Brasília – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu ontem em defesa de Julian Assange, proprietário do site WikiLeaks, pedindo manifestação contra sua prisão. Segundo Lula, o erro não é de Assange, que divulgou telegramas contendo mensagens diplomáticas, mas dos embaixadores que produziram os documentos.
A declaração ocorreu num raro momento de afago à mídia quando o presidente encerrava discurso em cerimônia do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Devemos muito à imprensa. À imprensa, eu queria até dizer, às vezes eu critico, e vocês: ‘Ah, o Lula está criticando a imprensa.’ Não, eu estou apenas alertando. Como eu gosto que vocês me alertem, eu gosto de alertar vocês’’, disse.
Logo em seguida passou à defesa de Assange, inicialmente em tom de cobrança à imprensa, mas logo o discurso ganhou outra dimensão. Lula afirmou que não sabe se os embaixadores brasileiros transmitem os telegramas, mas disse que a presidente eleita, Dilma Rousseff, terá de ser comunicada pelo seu ministro de Relações Exteriores do teor dos comunicados. “Ela vai ter que dizer para o seu ministro que, se não tiver o que escrever, que não escreva bobagens. Passe em branco a mensagem.’’
O presidente criticou a busca mundial feita por Assange. “Ele desnuda a diplomacia, que parecia inatingível e a mais certa do mundo, e começa uma busca. Não sei se colocaram cartaz como no tempo do faroeste, procura-se vivo ou morto. Não vi um voto de protesto contra a prisão do rapaz’’, disse.
Gafe
Lula pediu aos assessores que começassem a protestar contra a prisão de Assange no Blog do Planalto, onde um vídeo e texto foram publicados logo depois. “Vamos fazer o primeiro protesto contra (sic) a liberdade de expressão na internet porque o rapaz estava colocando lá apenas o que ele leu. E se ele leu é porque alguém escreveu. O culpado não é quem divulgou, mas quem escreveu a bobagem’’, afirmou Lula. Os presentes não perceberam a gafe do presidente, que queria dizer “a favor da liberdade de imprensa”, mas disse “contra”.
Estados Unidos
A prisão do criador do site WikiLeaks nada tem a ver com o vazamento de informações secretas dos Estados Unidos, declarou o porta-voz do departamento de Estado norte-americano, Charles Luoma-Overstreet ,reagindo a críticas de Lula.
Assange, procurado pela Justiça sueca por agressão sexual a duas mulheres, está preso na Inglaterra para possível extradição. O site WikiLeaks iniciou em 28 de novembro passado a publicação de 250 mil telegramas confidenciais do departamento de Estado dos Estados Unidos. As revelações abalaram o governo americano, que se desculpou com diversos líderes estrangeiros.
Antes, o WikiLeaks havia divulgado milhares de documentos secretos dos EUA sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão.
Empresa vai processar Visa e MasterCard
A empresa que processa pagamentos para o site WikiLeaks afirmou ontem que pretende processar as empresas de cartões de crédito Visa e MasterCard, pela negativa delas em processar doações do site que tem como meta vazar documentos secretos.
O diretor-geral da empresa islandesa DataCell, Andreas Fink, disse que buscará uma compensação pelos danos provocados pelas companhias financeiras norte-americanas, por sua decisão de bloquear a doação de fundos para o WikiLeaks.
Na quarta-feira, hackers realizaram ataques contra os sites da Visa, da MasterCard, de promotores suecos e de um banco suíço. O site da ex-candidata republicana à Presidência dos EUA Sarah Palin também foi atacado virtualmente. Palin defendeu, há alguns dias, que o fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, fosse “caçado” por militares norte-americanos como se fosse um extremista do Taleban.
Assange foi acusado de estupro e assédio sexual na Suécia. Ele nega as acusações.
As últimas
Novos documentos vazados pelo WikiLeaks:
Venezuela: Má situação econômica está forçando o presidente Hugo Chávez a fazer acordos com empresas estrangeiras para evitar que a sua revolução socialista entre em colapso.
Colômbia: O ex-presidente Álvaro Uribe intensificou no fim do governo a tentativa de travar diálogo com as Farc. Ontem, Uribe afirmou que a arrogância da guerrilha impediu a iniciativa.
França: O presidente francês, Nicolas Sarkozy, estava tão obcecado pela soltura da ex-refém das Farc Ingrid Betancourt, cidadã franco-colombiana, que quis pagar o resgate à guerrilha.
Sudão: Carregamento de armas ucranianas interceptado por piratas na costa da Somália era destinado ao governo regional do sul do Sudão. A informação havia sido negada pela Ucrânia e pelo Quênia.
China: O governo dos EUA, ainda sob George W. Bush, pressionou o regime chinês pela libertação do dissidente e hoje Nobel da Paz Liu Xiaobo logo após sua detenção, no final de 2008.
Liberdade de expressão
ONU alerta para possibilidade de censura
A Alta Comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, Navi Pillay, disse estar preocupada com os relatos a respeito da pressão exercida sobre empresas de pagamento, como a MasterCard, para que interrompam o fluxo de doações ao WikiLeaks. Pillay disse que os esforços para impedir que empresas de internet hospedem o site também são preocupantes.
A comissária afirmou a jornalistas em Genebra que essas medidas “podem ser interpretadas como uma tentativa de censurar a publicação de informação”, de forma a romper o direito à liberdade de expressão do WikiLeaks. Ela não especificou quem poderia estar pressionando as empresas de pagamento ou as companhias de internet.
Lideranças políticas de vários países manifestaram apoio ao fundador do site, Julian Assange. O primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, disse em Moscou que a detenção do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, não foi democrática.
Fonte: FolhaPress