A falta de atitude do governo federal em relação ao trigo está fazendo com que mais de 500 mil toneladas do produto estejam encalhadas no Paraná. Mesmo com preços já abaixo do custo de produção, os agricultores não conseguem arranjar compradores nacionais, que têm preferido importar o produto de países como a Argentina.
Com a proximidade da nova safra, está restando aos produtores armazenar o excedente da última safra em pátios, enquanto aguardam a realização de leilões oficiais, que só aconteceram até janeiro.
“O mercado está travado, por mais que o País produza menos do que consome”, lamenta o economista Pedro Loyola, da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
A produção nacional de trigo, na última safra, foi de cerca de 5,9 milhões de toneladas, e o Paraná respondeu por mais da metade dessa quantidade. Este ano, quase toda a safra, prevista em 3 milhões de toneladas, já está plantada no Estado. O clima melhor deve aumentar a produtividade, mas a área plantada diminuiu 16% em relação a 2009.
A redução na área tem, conforme a Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) vem divulgando, relação direta com os preços ruins e pode resultar, ainda, em problemas nas lavouras.
De acordo com um relatório do órgão, alguns produtores, desmotivados pelo mercado desfavorável, vêm conduzindo as lavouras com o mínimo de insumos. A prática, segundo a secretaria, “reduz o potencial produtivo e aumenta o risco, principalmente se ocorrerem problemas climáticos”.
A diminuição dos custos de produção é um meio que os agricultores têm usado para enfrentar a baixa rentabilidade. Enquanto a cotação da saca de trigo no mercado, no Estado, não passa de R$ 24, os preços mínimos que podem compensar a produção oscilam entre R$ 29 e R$ 33 – valor que, segundo Loyola, foi garantido pelo governo quando anunciou o plano para a última safra. “Agora tem que sair leilão, pelo menos até o final de junho”, alerta.
Argentina
O objetivo dos leilões, na modalidade Prêmio de Escoamento de Produto (PEP), cobrada pelos produtores, é viabilizar o escoamento da produção. Hoje, para estados da região Nordeste do País, por exemplo, compensa mais importar o trigo argentino do que comprar o produzido no Paraná.
Até o frete fica bem mais barato a partir do país vizinho, acostumado a exportar o produto. Loyola lembra que o transporte por cabotagem, no Brasil, exige navios de bandeira nacional, que são mais caros. Assim, escoar o produto pelo porto de Paranaguá se torna inviável, segundo ele.
Milho
O economista da Faep lembra que leilões como os que deveriam acontecer para o trigo vêm sendo realizados normalmente para o milho. Ele ressalta que há compradores para o produto, mas o preço, de R$ 14 por saca, não compensa, já que o custo da produção é de R$ 17,50, aproximadamente. Ainda assim, Loyola diz que os leilões têm sido insuficientes.
“Temos um estoque de 4 milhões de toneladas para ser escoado o quanto antes, mas os leilões semanais têm sido de 120 mil toneladas”, diz. A necessidade, cobra ele, é de que se aumente a quantidade para 300 mil toneladas por semana, no mínimo.