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Para nascidos entre 80 e 90, liberais e desenvolvimentistas não são rivais
 
Em meio à turbulência financeira, não vista desde a Grande Depressão, no início do século passado, cargos importantes na economia mundial começam a ser ocupados por quem nasceu nas décadas de 80 e 90. E esses jovens — da chamada “geração Y” — tendem a ter um pensamento econômico próprio. Não há espaço para a clássica rivalidade entre liberais e desenvolvimentistas.
 
Daqui a 20 anos, quando os garotos criados com internet e videogame assumirem o poder e ditarem os rumos da política e da economia, a palavra de ordem será equilíbrio. Com naturalidade, misturam as duas principais e antagônicas correntes. Ideias como incentivar o consumo das massas, distribuir renda, proteger o sistema bancário, ter grandes reservas internacionais, diminuir carga tributária e promover a competitividade convivem harmoniosamente.
 
Segundo o professor de sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e doutor em economia Marcel Dursztyn, essa geração não carrega a ideologização dos pais e não “demoniza” o pensamento contrário. São pessoas que rejeitam o provincianismo. São cosmopolitas, adoram classificar tudo em rankings e são viciadas em informação.
 
— Não são dogmáticos, mas pragmáticos — sintetiza.
 
A visão é completamente diferente da dos yuppies que dominaram Wall Street nos anos 90. Para a geração Y, o Fundo Monetário Internacional (FMI) não ditará mais as regras. A desregulamentação do sistema financeiro, que gerou a crise, será combatida. Novas teorias serão inventadas. O pensamento econômico será reescrito e testado. Nesse contexto, surgem os novos formadores de opinião.
 
— Sou um liberal que defende a mão firme do Estado e não a mão forte do Estado — diz o mestre em economia Guilherme Resende, de 25 anos.
 
Até trabalho deve ser lazer para a geração Y
 
Ele divide o tempo entre o trabalho numa consultoria, as aulas que dá na Universidade de Brasília e o tradicional futebol no videogame com os amigos. A busca pela diversão é uma das características desse grupo. Até o trabalho deve ser um lazer.
 
De acordo com o consultor Sidnei Oliveira, está determinado a esses jovens modificar profundamente os paradigmas e premissas estabelecidos. Em seu livro “Geração Y: o nascimento de uma nova versão de líderes”, ele afirma que é comum essa parcela da população questionar, ser impaciente, adorar desafio, querer reconhecimento e revolucionar o ambiente de trabalho.
 
Algumas dessas características são evidentes na inquieta deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), de 30 anos. Durante a entrevista, sem interromper a conversa, postou algumas vezes no Twitter. Um iPhone 4 é seu companheiro. É pelo aparelho que a jornalista — em seu segundo mandato em Brasília — despacha com assessores.
 
Ela deseja que sua geração seja responsável por uma grande mudança: a diminuição do consumismo. Aposta que a sustentabilidade será defendida com afinco. E acredita que a grande chance de alterar o futuro deve surgir na turbulência atual.
 
— A saída para todas as grandes crises foi a guerra. Dessa vez, acho que será a multipolaridade com a ascensão dos Brics (sigla de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). E o fruto disso será a maior presença do Estado — diz a parlamentar.
 
— A ideologia que criou a crise não pode dar o remédio para a própria crise. Se uma ideologia não avança, não é ideologia, é dogma — afirma Fernanda Consorte.
Com apenas 28 anos, a economista do banco Santander diz que as doutrinas se fundem e um “equilíbrio ótimo” passa por questões como saúde, educação, melhorias de serviço, uma indústria eficiente e um Estado presente. E isso está mais claro após a crise de 2008.
— O mundo viu que era necessário o mínimo de regulamentação — diz.
Percebe-se, hoje, que para todas as áreas é importante a formulação de políticas públicas — diz o deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), de 33 anos.
 
O consultor e professor Resende admite que a interferência do governo na economia continuará a ser o foco do debate, mas em menores proporções, porque é consenso que o Estado tem de ser um regulador presente. Outro aspecto abordado é que banqueiros não podem ter tanto poder, porque isso distorce as relações de mercado.
 
— Existe, sim, uma mistura ideológica. Seguir só a cartilha do FMI não trouxe sucesso — afirma ele, que aposta nas redes sociais para articular a sociedade.
 
Sustentabilidade será a marca de uma geração
 
Essa “mistura ideológica” está na opinião do ator Caio Blat, de 30 anos, que critica o tamanho do Estado, mas quer mais investimentos públicos.
 
— O Brasil tem uma carga tributária excessiva, abusiva e uma máquina estatal muito pesada. Eu acho que o Brasil está perdendo a oportunidade de investimento nesse momento na infraestrutura — diz o ator.
 
Blat tem uma visão ácida sobre o poder das agências de classificação de risco, também responsáveis pela crise de 2008. E como a amiga Manuela, acredita que a sustentabilidade será a marca dessa geração.
 
A opinião é defendida por Resende. Ele lembra que, nos anos 80, só se estudava inflação na faculdade de economia. Em cinco anos, prevê, haverá aulas de preocupação social e ambiental.
 
— Achar que fazer consumir vai resolver a crise é pensar só no curto prazo. O diferencial daqui para a frente será o investimento em pesquisa — diz Resende, ao criticar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que reduziu tributos sobre bens de consumo para proteger o Brasil da turbulência.