NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

TST reconhece direito das empresas de consultar serviços de proteção ao crédito no momento da contratação de um profissional

As empresas devem evitar contratar funcionários endividados? Na semana passada, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu que os empregadores têm o direito de consultar os serviços de proteção ao crédito durante a fase de seleção de um candidato, levantando questionamentos sobre a relação entre a dívida pessoal e o desempenho profissional. No Congresso, deputados querem proibir a medida, alegando que ela é discriminatória (leia mais nesta página). A decisão do TST foi para um caso específico de uma empresa do Sergipe, mas cria jurisprudência e deve orientar os próximos julgamentos em instâncias inferiores.
 
As empresas argumentam que a checagem do histórico de crédito de um candidato pode trazer informações importantes a respeito da honestidade, responsabilidade e capacidade de organização do profissional. Quem é contra esse tipo de consulta diz que nem sempre o comportamento na esfera pessoal reflete o desempenho do candidato no trabalho, e lembra que muitas dívidas são decorrentes de fatores que extrapolam a vontade própria, como o desemprego, as doenças ou o auxílio a um familiar.
 
Projeto de lei quer banir consulta ao SPC

No Congresso, um projeto de lei pretende proibir a consulta aos cadastros de inadimplentes no momento da contratação. De autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), o PLS 465/09 afirma que a medida é discriminatória. O projeto foi aprovado no Senado e ainda aguarda análise na Câmara dos Deputados.
 
“Fiquei abismado com a decisão do Tribunal [Superior do Trabalho]. Discordo radicalmente dos ministros que, por unanimidade, decidiram que os cadastros de pesquisas analisados pelas redes de lojas e bancos são de uso irrestrito e que acessá-los não é violação”, afirmou Paim em en­­trevista à Agência Senado.
 
Relator da decisão do TST, o ministro Renato de Lacerda Pai­va fez uma analogia com as regras de contratação do serviço público para argumentar sua decisão. “Se a administração pública, em praticamente todos os processos seletivos que realiza, exige dos candidatos, além do conhecimento técnico de cada área, inúmeros comprovantes de boa conduta e reputação, não há como vedar ao empregador o acesso a cadastros públicos como mais um mecanismo de melhor selecionar candidatos às suas vagas de emprego.”
 
“Nem todo o desonesto é endividado e nem todo endividado é desonesto”, pontua Jurandir Sell Macedo Jr., consultor de finanças pessoais do Itaú e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Acho que é um pouco complicado eliminar alguém de uma seleção apenas porque ele está endividado. É uma visão muito curta. Esse profissional pode ter as habilidades técnicas necessárias para o cargo, mas por algum motivo está endividado. Há vários motivos que levam ao endividamento, principalmente a falta de educação financeira. Ou seja, não necessariamente é uma falha de caráter”, afirma ele.
 
Para Marcelo Maulepes, ex-diretor de recursos humanos da Renault e hoje diretor da consultoria de coaching e gestão de pessoas Relatom, dependendo do cargo que a empresa está buscando preencher, seria uma irresponsabilidade não fazer a checagem da inadimplência antes da contratação. “Se a empresa está contratando alguém para a área financeira, alguém que vai ser responsável por cuidar do din­heiro dela, vai contratar uma pessoa endividada?”, questiona. Ele diz, porém, que os casos de­­vem ser observados individualmente e o candidato deve ter o direito a uma explicação durante a entrevista de emprego. “O fato de ter o nome sujo é apenas uma fotografia de um instante na vida daquela pessoa. Cabe ao entrevistador conseguir informações sobre se esse problema financeiro é pontual ou é algo que ocorre com frequência.”
 
É preciso ver os dois lados da questão, diz o especialista em fi­­nanças pessoais Altemir Fari­nhas. “A empresa está tentando se resguardar de possíveis problemas. Talvez o funcionário tenha um bom currículo, mas o currículo é só a ponta do iceberg. Esse tipo de consulta permite ver um pouco mais além”, diz. Por outro lado, ele afirma que os empregados podem entrar num círculo vicioso caso a consulta aos órgãos de proteção se torne uma regra no momento da contratação. “Como essa pessoa vai conseguir limpar seu nome se ela não consegue um emprego e um salário?”
 
Empresa investe em educação financeira

Na tentativa de tomar ações preventivas contra o endividamento dos funcionários, algumas empresas estão investindo na educação financeira dos colaboradores. A concessionária Eco­via, por exemplo, vai iniciar um programa na área depois de perceber um aumento no número de empréstimos consignados entre os funcionários. “A preocupação com o dinheiro e a inadimplência gera falta de concentração e maior irritabilidade, o que naturalmente afeta o desempenho do funcionário”, afirma Adriana Carvalho Vasconcellos, coordenadora de recursos humanos da Ecovia. “Nosso foco é melhorar a qualidade de vida, fazer com que o colaborador tenha um equilíbrio emocional maior, e sem dúvida a parte financeira pode ajudar muito nesse sentido”, diz ela. A empresa tem 150 funcionários e inicia em março o programa de finanças, que vai incluir workshops, palestras e a possibilidade de consultoria individual.

A Associação Paranaense de Cultura (APC), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), do Grupo Lúmen de Comunicação e da Aliança Saúde, incluiu um curso de orçamento familiar dentro do programa de desenvolvimento dos funcionários.

A Volvo do Brasil mantém desde 2003 um programa de educação financeira, com palestras, cursos e planejamento individual de aposentadoria para os empregados.