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Categorias com data-base entre outubro e dezembro devem ter aumentos reais mais fracos. Crise e desaceleração econômica também dificultam acordos

Embora o mercado de trabalho aquecido seja favorável à obtenção de ganhos reais, as incertezas em torno dos efeitos da crise financeira mundial no Brasil e os sinais de desaceleração do mercado interno já começam a engrossar o discurso negativo dos patrões e a dificultar as negociações coletivas deste segundo semestre de 2011. A inflação, que propiciou aumentos mais significativos entre janeiro e maio – quando estava na casa dos 6% – também comeu parte desses reajustes ao atingir 7,3% no acumulado de 12 meses em setembro.

Para analistas, as categorias com data-base entre outubro e dezembro devem ter menos sucesso que aquelas que fecharam acordos nos primeiros seis meses do ano – quando 93% das 353 negociações monitoradas no período pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco­nô­­micos (Dieese) tiveram reajuste igual ou superior ao Índice Na­­cio­­nal de Preços ao Consumidor (INPC). No mesmo período de 2010, o resultado foi melhor (96,3%) e se deu com menos conflitos.

“Há uma imprevisibilidade maior em relação ao futuro nas empresas e isso tende a aumentar os conflitos, porque os trabalhadores continuam com alto poder de barganha”, diz o sociólogo Adal­ber­­to Cardoso, do Instituto de Es­­tudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

O efeito do salário mínimo, que nos últimos anos subiu mais que os salários da iniciativa privada, também ajudou a gerar uma percepção nos sindicatos de que suas bases estavam perdendo renda. “Esse processo de recomposição do mínimo induz os sindicatos a buscar ganhos semelhantes”, observa Cardoso.

Entre as grandes categorias profissionais, os bancários – que em Curitiba voltaram ontem ao trabalho – conseguiram 9% de reajuste nominal (1,5% de ganho real). Ain­­da estão em negociação os petroleiros (são 70 mil empregados diretos da Petrobras, além de outros 300 mil terceirizados) e os metalúrgicos de São Paulo (260 mil trabalhadores), que têm data-base em no­­vembro. Para pressionar as empresas, ambas as categorias já declaram estado de greve. No Paraná, metalúrgicos que trabalham em fábricas de autopeças e outros setores também estão iniciando negociações.

Segundo o Dieese, a média do ga­­­nho real em 2011 deve seguir os resultados do primeiro semestre (1,4%), um pouco abaixo do obtido em 2010 (1,56%). Aqui no Paraná, neste segundo semestre, os reajustes reais dos trabalhadores gráficos (1,44%), do setor de limpeza (1,22%), dos vigilantes (2,57%) e dos servidores de São José dos Pi­­nhais (1,3%), vêm confirmando as expectativas.

Exemplo

Um exemplo do endurecimento das negociações neste ano foi a longa campanha salarial dos funcionários da Volkswagen, que tem fá­­brica em São José dos Pinhais (re­­gião metropolitana de Curitiba): eles pararam por 37 dias. O ganho real na Volks, na Renault-Nissan (que também tem fábrica em São José) e na Volvo (de Curitiba) ficou em 2,5%, bem abaixo do obtido pelos funcionários das três montadoras no ano passado (5,55%). Desta vez, as principais conquistas vieram na forma de abonos e Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

Análise

Aumento real eleva pressão inflacionária

Os acordos com ganhos acima da inflação deste ano pesarão no bolso do consumidor em 2012. O economista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, explica que o ganho real tende a se converter em maior consumo, o que ajuda a aumentar a pressão da demanda sobre a oferta. “Essa pressão é mais clara principalmente no setor de serviços, que já tem sido responsável por boa parte da inflação dos últimos anos. Saber se os reajustes negociados agora vão proteger ao menos parte da renda do trabalhador no ano que vem, com as estimativas do mercado para inflação bem acima de 4,5%, é difícil de dizer”. (FZM)