Os protestos ocorrem em um momento crucial, às vésperas de eleições regionais em regiões onde o apoio à AfD é mais forte.
por Cezar Xavier
Centenas de milhares de pessoas saíram às ruas em diversas cidades da Alemanha neste final de semana, participando de manifestações contra o extremismo de direita e em defesa da democracia. A mobilização, que se intensificou desde a semana anterior, foi uma resposta a uma reunião secreta envolvendo membros do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) e neonazistas. Estima-se que ao todo, 1,4 milhão de pessoas participaram dos protestos em mais de cem cidades alemãs, segundo os organizadores.
Muitos protestos precisaram ser interrompidos, por motivo de segurança, devido ao afluxo de manifestantes muito maior que o esperado. As pessoas sequer conseguiam sair das estações de metrô. As pessoas foram para as ruas com toda a família, apesar do inverno rigoroso que atinge a Europa.
A reunião secreta, realizada em novembro em Potsdam, veio a público recentemente, provocando indignação em todo o país. Durante o encontro, membros da AfD teriam discutido um plano para deportar milhões de estrangeiros, incluindo requerentes de refúgio e imigrantes. A proposta foi apresentada pelo líder extremista austríaco Martin Sellner, e a repercussão gerou uma onda de manifestações em todo o país.
Em Frankfurt, cerca de 35 mil pessoas se uniram a uma marcha em defesa da democracia, ocupando a praça central da cidade. Os protestos ocorreram de forma pacífica, de acordo com relatos policiais. Organizadores destacaram que o plano de deportação discutido na reunião secreta representa um ataque à coexistência na sociedade.
Na cidade de Hannover, o ex-presidente alemão Christian Wulff e o governador do estado da Baixa Saxônia, Stephan Weil, discursaram para aproximadamente 35 mil manifestantes na Praça da Ópera. Faixas com mensagens como “Somos diversos” e “Votar na AfD é tão 1933” foram levadas pelos participantes, referindo-se ao ano em que Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha.
Os protestos se estenderam por mais de cem cidades alemãs, incluindo Kassel, Wuppertal, Karlsruhe, Erfurt e outras, com cartazes erguidos com mensagens como “O fascismo não é uma alternativa”. Em Colônia, os organizadores estimaram a presença de 70 mil pessoas, enquanto em Bremen, 45 mil participaram do ato.
No sábado, uma marcha na cidade ocidental de Dortmund atraiu 30 mil pessoas, e em Stuttgart, 20 mil manifestantes se reuniram. Nurembergue, por sua vez, viu a participação de pelo menos 10 mil pessoas, enquanto em Halle (Saale), cerca de 16 mil saíram às ruas. A cidade de Koblenz registrou a presença de 5 mil manifestantes.
Os maiores protestos ocorreram em Munique e Berlim, onde as estimativas variam. Em Munique, a polícia local calculou a participação de 100 mil pessoas, quatro vezes mais do que o previsto pelos organizadores. Em Berlim, outros 100 mil se manifestaram em frente à sede do Bundestag, carregando cartazes com mensagens como “Contra a direita” e “Não há lugar para nazistas”.
A reação dos políticos alemães foi diversificada. O chanceler federal Olaf Scholz classificou qualquer plano de deportação como um “ataque contra a democracia”. A ministra do Interior, Nancy Faeser, ressaltou a localização da reunião secreta em Potsdam, próximo ao local onde o partido nazista coordenou a chamada “Solução Final”. Governadores e líderes de outros partidos políticos também se manifestaram contra o extremismo de direita.
Os protestos antifascistas expressam a preocupação crescente na Alemanha diante do ressurgimento de ideologias extremistas, e ocorrem em um momento crucial, às vésperas de eleições regionais em regiões onde o apoio à AfD é mais forte.
VERMELHO