NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Pode ficar ruim para ele. Mentir é falta de decoro. Essa questão foi muito discutida na cassação do ex-senador Demóstenes Torres que, para se defender, pasmem, dizia que “mentir é falta de consciência, não de decoro”. Não colou. Demóstenes foi cassado. Agora, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) admite, com a cara lavada que Deus lhe deu, que mentiu na historia do tal plano golpista arquitetado pelo ex-deputado Daniel Silveira (sem partido-RJ), no mínimo com o aval do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Avançar na cassação vai depender da disposição do Senado. E há quem ali defenda que assim seja. Cresce muito a avaliação de que as tentativas de golpe teriam mais dificuldade de terem se frustrado se não fosse a posição dura do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. E, depois do 8 de janeiro, a ideia de que é preciso agir com dureza começou a ganhar peso também no Congresso. Inclusive entre nomes antes improváveis nesse sentido, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O que a essa altura gera incômodo, porém, é a sensação de que, por outro lado, a turma da extrema-direita ao lado de Marcos do Val atinge, assim, um objetivo. O “senador da SWAT” (com todas as aspas possíveis) pode até acabar imolado no final do processo. E sabe-se lá o grau de insanidade dessa gente para eventualmente até aceitar isso.

Por outro lado, porém, com toda essa história a extrema-direita radical segue impondo a sua pauta ao país e impedindo o governo Lula de começar como gostaria.

Depois da lamentável e vergonhosa história do 8 de janeiro, apareceu Marcos do Val com sua patacoada. Apresentou pelo menos quatro versões diferentes da sua história. Em uma delas, chegou a tentar nos convencer que não sabia onde era o Palácio da Alvorada. Recomenda-se urgentemente que ele baixe o Waze no seu celular…

Certo de que é um gênio da “inteligência”, Marcos do Val admitiu que mentiu mesmo. Seu propósito seria mesmo criar confusão com suas versões desencontradas da história. Para, diz ele, criar algum tipo de suspeição primeiro sobre Alexandre de Moraes, depois sobre o ministro da Justiça, Flávio Dino.

Embora esses planos tenham muito de utilização das estratégias de guerra híbrida, falta, no caso, um pouco dessa “inteligência” que do Val alardeia. Não parece haver hipótese de a história evoluir a esse ponto.

Mas, talvez, o objetivo final não fosse esse mesmo. Mas tão somente gerar essa sequência de confusões que desvia a nossa atenção.

Após o 8 de janeiro, a senadora Soraya Thronicke (União-MS) entrou com um pedido de CPI para investigar os atos antidemocráticos. E agora fala-se na cassação de Marcos do Val.

Embora seja inquestionável que as duas iniciativas são justas, elas acabam obtendo um outro efeito. Enquanto ficamos discutindo tais hipóteses – ainda mais se elas avançarem –, a pauta do governo de fato não anda.

E, no fundo, talvez seja esse o objetivo. Depois de malucos que furam obras de arte e quebram relógios seculares, o instrutor da SWAT mais para Sargento Pincel do extinto programa de humor Os Trapalhões. E o país fica parado assistindo a essas insanidades.

RUDOLFO LAGO Diretor do Congresso em Foco Análise. Formado pela UnB, passou pelas principais redações do país. Responsável por furos como o dos anões do orçamento e o que levou à cassação de Luiz Estevão. Ganhador do Prêmio Esso.

CONGRESSO EM FOCO