Série de declarações constrangedoras ao governo levaram a pedido de demissão, entregue na noite de quinta-feira
BRASÍLIA e TABATINGA – Depois de um dia marcado por muita tensão política, a presidente Dilma Rousseff aceitou ontem à noite o pedido de demissão do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Trata-se do terceiro integrante do primeiro escalão a cair em sete meses de governo. Jobim será substituído por Celso Amorim, que foi ministro de Relações Exteriores no governo Lula.
A gota d”água para a queda de Jobim foram as críticas feitas por ele às ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli Salvatti (Relações Institucionais), publicadas na revista Piauí, que circulou na quinta-feira. “Ou você pede para sair ou eu saio com você”, disse Dilma a Jobim, por telefone, pouco depois das 15 horas.
Cinco horas depois, o ministro – que estava em Tabatinga (AM), na fronteira com a Colômbia – desembarcou em Brasília e encontrou-se com a presidente, no Planalto. Pediu exoneração do cargo “de forma irretratável”, alegando razões pessoais. A conversa com Dilma durou cinco minutos. “Não posso continuar na digna função de ministro de Estado da Defesa”, escreveu Jobim, na carta de demissão. “Foi uma honra ter servido à senhora e a seu governo. Seja feliz.”
Na reportagem da Piauí, o titular da Defesa qualificou Ideli Salvatti como “fraquinha” e disse que Gleisi Hoffman nem sequer conhecia Brasília. Afirmou, ainda, que o governo tinha feito muita “trapalhada” na negociação sobre a Lei de Acesso à Informação e o debate sigilo eterno de documentos ultrassecretos.
Antes de falar com Jobim, Dilma ligou para o vice-presidente, Michel Temer, que estava com ele em Tabatinga. Alertou que a situação do ministro, filiado ao PMDB de Temer, era “insustentável”. Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) também participavam de missão oficial para lançar o plano de segurança nas fronteiras e se reuniram com o vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón. Por ordem de Dilma, Jobim antecipou a volta a Brasília.
A presidente planejava transferir Amorim da pasta de Relações Exteriores para a Defesa quando montou a equipe, mas Lula a aconselhou a manter Jobim no cargo por causa das boas relações com as Forças Armadas.
Nas últimas semanas, gestos e declarações de Jobim azedaram a relação com o governo, sobretudo por ter admitido que votou em José Serra (PSDB) em 2010 e ter feito críticas à condução política da administração de Dilma. Jobim era mais um ministro herdado do governo Lula. Os outros dois que saíram foram Antonio Palocci (Casa Civil) e Alfredo Nascimento (Transportes).
Intrigas. No Amazonas, Jobim e a comitiva, especialmente Temer, minimizavam o impacto das declarações do ministro. Abordado por jornalistas, Jobim negou ter feito tais afirmações à Piauí. Disse que tudo fazia parte “de um jogo de intrigas”. “Em momento algum eu fiz referência dessa natureza (a Ideli). Aliás, o que reconheço na Ideli é a capacidade, uma tenacidade importantíssima na condução dos assuntos do Congresso.” Temer colocou panos quentes: “A ministra Ideli e a ministra Gleisi têm o apreço, o apoio, e palavras de elogio (de Jobim)”.
No perfil que a revista Piauí fez de Jobim é narrada a reação do peemedebista depois de um encontro com o senador Fernando Collor (PTB-AL), que havia sido procurado no processo de negociação da liberação dos papéis secretos do governo. Collor quer que alguns tenham sigilo eterno. Ao sair do gabinete de Collor, Jobim afirmou, na presença da repórter: “É muita trapalhada, a Ideli é muito fraquinha e Gleisi nem sequer conhece Brasília”. Em nota publicada na página do Ministério da Defesa na internet, Jobim reiterou as declarações que deu em Tabatinga e disse que suas informações foram tiradas do contexto. “Isso faz parte daquilo que passa pela cabeça de quem não conhece a necessidade de um país.”
Os argumentos de Jobim, porém, não sensibilizaram Dilma. Durante almoço com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Gleisi, Ideli e Helena Chagas (Comunicação), a presidente disse que tinha tomado a decisão de demiti-lo. Preferia, no entanto, que ele pedisse demissão. Por isso, aguardaria sua volta de Tabatinga.
Dilma estava muito irritada com o fato de Jobim ter se encontrado com ela na quarta-feira, em audiência, e não ter falado nada sobre suas opiniões a respeito das ministras – ambas da cota pessoal de Dilma. No mesmo encontro, Jobim deu explicações sobre declarações que soaram mal no governo e saiu dizendo que era ministro “por prazer”. Na noite da quarta, logo depois de saber que trechos da revista seriam publicados no dia seguinte, Jobim ligou para Ideli e falou da reportagem, feita há cerca de um mês. Insistiu que as palavras dele estavam “fora de contexto”.