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Eleito no início desse mês presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), Anderson Teixeira diz que a categoria, com cerca de 16 mil profissionais, queria mudanças há muitos anos.

O processo eleitoral no Sindimoc foi ainda mais intenso com o clima de tensão instaurado entre as duas chapas após denúncia feita pela chapa de oposição, liderada por Teixeira, que gerou a prisão temporária do então presidente do sindicato, vereador Denílson Pires , do diretor Valdecir Bolette e do advogado do sindicato, Valdenir Dias.

Em entrevista para O Estado, Teixeira afirma que faltava coragem dos trabalhadores para enfrentar a gestão anterior, que permaneceu diversos anos à frente do Sindimoc. Ele tomará posse dia 11 de novembro.

O Estado – Sua chapa ganhou com 69,7% dos votos. Você esperava um resultado tão significativo para a chapa de oposição?

Anderson Teixeira – Na verdade o descontentamento já vem de muitos anos. Os trabalhadores queriam renovação, mudança e um sindicato que realmente se preocupasse com a categoria.

 

 

Víamos o descontentamento dos trabalhadores há muitos anos, tanto que todo mundo falava sobre isso nos bastidores, mas ninguém tinha coragem de chegar e se levantar contra o pessoal.

Houve também a questão da morte do meu pai (Almir Teixeira, o Zico, assassinado em 2009), que foi a pessoa que deu início a essa batalha. Então começamos a trabalhar para que isso fosse realidade, por isso já esperávamos essa resposta da categoria.

OE – Qual será a sua primeira medida como presidente do Sindimoc?

AT – A primeira ação será trabalhar para que as propostas de campanha sejam concretizadas. O objetivo está focado na campanha salarial, até porque já inicio meu trabalho próximo da data-base da categoria, que é em fevereiro.

Também iremos prestar maior assistência ao trabalhador na cesta básica e plano de saúde. Nossa meta é, com a primeira data-base, concretizar os primeiros passos das nossas promessas de campanha.

Temos 26 propostas que pretendemos trabalhar na nossa gestão. Dentre elas está a criação, dentro do Sindimoc, de um setor que cuide especificamente daquele trabalhador que está afastado, oferecendo terapias, além de assistência psicológica e psiquiátrica.

OE – Como vai fiscalizar a gestão dos recursos da administração anterior?

AT – A partir do dia 11 de novembro, quando assumirmos o sindicato, pretendemos ter uma empresa de auditoria idônea, que começará a fazer essa checagem já no primeiro dia de trabalho.

Até para que essas informações possam ajudar as investigações que continuam sendo feitas pelo Ministério Público, que por sinal já apontam fatos contundentes contra a outra diretoria.

OE – Um dos maiores problemas enfrentados pelos motoristas de Curitiba e região é a pressão gerada pelo cumprimento das tabelas de horários, inclusive com desconto em salários. Como vai tratar essa demanda?

AT – Trabalharemos junto com a Urbs (Urbanização de Curitiba S/A) para tratar esse assunto. Hoje a Urbs perdeu o poder de orientação que tinha. Antigamente ela orientava o motorista.

O fiscal explicava para o motorista a questão do atraso ou até mesmo colocava mais ônibus na linha. Mas hoje em dia a Urbs virou punitiva. O motorista chega a ter medo do fiscal.

Eles não querem ser vistos pelos fiscais por causa da multa. Para tratar disso, vamos ter que fazer um trabalho junto à Urbs, bem como criar dentro do sindicato um setor que faça o acompanhamento dessas multas e recursos.

OE – Em 2010 tivemos a primeira licitação para o transporte público de Curitiba. Isso pode ser bom para a categoria?

AT – Acredito que sim, pois a forma de negociação sai um pouco do poder, ou seja, entre e Urbs e prefeitura. Até porque a negociação agora é feita via sindicato patronal.

Isso permite uma ligação mais forte entre o sindicato obreiro e o patronal, o que pode facilitar um pouco essa negociação, uma vez que a prefeitura tem um tom mais político nessa história. Quando assumirmos o sindicato, o consórcio já vai estar com quatro dias de funcionamento.

