Maiores CEOs do mundo tiveram 9% de aumento de salários em 2022 enquanto trabalhadores tiveram corte de 3%
- No Brasil, a queda dos salários de trabalhadoras e trabalhadores foi de 6,9% no ano passado, enquanto acionistas receberam cerca de 24% a mais do que em 2021 (US$ 33,8 bilhões – US$ 27,3 bilhões).
- Mulheres e meninas trabalham 4,6 trilhões de horas todos os anos em atividades de cuidado sem pagamento.
- Acionistas de grandes empresas ganharam um recorde de US$ 1,56 trilhão em 2022, 10% a mais do que obtiveram em termos reais em 2021.
- A Oxfam demanda um aumento permanente de impostos sobre o 1% mais rico do mundo.
Os CEOs mais bem pagos em quatro países tiveram um aumento de 9% em seus salários em 2022, enquanto os salários de trabalhadoras e trabalhadores tiveram uma queda de 3,19% no mesmo período, revela nova análise da Oxfam neste Dia do Trabalhador. (Acesse aqui o relatório).
No Brasil, os salários de trabalhadoras e trabalhadores caiu 6,9% em média no ano passado, enquanto acionistas de empresas receberam US$ 33,8 bilhões no período, um aumento de 23,8% em relação a 2021 (US$ 27,3 bilhões).
Os números, ajustados pela inflação, são baseados em dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e agências governamentais de estatísticas.
Um bilhão de trabalhadoras e trabalhadores de 50 países tiveram um corte médio de US$ 685 em seus salários em 2022, uma perda coletiva de US$ 746 bilhões em salários reais (caso os salários tivessem sido reajustados pela inflação).
Mulheres e meninas trabalham pelo menos 380 bilhões de horas a cada mês em atividades de cuidado não remuneradas. Trabalhadoras frequentemente têm que trabalhar menos tempo ou abandonar seus empregos devido a essas atividades de cuidado não remuneradas. Elas também enfrentam discriminação, assédio e salários menores do que os recebidos pelos homens.
“Enquanto os executivos de grandes empresas lucram com aumentos de seus salários e dividendos de ações, a grande parte da população, que é trabalhadora assalariada, tem seus salários reduzidos e mal conseguem acompanhar o custo de vida em seus países. Anos de austeridade e ataques aos sindicatos aumentaram o fosso entre os mais ricos e o resto de nós. Essa desigualdade é inaceitável e, infelizmente, nada surpreendente”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
“O único aumento que a classe trabalhadora viu em 2022 foi o do trabalho de cuidados não remunerado, que recai majoritariamente sobre as mulheres.”
Trabalhadores perdem, empresários ganham
Enquanto a classe trabalhadora vê seu salário sendo reduzido ano após ano (mais de 10% na Suécia, 6,9% no Brasil, 3,2% nos Estados Unidos e no Reino Unido), os grandes executivos estão cada vez mais ricos:
- 150 dos principais executivos da Índia receberam em média US$ 1 milhão em 2022, um aumento real de 2% em relação a 2021. Um empresário indiano recebe em quatro horas mais do que o trabalhador indiano médio recebe em todo o ano.
- 100 dos principais CEOs dos Estados Unidos receberam US$ 24 milhões em média em 2022, um aumento real de 15% em relação ao ano anterior. O trabalhador médio dos Estados Unidos teria que trabalhar 413 anos para equiparar o que mais bem pago CEO do país recebe em 12 meses. Cinquenta porcento das mulheres negras dos Estados Unidos recebem menos de US$ 15 por hora.
- Os 100 mais bem pagos CEOs do Reino Unido receberam em média US$ 5 milhões em 2022 – um aumento real de 4,4% em relação a 2021. Eles ganham 140 vezes mais do que o trabalhador médio.
- Os mais bem pagos empresários da África do Sul receberam US$ 800 mil em média em 2022, 43 vezes o salário médio dos trabalhadores do país. O aumento real dos rendimentos dos empresários foi de 13% em 2022.
Os dividendos recebidos por acionistas em 2022 foi um recorde de US$ 1,56 trilhão, aumento de 10% em relação a 2021. As empresas dos Estados Unidos pagaram US$ 574 bilhões para seus acionistas, mais do que o dobro do corte feito sobre os salários reais dos trabalhadores do país. Acionistas de empresas brasileiras receberam US$ 34 bilhões, quase o mesmo montante do que trabalhadoras e trabalhadores do país tiveram em cortes em seus salários.
Esses pagamentos exorbitantes a acionistas beneficiam os mais ricos da sociedade, aumentando os níveis já altos de desigualdade. O 1% mais rico da África do Sul tem hoje mais de 95% dos títulos e ações de empresas do país. Nos Estados Unidos, o 1% mais rico detém 54% das ações no país.
No entanto, os impostos sobre a renda desses dividendos e ações, que ajudam a financiar serviços públicos como saúde e educação, vêm caindo ao longo dos anos – de 61% em 1980 para 42% hoje.
Leia mais
- O 1% mais rico do mundo embolsou quase duas vezes a riqueza obtida pelo resto do mundo nos últimos dois anos
- 100 dias de governo Lula: “Medidas urgentes contra as desigualdades estão em andamento”, diz Oxfam Brasil
- Oxfam sugere taxar fortunas bilionárias contra desigualdade
- Super-ricos devem ser tributados, indica relatório da Oxfam
- Desigualdade nas metrópoles: aumento das desigualdades marcou o ano de 2022, apesar de recuperação da renda
- Davos: a desigualdade extrema cresceu junto com a riqueza extrema
- O relatório da Oxfam e a batalha contra os empobrecidos. Artigo de Riccardo Petrella
- A Big Pharma e o relógio do apartheid pandêmico
- Milionários em Davos: “obriguem-nos a pagar mais impostos”
- 10 homens mais ricos do mundo têm riqueza equivalente a 3,1 bilhões de pessoas
- Cresce demanda no Brasil por fretamento e compra de aviões particulares
- Desigualdades, Oxfam: “2.153 super-ricos possuem mais do que outros 4,6 bilhões de pessoas. Enquanto os 50% mais pobres têm menos de 1%”
- Tributação dos super-ricos – Justiça fiscal urgente para combater a fome. Artigo de Maria Regina Paiva Duarte
- Por que ricos ficaram mais ricos e pobreza explodiu na pandemia?
- A subtributação dos super-ricos no Brasil
- “População pobre vai viver insegurança não só em 2022, mas em 2023”, alerta Tereza Campello
A reportagem é de Oxfam Brasil, 28-04-2023.
IHU-UNISINOS