vulneráveis e promovam maior estabilidade econômica.

VERMELHO

https://vermelho.org.br/2025/04/17/inflacao-cai-para-familias-de-baixa-renda-energia-e-transporte-aliviam-orcamento/