OE – Vários motoristas relataram à reportagem durante cobertura das eleições, a dificuldade em se fazer greve em virtude da conexão entre a diretoria anterior e a prefeitura de Curitiba. Como vai tratar disso na sua gestão?

AT – Perdemos o direito a uma assembleia geral. Foi criada pela diretoria anterior a assembleia itinerante, na qual os delegados de base conversavam pessoalmente com os funcionários colhendo assinaturas.

Isso tira força da classe, porque não tem o encontro entre os trabalhadores para debate. Normalmente esse encontro acontecia em dezembro, o que facilitava até a assinatura que daria ao sindicato o poder de trabalhar para negociar a data-base.

Pretendemos retomar essas assembleias, para realmente ouvir o trabalhador e poder negociar com os patrões. Lembrando que a nossa luta não é por baderna ou vandalismo, mas pelos nossos direitos.

Se infelizmente tivermos que chegar a uma greve para que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados, vamos fazer. Mas isso depende de uma grande negociação. A greve é o último dos recursos.

OE – O histórico do Sindimoc é bem conturbado, houve inclusive o assassinato do seu pai ano passado. Qual é a razão dessa grande disputa existente entre os interessados em assumir o Sindimoc?

AT – Acho que a questão não é tanto em assumir o Sindimoc, mas se manter no poder. Querendo ou não, o sindicato era dominado por uma classe que dominava e barganhava concessões com a força.

Por isso, a categoria nunca era ouvida, pois os diretores barganhavam em benefício próprio. Acho que hoje a grande briga e o grande motivo para isso é esconder tudo que fizeram para se manterem na posição.

Quando instaurarmos uma auditoria, tudo que aconteceu ao longo da existência do Sindimoc virá à tona. A grande preocupação não é mais estar lá, mas sim o que pode ser descoberto.

É uma necessidade de subsistência. São coisas que podem surgir e prejudicar quem está lá. Sem contar a ascensão dos envolvidos no meio político. Esse é o grande chavão deles.

OE – A grande quantidade de recursos que giram em torno do Sindimoc também pode ser uma razão para esse clima tenso entre as duas chapas?

AT – O Sindimoc tem uma arrecadação próxima de R$ 10 milhões ao ano. Mas só estando lá saberemos realmente da onde vem esse dinheiro, se é dos empresários, de fundos assistenciais, plano de saúde ou da própria mensalidade dos sócios.

Vamos fazer um levantamento para saber se existe essa entrada de dinheiro e qual é essa entrada, pois até hoje ninguém ficou sabendo disso. Uma das grandes arrecadações do sindicato está no plano de saúde, que gira em torno de R$ 400 mil mensais.

Esse recurso deveria ser implantado no próprio plano de saúde, para que todos os trabalhadores recebessem esse atendimento. Será que esse dinheiro é excessivo, ou não?

Vamos descobrir essa movimentação a partir da entrada no sindicato. Além disso, como meio de inibir qualquer tipo de corrupção pelos meus próprios diretores, vamos apresentar mensalmente uma prestação de contas aos trabalhadores.

Teremos também uma auditoria anual para demonstrarmos a clareza do nosso trabalho. O objetivo não é entrar no sindicato para ter benefício próprio, mas para a categoria.

 Assim vou deixar bem claro ao trabalhador onde está sendo implantado o dinheiro, além de conseguir controlar muito mais fácil financeiramente no sentido de inibir uma corrupção, assim como houve no passado.

OE – Como está sendo a transição do Sindimoc para a sua chapa?

AT – Até o momento não existiu nenhuma movimentação nesse sentido. Vou entrar em contato com a diretoria atual para que se inicie o processo de transição na parte contábil e jurídica. Quanto antes iniciarmos essa transição, melhor para nós e para a classe.

OE – Como vê o interesse da chapa de situação em impugnar o processo eleitoral logo após o seu término?

AT – No dia da eleição tivemos uma ata que aponta os votos válidos de cada chapa, bem como uma parte dizendo que o processo transcorreu de forma tranquila, sem intervenções e pedidos de impugnação de ambas as chapas.

Nós temos esse documento assinado pelas duas chapas. A eleição foi feita de forma clara, com a presença do Ministério Público, Polícia Civil, Militar e Federal. Além de que foi a chapa de situação que administrou o processo eleitoral. Não existe razão para isso.