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Os problemas do Poder Legislativo parecem menores, no ano marcado pela tragédia no Rio Grande do Sul. Ainda assim, as surpresas que 2024 nos reserva não podem ser subestimadas – sob risco de nos perseguirem até 2029.

É preciso dizer o óbvio, para começar: estamos em ano eleitoral e – pasmem – eleições municipais são capazes de mobilizar mais gente e políticos do que as outras, como consistentemente sugerem os dados de comparecimento eleitoral. O noticiário se concentra em Brasília, ainda que a política brasileira seja – antes de tudo – municipal.

É no Congresso Nacional, mais especificamente na Câmara dos Deputados, que a realidade das eleições bate; tão forte e repentina quanto a Marcha dos Prefeitos, que capturou as atenções de ministérios, deputados e senadores durante a última semana, derrubando todas as outras agendas menos “urgentes”.

E o segundo semestre será deles, das dezenas de milhares de candidatos a prefeito, vereador e cabos eleitorais, uma máquina sustentada pelo necessário – mas absurdamente inflado – fundo eleitoral. Os deputados irão atrás, uma boa parte dedicada integralmente às eleições desde as festas juninas.

Com isso, o calendário legislativo já sugere que – após o recesso do meio do ano –, nada que não seja o Plenário funcionará de maneira regular na Câmara dos Deputados. Mesmo assim, à base de convocações para “esforços concentrados” e votações remotas, retirando em grande parte a perspectiva de discussão e participação no processo legislativo.

E isso não é exatamente um problema para o Planalto, que não precisará mobilizar e atuar nas trincheiras das comissões para evitar dores de cabeça, mas terá o efeito de concentrar ainda mais poder no Colégio de Líderes e em seu cabeça, Arthur Lira (PP-AL), presidente da Casa.

O aumento de Poder é, contudo, também uma armadilha para Lira, que terá menos espaço para distribuir benesses e manter seu amplo grupo de apoiadores contentes. Já há reclamações dos presidentes de comissões permanentes, decepcionados com o limitado espaço para atuar.

A cada dia, Lira está mais próximo de ser forçado a arbitrar a disputa por sua sucessão. Incapaz de ungir seu preferido, depara-se com uma forte rejeição a si próprio e uma possível rebelião entre alguns de seus apoiadores mais fiéis, que somados ao Planalto, poderiam ameaçar sua influência sobre o processo sucessório.

Não à toa, Lira deixou vazar à imprensa que teria oferecido a Lula o “poder de veto” sobre candidaturas de seu grupo, dividindo publicamente o fardo de arbitrar entre Elmar Nascimento (União-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), dos que têm seus nomes ventilados.

Ao Planalto, interessa minimizar o risco de um opositor liderar a Câmara, o que significaria problemas até 2029, mesmo em caso de vitória nas eleições de 2026, já que, desde Rodrigo Maia, espera-se por quatro anos de mandato ao menos para o posto. Portanto, a eleição de 2025 para a Mesa Diretora é quase tão valiosa quanto a municipal.

A delicada posição de Lira refletiu-se na definição dos grupos de trabalho designados para discutir as propostas de regulamentação da reforma tributária. Embora tenha sido feita sua vontade nos céus, aqui na terra a dificuldade de designar um relator e desagradar aliados foi tão grande, a ponto de levar à incomum afirmação de que todos serão relatores e posteriormente um será escolhido para finalizar o texto, terceirizando publicamente uma das principais prerrogativas da Presidência da Câmara.

Os incentivos estão dados para que Planalto e Lira se aproximem, mas não será um processo linear. As idas e vindas, temperadas por disputas municipais, serão a garantia de fortes ruídos e emoções até outubro, ao menos. Não faltará pauta-bomba no arsenal de Lira.