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O acidente envolvendo um Ligeirinho da linha Colombo -CIC, que deixou duas pessoas mortas e 32 feridas, no último dia 10, na Praça Tiradentes, centro de Curitiba, levantou a situação de estresse vivenciada diariamente pelos motoristas do transporte coletivo da capital e região metropolitana.

Para o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), sintomas de estresse e problemas psicológicos são cada vez mais frequentes entre esses profissionais.

A constatação é do Centro Médico Ambulatorial (CMA) do Sindimoc, que diariamente atende motoristas com problemas de saúde. Atualmente, 800 funcionários, de um universo de 12 mil, estão encostados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Motoristas entrevistados pela reportagem afirmam que não conseguem cumprir horários estabelecidos, principalmente nos momentos de maior movimento. “Tenho 20 minutos para percorrer 20 quilômetros no meio desse caos que é o trânsito de Curitiba às 18h. Não tem como seguir essa tabela. Se atrasar um dia tudo bem, mas isso acontece diariamente. Se reclamamos eles afirmam que os outros motoristas conseguem. Assim não tem condições”, descreveu um motorista que preferiu não se identificar.

Enquanto o trânsito é o maior problema para boa parte dos motoristas, aqueles que dirigem e cobram ao mesmo tempo afirmam que o estresse é ainda maior. Segundo outro motorista, que também preferiu ficar no anonimato, é impossível ficar calmo nessas condições. “Se eu demoro um pouco para dar o troco já ouço os passageiros e motoristas de outros veículos reclamando. É difícil”, confessou.

Os motoristas vivenciam diariamente diversos tipos de pressão, “que vão desde o horário a ser cumprido até risco de assalto. A tabela utilizada atualmente é a mesma desde 1994, mas muita coisa mudou de lá para cá, principalmente o movimento no trânsito, implantação de radares e fluxo de veículos durante todo o dia”, declara o diretor do Sindimoc, Valdeci Bolete.

Além do estresse, Claudemir Jorge da Rosa, um dos diretores do CMA e membro do Sindimoc, ressalta outro problema enfrentado pelos motoristas. “Trabalho como motorista e cobrador de micro-ônibus e sei como a situação é difícil. Os motoristas reclamam muito de insônia. Aqueles que guiam o primeiro ônibus saem de casa por volta das 3h da manhã e aqueles que ficam com o último chegam por volta de 1h em casa. O sistema começa muito cedo e vai até muito tarde”, constata.

A Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), afirma que monitora e ajusta permanentemente a tabela de horários dos ônibus da Rede Integrada de Transporte (RIT).

Por meio de sua assessoria, a Urbs comparou a diferença na quilometragem rodada por dia em consequência das alterações. Em 2009, os ônibus da RIT rodaram uma média de 487 mil quilômetros por dia. A medição anterior apontava 484 mil quilômetros por dia. Segundo a Urbs, esse aumento é fruto das adequações feitas na tabela de horários.

Passageiros sofrem com superlotação dos veículos

Enquanto motoristas e cobradores reclamam de um lado, os passageiros impacientes questionam os atrasos de suas linhas do outro. Segundo eles, nos horários de maior movimento, é preciso esperar até dois ônibus passarem lotados para que seja possível embarcar.

“O maior problema na minha opinião está na demora dos ônibus. As vezes fico esperando muito tempo para conseguir embarcar. Sem contar que quando consigo preciso ir em pé”, afirma a secretária Tânia Gama.

Para Sonia da Veiga, que diariamente pega a linha Vila Guilhermina, na Praça Rui Barbosa, existem poucos ônibus nos horários de maior movimento. “Preciso esperar para conseguir entrar em um dos ônibus que vão para o sentido da minha casa. Já vi também muita falta de educação por parte dos motoristas e cobradores”, conta.

Para Bruna Melo, o melhor é chegar um pouco mais tarde do horário de maior fluxo. “Prefiro esperar um ônibus lotar para poder pegar o próximo. Se não fizer isso vou ter que percorrer todo o caminho em pé. Além disso, vejo problemas no cuidado dos motoristas. Acho que pela preocupação em seguir os horários eles acabam abusando da velocidade em alguns pontos”, relatou a passageira que diariamente pega a linha Dom Ático, na Praça Rui Barbosa.

A Urbs afirma que dimensiona a frota de acordo com o movimento de cada linha. Um itinerário que estiver com um micro-ônibus, por exemplo, receberá um veículo maior seguindo as orientações dos fiscais da Urbs. Nas linhas de eixo (Ligeirinhos e biarticulados), de forma diferente, a empresa disponibiliza carros extras de acordo com a necessidade.

Negociações

O metrô, que poderia ser uma das alternativas para a redução do movimento no transporte coletivo de Curitiba, ainda está sendo negociado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).

Por meio de sua assessoria, o órgão informou que está articulando com o governo federal a inclusão do projeto do metrô da capital no Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2). (LC)

Trabalhadores se queixam de pagar multas

O problema da pressão gerada pelo cumprimento da tabela de horários enfrentado pelos motoristas da Rede Integrada de Transporte (RIT) não atinge apenas a saúde desses profissionais.

Na maioria dos casos, quando os fiscais da Urbs registram algum atraso ou irregularidade, a multa é repassada diretamente ao motorista. De acordo com o Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), em 2009, foram recebidas, em média, 400 multas por mês.

Para o Sindimoc, o medo da multa não traz prejuízos apenas para os motoristas. “Essa pressão vem da própria Urbs, que faz com que o profissional trabalhe sempre preocupado em chegar no horário durante seu turno. Temos registros de multas aplicadas por causa de dois minutos de atraso, o que é descontado do próprio motorista”, afirma Valdeci Bolete, diretor do Sindimoc.

Segundo um motorista que preferiu não se identificar, “essa pressão faz com que a categoria seja mais agressiva no trânsito, o que abre margens para acidentes”, diz. Segundo o Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), entre janeiro e maio desse ano, foram registrados 316 acidentes envolvendo ônibus e micro-ônibus em Curitiba.

Quanto às multas, a Urbs afirma que quando o atraso não é justificado (acidente ou engarrafamento), a notificação é encaminhada para as empresas, que, por sua vez, avaliam se o pagamento será feito pelo funcionário ou por ela própria.

No entanto, segundo Ayrton Amaral Filho, diretor executivo do Setransp, existe uma negociação antes da destinação da multa. “Entendemos que a preocupação é que o sistema seja bem operado, mas infelizmente as multas acontecem. Quando o fiscal vê algo inadequado multa a empresa. Nesse caso a empresa chama e escuta a versão do motorista, faz uma defesa que é encaminhada para a Urbs, que aceita ou nega, definindo assim quem deverá pagar”, explica. (LC)