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Inteligência Artificial é programada para dificultar a concessão de benefícios.

A opinião é de Henrique Stefanello Teixeira, advogado, publicada por Jornal Extra Classe, 24-10-2022.

Cada vez mais a inteligência artificial deixa de ser assunto de ficção científica e passa a fazer parte do nosso cotidiano, interferindo diariamente nas relações de consumo, nas relações sociais por meio das redes e automatizando processos que antes eram realizados por seres humanos.

Se por um lado as previsões apocalípticas da literatura e do cinema ainda parecem longe de se concretizar, já é realidade que as máquinas podem nos prejudicar ao tomar decisões ao gosto de quem as programa.

Desde maio de 2022, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) implementou um novo sistema de análise dos pedidos de encaminhamento de aposentadorias, que através da Inteligência Artificial analisa individualmente os casos submetidos à Previdência Social. É esse programa computacional que filtra as informações e decide pela concessão ou negativa do benefício pretendido pelo segurado.

Fila diminui, mas indeferimentos aumentam

O resultado da implementação da tecnologia é alarmante, pois de cada 200 mil aposentadorias requeridas mensalmente, somente 50 mil são concedidas automaticamente pelo sistema responsável pelas análises. Isso quer dizer que de cada quatro pedidos, três são negados.

INSS negou mais de 1,14 milhão de solicitações de benefícios no primeiro trimestre deste ano, segundo o 27º Boletim Estatístico da Previdência Social (Beps).

Outro dado aponta que, de 2012 a 2018, a autarquia negava, em média, 3,4 milhões de benefícios por ano em todo o Brasil.

No entanto, desde 2019, os indeferimentos anuais aumentaram para 4,4 milhões, em média, demonstrando tratar-se de verdadeira política institucional um endurecimento da análise administrativa.

Por óbvio, que a implementação da tecnologia, diminuiu sensivelmente o tempo de espera para análise dos pedidos, pois tem a capacidade de realizar a avaliação de forma muito mais ágil do que a feita por um servidor, contudo, também é vista como responsável pelo aumento do número de indeferimentos.

O resultado disso, também repercutiu no número de recursos apresentados pelos segurados que tiverem as solicitações de benefício indeferidas e, consequentemente, um maior prazo para o início do pagamento das aposentadorias. Diminui-se a fila da análise e aumenta-se a fila dos recursos.

Análise feita pelo robô é superficial

Para uma análise eficiente e justa dos pedidos de concessão dos benefícios é fundamental que seja realizada uma avaliação pormenorizada da situação do segurado, o robô do INSS, entretanto, leva em consideração apenas as informações contidas no Cadastro Nacional de Informação Social (CNIS) e aquelas preenchidas de forma limitada no sistema.

Assim, aquelas situações que demandam de prova, como por exemplo, o tempo de trabalho como professor, tempo de atividade rural, ou de atividade especial, podem ser sumariamente ignoradas e implicar em sérios prejuízos para o trabalhador contribuinte.

Assim, é fundamental que para ter o benefício concedido tome-se o cuidado de juntar documentos da forma mais completa possível, a fim de demonstrar o preenchimento dos requisitos para aposentadoria, além de estar de acordo com os dados do Cadastro Nacional de Informação Social atualizados.

A busca por uma assessoria jurídica aumenta significativamente a chance de êxito, pois o advogado tenta antever as respostas possíveis que máquina irá utilizar, buscando suprir as lacunas com um preenchimento adequado das informações.

A novidade tecnológica não é má por si, uma vez que a Inteligência Artificial apenas permite que os sistemas técnicos percebam o ambiente que os rodeia, lidem com o que percebem e resolvam problemas, agindo no sentido de alcançar um objetivo específico. Não se trata, portanto, de uma versão burocrática da Skynet (Inteligência artificial que tenta dominar o mundo no filme o Exterminador do Futuro, 1984).

O problema, em verdade, é que o computador recebe os dados, processa-os e responde de acordo com parâmetros pré-definidos, por quem, atualmente, tem como política dificultar o acesso dos trabalhadores aos direitos sociais constitucionais.

IHU-UNISINOS

https://www.ihu.unisinos.br/623366-robo-do-inss-dificulta-concessao-de-beneficios-previdenciarios