NOVA CENTRAL SINDICAL
DE TRABALHADORES
DO ESTADO DO PARANÁ

UNICIDADE
DESENVOLVIMENTO
JUSTIÇA SOCIAL

Fundadores de empresas que ficam além de sua vida útil
 
POR QUENTIN HARDY
A indústria tecnológica fornece muitos produtos maravilhosamente racionais, com fria precisão. E isso às vezes parece surpreendente, diante de como algumas empresas de alta tecnologia são dirigidas. A emoção pode superar a razão, especialmente em questões como sucessão e governança corporativa.
O mundo tecnológico é rico em fundadores visionários e fortes líderes iniciais, aqueles que sonham produtos e estratégias que alteram o jogo. Ex-executivos muitas vezes são celebrados, e até mitificados, e com razão: a ideia certa pode tornar ricos os empregados e os acionistas.
Mas as companhias tecnológicas são muitas vezes notoriamente difíceis de dirigir. E às vezes esses líderes se apegam a visões datadas e sufocam a inovação. Às vezes, eles simplesmente não saem do caminho. Executivos promissores com novas ideias se aborrecem e saem.
“Ninguém quer falar sobre isso, mas os fundadores ficam tempo demais, e expulsam a nova geração de líderes”, diz Kevin Rollins, ex-executivo-chefe da Dell. “A culpa é realmente do conselho, que não administra a estratégia e insiste em um fundador cuja visão perdeu o gás.”
Rollins foi CEO da Dell de 2004 a 2007, quando foi deposto e substituído pelo fundador da companhia, Michael S. Dell. Este havia deixado o cargo de CEO para ser presidente do conselho -até que ele quis o antigo emprego de volta. Rollins, que recebeu dezenas de milhões de dólares como CEO, supervisionou uma série de lucros trimestrais decepcionantes, e o preço da ação da Dell caiu 9% durante seu mandato.
“Esse é o meu caso, mas também há o caso da Cisco, da Microsoft, da Research in Motion e da Yahoo”, diz Rollins.
“Você vai ver um grande problema de sucessão nos próximos três anos, e os conselhos administrativos provavelmente não farão nada para se preparar para a sucessão até que a próxima geração de líderes chegue e tenha problemas.”
Charles H. Giancarlo, diretor da Silver Lake Partners, uma empresa de capitais privados especializada em tecnologia, diz que a sucessão “tornou-se um assunto para a hora do almoço no Vale do Silício”.
Giancarlo passou quase 20 anos na Cisco Systems e se tornou o vice-presidente-executivo e principal diretor de desenvolvimento. Mas ele saiu em 2007 por discórdias sobre o desempenho do antigo CEO, John T. Chambers. Giancarlo diz que muitas empresas de tecnologia estão em um ponto de virada.
“As pessoas estão percebendo que as empresas passaram de tempos com uma liderança inacreditável, com equipes que tomavam as decisões certas, para empresas que se contorcem e vão a falência”, ele diz.
Tanto a Cisco como a Dell tiveram um desempenho abaixo do mercado nos últimos anos.
Segundo Rollins, a Dell recusou suas ideias de ir além dos PCs. Giancarlo diz que Chambers criou uma selva de conselhos que consumiam tempo e levavam a reuniões intermináveis.
“Os conselhos são como os ditadores organizam seus comandados”, diz Giancarlo. “Eles impedem que qualquer verdadeiro contestador se levante.”
Um porta-voz da Dell disse que com Michael Dell a companhia fez “um progresso significativo” na diversificação de seus negócios. “O senhor Dell recrutou a equipe de administração sênior mais forte, capaz e estável do setor”, escreveu o porta-voz da companhia em um e-mail.
Um porta-voz da Cisco notou que no início deste ano a companhia enxugou sua tomada de decisões e saiu de um negócio de câmeras ao consumidor, entre outras mudanças.
Jeffrey Sonnenfeld, professor de administração na Universidade Yale, diz que os conselhos das tecnológicas têm dificuldade para gerenciar os fundadores, já que esses executivos também têm um valor excepcional. “O conselho pode temer o fundador, mas tudo bem se ele estiver crescendo com a empresa”, disse Sonnenfeld.