Queda do IPCA em janeiro mostra que processo de arrefecimento dos preços está mantido, mas economistas entendem que ainda é pouco para fazer o BC aliviar o aperto monetário
Por Rafael Vazquez, Valor — São Paulo
A alta de 0,53% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em janeiro veio abaixo da mediana das expectativas apontada no Valor Data, que era de 0,57%, e deixou a inflação acumulada em 12 meses em 5,77%, ante 5,79% em dezembro.
O resultado mostra que o processo de desaceleração da alta dos preços está mantido, mas segundo economistas não é suficiente para fazer o banco central aliviar a política monetária antes do esperado.
“A abertura do resultado e a dinâmica dos núcleos de inflação reforçaram o cenário de desaceleração dos preços livres, mas ainda em níveis incompatíveis com as metas de inflação. Dessa forma, apesar de positivo, o resultado não abre espaço para cortes de juros no curto prazo”, afirma o economista da Blueline, Flavio Serrano.
“Ainda mais em um cenário como o atual, com as projeções de inflação dos agentes subindo sistematicamente, inclusive para prazos mais longos. Os ruídos recentes em torno da autonomia do Banco Central e de uma possível alteração nas metas do Conselho Monetário Nacional (CMN) dificultam ainda mais o trabalho da autoridade monetária e acabam reduzindo a chance de alívio na taxa de juros”, acrescentou Serrano.
A visão é corroborada por Luca Mercadate, economista da Rio Bravo Investimentos. “Dados de IPCA marginalmente abaixo das expectativas não aliviam o cenário de curto prazo da inflação no Brasil. O nível do IPCA de janeiro ainda não condiz com a trajetória de convergência para meta, e os bons sinais de inflação subjacente vistos alguns meses atrás ainda não se consolidaram”, analisa. A meta de inflação do Banco Central para este ano é de 3,25%.
Apesar de reconhecerem que, no geral, a composição da inflação neste momento está mais benigna do que nos últimos anos, com uma importante ajuda da estabilização dos preços de bens industriais, a inflação de serviços subiu 0,60%, acima do IPCA, e a alta dos núcleos ficou em 0,51%, nível considerado ainda alto.
“Em geral, foi um IPCA bom, desacelerando, com choques de cadeia [de produção] também indicando normalização. Para o futuro, esse resultado de hoje diz que está estabilizando, mas ainda num patamar acima do regime de metas de inflação do Banco Central”, aponta o economista da ASA Investments, Leonardo Costa.
Raphael Rodrigues, economista do BV, também chama a atenção para alguns detalhes negativos, apesar do cenário geral do dado ser positivo no contexto dos últimos anos.
“Entre os grupos, as maiores surpresas vieram de habitação e alimentação, especialmente legumes, tubérculos, hortaliças e alimentação fora de casa. Já entre as categorias chama a atenção o valor novamente elevado de serviços e serviços adjacentes, ambos apresentando aceleração de maneira espalhada, o que não permite pensar que seja problema de um item ou outro, mas sim uma tendência mais geral”, disse.
“Em resumo, o IPCA de janeiro foi o segundo seguido a apresentar dados que chamam a atenção, fato esse especialmente relevante dada a atual discussão sobre política monetária”, conclui Rodrigues, em referência às recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a decisão do Banco Central de manter a taxa de juros em 13,75%.
Este conteúdo foi publicado pelo Valor PRO, serviço de tempo real do Valor Econômico.
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